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Ana Karoline Nascimento

Nos últimos anos, o Brasil tem enfrentado um desafio crescente e preocupante: o aumento das taxas de suicídio. Recentemente, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgou um estudo na revista científica The Lancet Regional Health – Américas, desenvolvido por pesquisadores do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia), em colaboração com pesquisadores de Harvard.

Nessa pesquisa, dados revelam uma tendência alarmante, evidenciando a necessidade urgente de intervenções eficazes e políticas públicas voltadas para a prevenção do suicídio e o apoio à saúde mental. Entre diversos tipos de notificação apresentadas durante o estudo, as autolesões aumentaram em 29% ao ano, correspondendo a faixa etária de 10 a 24 anos.

O estudo também examinou, durante esse período, os números de suicídios em relação à raça e etnia no Brasil. Observou-se um aumento anual das taxas de notificação de lesões autoprovocadas em todas as categorias analisadas – incluindo indígenas, pardos, descendentes de asiáticos, negros e brancos.

Segundo o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, o número de suicídios no país vem aumentando de forma consistente, afetando diversas faixas etárias e regiões. Ainda na pesquisa, em 2019, os casos de suicídio no Brasil foram de 6,7 para cada 100.000 habitantes. Para ter uma ideia, isso equivale a um pouco mais da metade da capacidade de público de um estádio de futebol de pequeno porte, como o estádio Antonio Accioly, em Goiânia. Enquanto a taxa global de suicídios reduziu 36% entre 2000 e 2019, a América Latina registrou um aumento preocupante de 17%.

Infelizmente, os números são alarmantes e a tendência é de aumento. Apenas entre 2011 e 2022, foram registrados 147.698 casos de suicídio no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), o que equivale a quase a população inteira de cidades menores como Resende (RJ), que possui cerca de 130.000 habitantes. Durante o estudo, houve um aumento nas taxas, chegando ao equivalente de 3,70%, ou seja, passando de 5 para apenas 7,3 por 100.000 habitantes no ano retrasado. Entre as regiões do país com os maiores índices, o destaque vai para o Centro-Oeste, que lidera com 5,76%, seguido pelo Sudeste com 3,67%, a região Norte com 3,61%, o Nordeste com 3,48%, e, por último, a região Sul com 2,62%.

Diferença entre homens e mulheres

Em relação aos dois sexos, o suicídio de homens foi quatro vezes mais frequente do que o de mulheres em 2022 (11,68 por 100 mil habitantes e 3,06, aproximadamente). Esses números ocorreram entre a faixa etária de 25 a 59 anos, ou seja, 9,59 por 100 mil habitantes, seguida pelos cidadãos acima de 60 anos, chegando a 8,60 por 100 mil pessoas. Ainda de acordo com a pesquisa, foram apresentadas as taxas em relação as outras idades:

  • 10 a 24 anos – 6,14%
  • 25 a 59 anos – 3,08%
  • 60 anos ou mais – 2,21%

Taxas entre negros e indígenas causam preocupação

Dentre os números apresentados, os índices de suicídio entre raça e etnia se tornaram preocupantes e alarmantes nos últimos anos. Todavia em 2020 e 2021, os números deram um grande salto, principalmente entre a população negra e os povos indígenas. Confira os dados abaixo:

Negros

  • 2020 – 4,88 por 100.000 habitantes;
  • 2021 – 6,32 por 100.000 habitantes.

Indígenas

  • 2020 – 17,71 por 100.000 habitantes;
  • 2021 – 20,46 por 100.000 habitantes.

Apesar disso, os anos de pandemia da Covid-19 foram particularmente difíceis para as populações negras e indígenas, revelando desigualdades preexistentes. Sendo assim, apenas em 2022 os povos indígenas apresentaram também as maiores taxas de suicídio entre os brasileiros, chegando a 16,58 por 100.000 pessoas no mesmo ano.

Fontes: Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) / The Lancet Regional Health – Américas

Autolesão: método de suicídio

Conhecido como um sinal de alerta significativo, a autolesão, também considerada como automutilação, é um comportamento em que uma pessoa causa dano deliberado ao próprio corpo, muitas vezes como uma forma de lidar com emoções intensas ou situações estressantes. De acordo com a pesquisa, esses métodos corresponderam 88,5% dos casos ao longo dos anos, entre eles:

  • Enforcamento – 69,1% – 130.701 casos;
  • Armas de fogo – 8% – 11.745 casos.

Segundo dados do Sistema Nacional de Armas (Sinarm), em 2023 foram cadastradas cerca 20.822 novas armas de fogo para defesa pessoal, número considerado inferior em relação às 111. 044 armas que foram contabilizadas apenas em 2022.

De acordo com a Polícia Federal (PF), este é o menor número de armas de fogo registradas para defesa pessoal desde 2004, quando foram cadastradas 4.094 armas. Em 2023, as pistolas são as armas mais registradas por civis na PF, totalizando 14.277 cadastros. Na sequência, aparecem as espingardas, com 2.309 registros, e os rifles, com 2.215.

Outros métodos – Intoxicação:

  • X-60 a X69 (drogas, exposição a pesticidas, produtos químicos e substâncias nocivas não especificadas) – 11,5% – 16.997 casos;
  • Drogas diversas – 4,6% – 6.736 casos;
  • Agrotóxicos – 3,6% – 5.317 casos.

Redes sociais: ajuda ou atrapalha?

Atualmente, as redes sociais desenvolvem e desempenham um papel fundamental em nossa sociedade, sendo importante em alguns. Portanto, ela pode ser considerada um desafio para os profissionais da área da saúde, sendo tanto positivo quanto negativo, dependendo de vários fatores, incluindo o uso da plataforma, o tipo de conteúdo consumido e a qualidade das interações.

“Muitas vezes, a gente tende a perceber nas redes sociais apenas momentos felizes, momentos que são estereotipados e considerados como verdadeiros, mas que não são. Então, acaba que as pessoas mais debilitadas, com mais facilidade para desenvolver doenças depressivas, se tornam mais frágeis. Isso facilita o desenvolvimento e a intensificação dos sintomas da depressão. As redes sociais são um meio de comunicação que pode ajudar muitas pessoas, mas também pode trazer isolamento e intensificação de sentimentos de inferioridade, inveja e questões de valores”.
Jessyca Borges, especialista em Neuropsicologia, em entrevista ao Lab Notícias.
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Conforme dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que mais de 800 mil pessoas morrem no mundo por suicídio. Em nosso país, os crimes virtuais não passam em branco, pois além do Cyberbullying, as pessoas costumam consumir conteúdos negativos (notícias ruins, discursos de ódio), que causam vício e distanciamento do indivíduo com o resto da sociedade. No mundo, o suicídio é a segunda causa de morte entre jovens entre 15 e 29 anos, só perdendo para acidentes de trânsito.

Créditos: Ana Beatriz Barbosa / Instagram

Depressão: o mal na vida do brasileiro

A depressão é uma das principais causas subjacentes do suicídio, representando um fator de risco significativo e muitas vezes crucial. Entender essa relação é fundamental para a prevenção eficaz e para a implementação de intervenções adequadas.

“Quando uma pessoa está com sintomas depressivos, é mais difícil identificar o problema no início porque os sintomas são leves. Por exemplo, se a pessoa estiver sozinha, isso se torna ainda mais difícil. Geralmente, ela deixa de fazer as coisas que gosta, sente tristeza e angústia recorrentes, para de comer, tomar banho, tem dificuldade de se alimentar e de dormir. Todo o seu sistema é afetado. Esses são alguns sintomas da depressão. Nos casos mais severos, onde os sintomas são mais agravantes, a doença se torna recorrente por mais de duas semanas, apresentando esses mesmos sintomas todos os dias.”
Jessyca Borges, especialista em Neuropsicologia, na mesma entrevista.
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Além de apresentar sintomas graves e preocupantes, a depressão, quando identificada deve ser tratada imediatamente. Segundo a Neuropsicóloga, existem diversos tipos de depressão, entre elas, a distimia, questões hormonais, físicas e, sendo causadas principalmente por alguns fatores diferentes (vida, genética, ambiental). Portanto, ainda possuem aquelas que são causadas por alguma doença grave familiar ou até por uso de medicamentos, em decorrência de algum erro médico.

Se você ou alguém que você conhece está passando por um momento difícil, saiba que ajuda está disponível. Não hesite em procurar apoio emocional e conversar com alguém de confiança. Ligar para o Centro de Valorização da Vida (CVV) pelo número 188 pode ser um passo importante. Você não está sozinho.

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