DTM e Saúde Mental: a íntima relação entre a Disfunção Temporomandibular e o bem-estar psicológico

Estima-se que no Brasil aproximadamente 37% da população apresente ao menos um sintoma da DTM, aponta cartilha da Secretaria de Saúde do Distrito Federal
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A disfunção temporomandibular (DTM) é uma patologia orofacial relacionada a alterações articulares e/ou da musculatura, da articulação temporomandibular (ATM), sendo a dor um dos seus principais sintomas. Segundo a literatura, a DTM é uma patologia comum e multifacetada, seus sintomas clínicos e subclínicos afetam cerca de 50% da população geral, e tem uma prevalência maior nas mulheres.

Ana Maria Velly e colaboradores, em artigo publicado em 2011, apontam que os sintomas da DTM estão intimamente ligados a questões emocionais. Transtornos mentais, como estresse e ansiedade, muitas vezes se manifestam fisicamente, contribuindo para a manifestação dos sintomas da DTM. Segundo a Secretária de Saúde do Distrito Federal, estima-se que no Brasil aproximadamente 37% da população apresente ao menos um sintoma da DTM.

Para dialogar e esclarecer pontos importantes sobre o tema, o Lab Noticias conversou com o doutor em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial, Leandro Cardoso.

NC: Doutor, o que é e quais são as principais causas da disfunção temporomandibular?

LC: As disfunções temporomandibulares são alterações clinicas nas articulações temporomandibulares (ATM) e nos músculos mastigatórios. A etiologia, as causas da DTM são multifatoriais, vários fatores podem causar a DTM , pode ser por um trauma, bruxismo, estresse, ansiedade, má postura, pode ser por um problema de oclusão e alinhamento dos dentes. E pode ser também uma associação de fatores, que é o mais comum.

NC:Quais são os sintomas mais comumente associados à DTM e como as pessoas podem reconhecê-los?

LC: Os sintomas mais comuns e que a pessoas podem reconhecer são a dor ao mastigar, movimentar a boca, a limitação para abrir ou fechar a boca, os estalidos, ruídos nas articulações, as cefaleias (que são as dores de cabeça) também são comuns e fáceis de identificar. Os distúrbios do sono, a apneia e as alterações na rotina do sono são fatores que influenciam muito no bruxismo e consequentemente na DT. E algo que as pessoas não estão acostumadas, mas o zumbido no ouvido (uma coceirinha) também pode ser um sinal de DTM.  

NC: Qual é a relação entre estresse e ansiedade e o desenvolvimento da DTM?

LC:O estresse e a ansiedade geram o hábito, muitas vezes involuntário, de ranger e apertar os dentes, que é o bruxismo, além da má postura e alterações no sono. Todos esses fatores, como falado anteriormente, geram uma sobrecarga nas articulações e podem levar ao desenvolvimento da DTM.

NC: A OMS aponta que a pandemia da COVID-19 trouxe um aumento significativo nos casos de ansiedade e depressão, cerca de 25%. O senhor vê esse reflexo também nos casos de DTM?

LC: Sim, com certeza vemos esse reflexo. O afastamento das pessoas, o isolamento, a incerteza de como seria o tratamento da COVID, a grande perda de pessoas próximas, gerou muita ansiedade, gerou estresse, e também os fatores emocionais, depressão, tudo isso influenciou no desenvolvimento ou agravamento das DTMs durante esse período. Além disso, esse período de isolamento gerou também menos salivação, mais cárie e interrupção de tratamentos em andamento.

NC: Como a DTM tem essa intima relação e associação com outras patologias, acredito que seja comum que as pessoas, e até mesmo os profissionais, acabem demorando a associar os sintomas. Diante disso, quais são as possíveis complicações associadas à DTM se não for tratada de forma adequada e oportuna?

LC: O não diagnóstico ou a demora no diagnóstico da DTM vai influenciar clinicamente em alguns fatores. Primeiramente vai intensificar a dor, a cefaleia do paciente, a dor ao mastigar, o paciente vai ter uma dificuldade maior na alimentação. Outros fatores, estão relacionados às condições psicológicas do paciente, que podem se agravar ainda mais. Geralmente os pacientes de quadros depressivos que não descobrem a causa da dor, podem ter um potencial agravamento dessas condições psicológicas ou psiquiátricas. Além disso, o não diagnóstico e tratamento pode gerar um comprometimento, como o desgaste ou perfuração do disco e do osso da articulação, sendo necessário intervenção cirúrgica.

NC: Como é feito o diagnóstico preciso da disfunção temporomandibular?

LC: O diagnóstico é feito inicialmente com avaliação clínica, principalmente relacionado a articulação, oclusão e músculos orofaciais, que chamamos de avaliação clinica do sistema estomatognático. E posteriormente com exames, que são a tomografia e ressonância da ATM.  

NC: Qual é a importância da educação do paciente no manejo da DTM e Quais recursos ou estratégias educacionais são mais eficazes para ajudar os pacientes a entender e gerenciar sua condição?

LC: É importante o paciente ter conhecimento e associar que dores nos músculos, na articulação, dores de cabeça, zumbido, às vezes até mesmo dores no fundo dos olhos, dificuldade nos movimentos da mandíbula, têm a possibilidade de ser alteração na ATM. E saber também qual profissional procurar, pois muitas vezes o paciente procura um médico, um otorrino e não procura o dentista. Então é importante a conscientização dos sinais e sintomas da DTM e do profissional adequado para o tratamento.

NC: Quais são as opções de tratamento disponíveis para pessoas com DTM?

LC: É importante saber que o tratamento da DTM ele é multiprofissional, multidisciplinar, porque depende das causas e da gravidade dos sintomas. Inicialmente o tratamento é realizado com um dentista especialista em dor que vai orientar e educar o paciente com relação aos cuidados para o não agravamento dos sintomas. Se forem causas relacionadas ao bruxismo, ao apertamento, estresse, ansiedade, o tratamento é realizado em conjunto com psicólogos, psiquiatra, neurologistas com terapias psicológicas, o fisioterapeuta com exercícios para o relaxamento da musculatura orofacial e o cirurgião dentista especialista em dor com o ajuste de oclusão e a utilização de placas oclusais miorrelaxantes. Em alguns casos são utilizados ou associados aos tratamentos, medicações para controle da dor e da inflamação, como analgésicos, antiflamatórios não esteroides (AINEs) e relaxantes musculares. E os casos de traumas, desgastes ou perfuração do disco, envolvem intervenção cirúrgica como a Discopexia, a Artrocentese ou até mesmo cirurgia de prótese de ATM, que são realizados pelo cirurgião Bucomaxilo.

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