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Foto em detaque: Imagem ilustrativa produzida pelo Ideogram, uma ferramenta orientada por Inteligência Artificial.

A participação das mulheres na política brasileira tem aumentado. No entanto, o avanço acontece a passos de tartaruga. As mulheres têm o direito ao voto desde 1932. Mesmo assim, é uma área que continua sendo dominada pelos homens porque além de faltar espaço para a presença feminina, também falta interesse por parte das mulheres. A cientista política, Rejaine Pessoa, explica um fator determinante para essa realidade.

Rejaine Pessoa – Cientista Política. Foto: Acervo pessoal.

“Isso se dá pela questão cultural, por muitos anos as mulheres estiveram dedicadas aos serviços particulares como, cuidar da casa, da família, da criação dos filhos e os homens ao serviço público. Além disso tem também uma questão muito latente, por exemplo, a violência de gênero – mais difícil do que a mulher chegar no poder é a mulher conseguir permanecer, devido a grande violência e discriminação que há por parte dos próprios colegas. Esse é um fator principal que vem fazer com que a mulher desanime por muitas vezes em participar de um pleito eleitoral”, conclui a cientista.

Rejaine comenta ainda duas possibilidades para mitigar a ausência feminina na política.

“Conceder um espaço mais ameno, mais plural e mais diverso para que ao conseguir alcançar o objetivo, as mulheres possam sentir-se acolhidas e em capacidade de igualdade para exercer o seu mandato com eficácia e efetividade. Outra forma é falar mais de política em casa – preparar as jovens para que a aceitação no mundo político tenha um modelo de educação para a cidadania, onde a mulher possa encarar a política como um dos espaços no qual ela não só pode, como deve, ocupar para a melhoria de políticas públicas”, finalizou Rejaine.

Levantamento realizado pelo professor José Eustáquio Diniz, da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE, mostra que, já no fim do século XX, em 1994, as mulheres representavam apenas 8% das Assembleias Legislativas e somente 6% da Câmara dos Deputados. Conforme mencionado no início desta reportagem, o avanço acontece de forma lenta, visto que entre 2016 e 2022, século XXI, nas eleições gerais, houve apenas 33% de candidaturas femininas. Deste percentual apenas 15% foram eleitas em um eleitorado com predominância feminina.

Faz menos de um século que as mulheres conquistaram o direito de votar no Brasil. Mais precisamente, há 88 anos, em 24 de fevereiro de 1932, o voto feminino passou a ser assegurado pela legislação brasileira. A vitória foi conquistada depois de mais de 50 anos de mobilização e luta dos movimentos feministas, que já reivindicavam o direito no final do século XIX, antes mesmo da Proclamação da República.

Veja, abaixo, as datas das principais conquistas femininas e o pioneirismo das mulheres na política brasileira.

Principais conquistas Femininas

1827 – As mulheres brasileiras passam a frequentar colégios e cursar além da escola primária.
1879 – As brasileiras conseguem o direito de cursar faculdade no Brasil.
1910 – O Partido Republicano Feminino, que lutava pelo direito ao voto e à emancipação feminina, é formado.

1928 – Alzira Soriano de Souza é a primeira prefeita brasileira eleita.

1932 – Mulheres conquistam o direito de votar no Brasil.

1996 – O Congresso Nacional cria sistema de cotas para incentivar os partidos políticos a incluírem, pelo menos, 20% de mulheres em chapas eleitorais.

1997 – É aprovada a lei que garante que os partidos reservem, no mínimo, 30% de mulheres filiadas para concorrer às eleições. A lei que garante reservas aos partidos de, no mínimo, 30% de mulheres filiadas para concorrer às eleições é aprovada.

2010 – A primeira mulher é eleita presidente do Brasil.

1927
Celina Guimarães Vianna
Primeira eleitora do Brasil
Natural de Natal (RN)
15/11/1890 – 11/07/1972
A professora Celina Guimarães foi a primeira eleitora do Brasil. Se alistou aos 29 anos de idade, após a entrada em vigor da Lei Estadual nº 660, de 25 de outubro de 1927, que tornava o Rio Grande do Norte o primeiro estado a estabelecer a não distinção de sexo para o exercício do voto.

1928
Alzira Soriano
Ex-prefeita de Lajes (RN)
Natural de Jardim de Angicos (RN)
29/04/1897 – 28/05/1963
Luíza Alzira Soriano Teixeira foi a primeira prefeita eleita no Brasil e na América Latina. Tomou posse no cargo em 1º de janeiro de 1929.

1934
Carlota Pereira de Queirós
Ex-deputada federal
Natural de São Paulo (SP)
13/02/1892 – 14/04/1982
Carlota Pereira de Queirós foi a primeira brasileira eleita deputada federal.

1939
Auri Moura Costa
Natural de Redenção/CE
30/08/1910 – 12/06/1991
Primeira juíza brasileira (1939) e primeira desembargadora do Brasil (1968).

1945
Bertha Lutz
Ativista política e feminista
Natural de São Paulo (SP)
02/08/1894 – 16/09/1976
Redigiu e adotou a Carta das Nações Unidas e foi a única mulher da delegação brasileira.

1974
Eliana Calmon Alves
Ministra aposentada do STJ
Natural de Salvador (BA)
05/11/1944
Primeira mulher a assumir um cargo no Ministério Público Federal na região Nordeste.

1979
Eunice Michiles
Ex-senadora
Natural de São Paulo (SP)
10/07/1929
Eunice Michiles foi a primeira mulher a integrar o Senado Federal, em 1979, por ocasião da morte do titular da vaga, João Bosco de Lima.

1981
Laélia Alcântara
Ex-senadora Natural de Salvador (BA) 07/07/1923 – 30/08/2005
Primeira senadora negra no Brasil e a segunda mulher a ocupar cadeira no Senado na história republicana.

1982
Iolanda Fleming
Ex-governadora do Acre
Natural de Vila Castelo (AC), município atual de Manuel Urbano 20/06/1936
Primeira mulher a governar um estado brasileiro.

1990
Cnéa Cimini
Natural do Rio de Janeiro/RJ
03/03/1929 – 22/04/2008
Primeira ministra do Tribunal Superior do Trabalho – TST.

1992
Kátia Tapety
Vereadora de Colônia do Piauí
(1993 – 2004)
Natural de Oeiras/PI
24/04/1949
Primeira mulher trans a assumir mandato eletivo no Brasil.

1993
Regina Célia Ferrari
Presidente do TRE-AC
Natural de Uniflor(PR)
15/03/1960
Empossada no cargo de juíza de Direito substituta na 1ª Vara Cível da Comarca de Rio Branco (AC), após ser aprovada em primeiro lugar no concurso público.

2000
Ellen Gracie
Ministra aposentada do STF
Natural do Rio de Janeiro(RJ)
16/02/1948
Primeira mulher a se tornar ministra do Supremo Tribunal Federal – STF e a presidi-lo.

2010
Dilma Rousseff
Ex-presidente da República
Natural de Belo Horizonte (MG)
14/12/1947
Primeira mulher eleita para a Presidência do Brasil.

2011
Luciana Lóssio
Advogada
Natural de Brasília (DF)
18/07/1974
Primeira mulher a ocupar cadeira do Tribunal Superior Eleitoral – TSE destinadas para juristas.

2012
Cármen Lúcia
Ministra do STF
Natural de Montes Claros (MG)
19/04/1954
Primeira mulher a presidir o Tribunal Superior Eleitoral – TSE.

2014
Maria Elizabeth Guimarães
Ministra do STM
Natural de Belo Horizonte (MG)
29/01/1960
Primeira mulher a presidir o Superior Tribunal Militar (STM) após 206 anos de existência daquela Corte.

2016
Laurita Vaz
Ministra do STJ
Natural de Anicuns (GO)
21/10/1948
Laurita Vaz foi a primeira mulher a presidir o Superior Tribunal de Justiça (STJ) e o Conselho da Justiça Federal (CJF), no biênio 2016-2018.

2018
Rosa Weber
Presidente do TSE e ministra do STF
Natural de Porto Alegre (RS)
02/10/1948
Primeira mulher a comandar um processo de eleições gerais no país.

2019
Joênia Batista
Deputada Federal
Natural de Murupu (RR)
20/04/1974
Primeira mulher indígena a tomar posse como Deputada Federal.

2020
Maria Cristina Irigoyen
Natural de Melo (Uruguai)
21/12/1952
Primeira mulher a presidir o Tribunal Superior do Trabalho – TST.

2022Primeiras Mulheres trans a serem eleitas para a Câmara dos Deputados
Erika Hilton
Deputada Federal de São Paulo (2023 – atualmente)
Natural de Franco da Rocha (SP)
9/12/1992
Negra e transvestigênere, foi a mulher mais bem votada em 2020 em todo o país, a mais votada do PSOL e é a primeira trans eleita para a Câmara Municipal paulistana, com mais de 50 mil votos.

2022Primeiras Mulheres trans a serem eleitas para a Câmara dos Deputados
Duda Salabert
Deputada Federal de Minas Gerais (2023 – atualmente)
Natural de Belo Horizonte (MG)
02/05/1981.

2023
Sônia Guajajara
Ministra de Estado
Natural da Terra Indígena Arariboia, Amarante do Maranhão (MA)
06/03/1974

Primeira mulher indígena a exercer o cargo de Ministra de Estado.

Linha do tempo

Fotos e fonte: Portal TSE Mulheres

Em Goiás: uma Casa, 41 parlamentares, 4 mulheres

A Assembleia Legislativa de Goiás agora conta com quatro deputadas, um número duas vezes maior do que na legislatura anterior. A nova bancada feminina é formada por Bia de Lima (PT), Rosângela Rezende (AGIR), Vivian Naves (Progressista) e Zeli Fritsche (UB).

Apesar desse aumento, os dados revelam que, no jogo político do Parlamento goiano, as mulheres ainda estão longe de atingir um nível de representação justo e adequado.

Na Câmara dos Deputados, a bancada feminina alcançou 91 cadeiras. Dessas, seis são goianas. O crescimento foi de 18% de mulheres eleitas nesse cargo considerando que em 2018, foram 77 deputadas eleitas.

Eleições Municipais

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a maioria da população de Goiás é composta pelo sexo feminino, ou seja, 50,3% mulheres e 49,7% homens.

Porém, ainda assim, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 85,8% dos prefeitos eleitos no estado são homens e, apenas, 14,2% são mulheres. Dos 246 municípios goianos, apenas 33 elegeram mulheres para comandar o Executivo.

Na última eleição que aconteceu em 2020, das 881 candidaturas a prefeito apenas 106 foram de mulheres. E, no que diz respeito às candidaturas para vice-prefeito, dos 906 candidatos, 177 foram mulheres. Para vereador, dos 23.141 candidatos, apenas 8.827 foram candidaturas femininas.

Em Goiânia, capital do Estado, apenas cinco mulheres foram eleitas, totalizando 5% do total de 35 assentos destinados aos vereadores. São elas: Luciula do Recanto (PSD) com 5.982 votos; Sabrina Garcêz (Republicanos) com 5.891; Gabriela Rodart (PTB) com 3.476; Leia Klebia (Podemos) com 3.222 e Aava Santiago (PSDB) com 2.865 votos.

Em Aparecida de Goiânia, segundo maior município do Estado, dos 25 vereadores, apenas duas são mulheres. São elas: Camila Rosa (UB) e Valéria Pettersen (MDB).

Em entrevista para a jornalista responsável por esta matéria, a vereadora Camila Rosa falou sobre a sua trajetória na política.

“Com muita dificuldade, eu concluí meu primeiro curso superior – Serviço Social – quando tinha de 19 para 20 anos. Sempre tive o sentimento de querer ajudar o próximo. Dando sequência aos meus estudos, fiz minha pós-graduação em Saúde da Família e, inspirada pelas lições de empatia e comunidade que aprendi com minha família, aceitei o desafio político com um forte desejo de causar um impacto positivo na minha cidade”, comentou a vereadora.
Camila Rosa (UB) – Vereadora por Aparecida de Goiânia. Foto: Acervo pessoal / Instagram.

Para Camila, trabalhar em meio onde há predominância masculina é de extrema importância para garantir a representatividade feminina em pautas de interesse das mulheres.

“Um exemplo disso é a pauta relacionada a Endometriose. Conseguimos levar aos olhos da Secretaria de Saúde que existem pessoas que sofrem com essa doença. Que elas existem, têm CPF e precisam de um atendimento adequado. Então se tivéssemos mais mulheres na política, com certeza conseguiríamos avançar de forma mais rápida em muitas outras pautas que são abstratas e desassistidas”, finalizou a parlamentar.
 

Goianas na urna

O Goianas na Urna é um projeto que nasceu no final de 2018 com o compromisso de fortalecer a democracia, combater candidaturas laranjas e aumentar a representatividade das mulheres nos espaços de poder em Goiás.

O projeto seleciona e oferece formação técnica e prática para mulheres que querem ser lideranças políticas em todo o estado de Goiás, possibilitando conexão com uma rede de lideranças femininas que permite potencializar as chances dessas mulheres serem eleitas.

Yolanda Sulino, Líder de Comunicação do Goianas na Urna, falou sobre a participação das mulheres na política goiana, e a representatividade feminina em cargos de poder.

“Em Goiás, apenas 4% da Assembleia Legislativa é composta por mulheres, nenhuma mulher preta. Nos treze municípios com maior número de eleitores do estado (Goiânia, Aparecida de Goiânia, Anápolis, Rio Verde, Luziânia, Águas Lindas de Goiás, Trindade, Valparaíso de Goiás, Senador Canedo, Formosa, Itumbiara, Catalão e Jataí) temos uma média de 3 cadeiras ocupadas por mulheres nas casas legislativas municipais. Goiânia e Anápolis lideram com apenas cinco mulheres eleitas em cada casa legislativa. Esses números mostram que as mulheres não são representadas nestes espaços e o foco do nosso trabalho no Goianas na Urna é transformar esta realidade”. Finalizou.
Yolanda Sulino – Líder de Comunicação do projeto Goianas na Urna. Foto: Acervo pessoal.

Yolanda reitera que as mulheres ocuparem espaços que são majoritariamente masculinos envolve muitos receios e os medos vão desde a rede de apoio não acolher o turbilhão de coisas que a vida pública exige, passando por questões familiares, e vão até receios relacionados a violência de gênero e de ameaça à sua integridade física.

“Marielle Franco é um caso marcante porque passa essa mensagem: que as mulheres não podem ocupar esses espaços ou o mesmo pode acontecer com você. É evidente que em nossa sociedade existe uma articulação para que a presença feminina na política seja minada, e enfrentar isso requer coragem, uma rede de apoio, conhecimento, além de recursos financeiros, capacidade de mobilização e influência”, explicou a líder.

O Goianas na Urna promove processos seletivos para mulheres engajadas na política com trilhas de formações políticas, preparação para campanhas eleitorais e criação de rede de voluntárias engajadas com a equidade de gênero.

“Ao contrário do que ouvimos, que mulheres não têm interesse em se envolver na política, o nosso projeto já recebeu mais de 150 mulheres interessadas em receber formações. Quando olho para nossa rede, fica evidente que há muitas mulheres interessadas em ser parte integrante da política, não apenas em Goiânia, mas em Goiás e em todo o Brasil”. Finalizou Yolanda.
O projeto Goianas na urna já recebeu mais de 150 mulheres interessadas em receber formações. Foto: Acervo do projeto Goianas na Urna.

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