Conheça o impacto das mulheres no esporte a motor

Representatividade feminina: desafios e conquistas no mundo do automobilismo
Tempo de leitura: 10 min
Ana Karoline Nascimento

No dia 08 de março, celebramos o Dia Internacional da Mulher, uma data que busca resgatar e lembrar o real significado da luta por direitos femininos. Elas têm desempenhado papéis fundamentais no mundo do automobilismo, desafiando estereótipos e superando barreiras para deixar sua marca em um domínio historicamente dominado por homens.

Desde os primórdios da indústria automobilística até os circuitos de corrida mais renomados, elas têm se destacado como engenheiras, pilotos, mecânicas, e em uma série de outras funções cruciais. Seja nas pistas competindo em alta velocidade, nos laboratórios desenvolvendo tecnologias inovadoras ou nos bastidores gerenciando equipes, as mulheres continuam a desafiar expectativas e a impulsionar o progresso dentro desse emocionante e dinâmico setor.

Maria Teresa de Filippis

Considerada a primeira mulher a correr na Fórmula 1, Maria Teresa disputou cinco provas oficiais na categoria durante as temporadas de 1958 e 1959. Seu melhor resultado foi no Grande Prêmio da Bélgica de 1958, quando chegou em 10º lugar com uma Maserati, com apenas os cinco primeiros da prova pontuando. Sua carreira durou pouco tempo, e em 1959, ela deixou as pistas, casou-se e teve uma filha. Tornou-se vice-presidente do International Club of Former F1 Grand Prix Drivers e presidente do clube de Maserati. Faleceu em 2016, deixando um importante legado.

Leila Lombardi

Foi a única mulher a pontuar na Fórmula 1 durante o Grande Prêmio da Espanha de 1975, disputado no Circuito de Montjuich, no dia 27 de abril. Sua estreia na Fórmula 1 foi no Grande Prêmio da Inglaterra, em Brands Hatch, em 20 de julho de 1974, com um carro da Brabham, mas não da equipe principal de Bernie Ecclestone, que tinha como pilotos o argentino Carlos Reutemann e o brasileiro José Carlos Pace, com modelos BT-44 e motor Cosworth, enquanto Lella correu com um BT-42, também com motor Cosworth. Leila faleceu aos 50 anos, em 1992, vítima de câncer.

Divina Galica

Antes de participar da Fórmula 1, Divina disputou três edições das Olímpiadas de Inverno. No automobilismo, ela esteve inscrita em três provas entre 1976 e 1978, mas jamais conseguiu tempos para alinhar no grid. 

Desiré Wilson

A piloto sul-africana participou entre os anos 1978 e 1980, conquistando apenas uma vitória na categoria durante a temporada de 1980. Ainda no mesmo ano, tentou se classificar para o Grande Prêmio da Grã-Bretanha, mas não conseguiu tempo suficiente e acabou sendo eliminada. Em 1981, disputou o GP da África do Sul, abandonando após um acidente, mas a prova não foi válida.

Giovanna Amati

Considerada a última mulher a participar de uma prova de Fórmula 1 e após testar pela Benetton em 1991, foi titular da Brabham no início da temporada 1992. Infelizmente, não conseguiu se classificar para nenhuma das três provas nas quais foi inscrita e acabou perdendo a vaga no time para o britânico Damon Hill. Marcada por ter sido vítima de um sequestro na infância, a italiana seguiu a carreira pós-F1 em categorias de turismo.

Stock Car, Fórmula 4 Brasil…

Considerada a principal categoria do automobilismo nacional, a Stock Car Pro Series é um exemplo de representatividade feminina no esporte. Na engenharia mecânica temos diversos nomes populares, entre elas, Rachel Loh. Engenheira da Ipiranga Racing e natural do Rio de Janeiro, é conhecida por ser a única mulher em sua área de atuação na categoria, deixando claro sua paixão pelo esporte a motor.

Créditos da imagem: Rachel Loh / Instagram

“Nós nos vimos isolados, fazendo só reuniões online, e começamos uma série de palestras com equipes, empresas, grupos estudantis. Neste momento percebi que não bastava eu ser uma mulher, uma mãe, no automobilismo, mas que era importante eu ensinar, educar, puxar outras mulheres comigo”, afirma Rachel em entrevista ao site Viemar Automotive.

Já nas categorias de base, temos outro nome destaque: trata-se de Erika Prado. Natural de São Paulo, ela é conhecida por seu trabalho na Fórmula 4 Brasil, atuando como engenheira de dados na equipe da Cavaleiro Sports e também como fundadora do projeto Girls Like Racing (GLR).

Créditos da imagem: Nara Martins

“A gente precisa entender o quanto é diferente as oportunidades para homens e mulheres e a partir do momento que temos esse entendimento, preciso trazer mais mulheres comigo. Eu não posso esquecer de onde vim e as dificuldades que passei e isso é muito importante. O Girls Like Racing nasceu da necessidade de mulheres de criar um ambiente seguro não só para expormos nossas opiniões e conhecimentos, mas falar de um esporte que a gente gosta”, declarou Erika em entrevista ao podcast Jornal do Paddock.

Erika Prado (esquerda) e Rachel Loh (direita) ao lado do Safety Car rosa da Stock Car – Créditos: Erika Prado / Instagram

Ambas são responsáveis por promover diversos projetos de imersão no automobilismo, incluindo, a GLR que possui uma parceria com a Ipiranga Racing que tem como principal objetivo incentivar e trazer meninas de diferentes áreas de atuação para conhecer os bastidores e preparação de tudo que acontece em um fim de semana da Stock Car.

Rachel também integra a Comissão Feminina de Automobilismo (CFA) da Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA). A comissão é presidida pela piloto Bia Figueiredo. Juntas, elas alavancam projetos para engajamento feminino no automobilismo, como por exemplo, o FIA Girls On Track.

Por falar em símbolo de liderança, temos Glauce Schutz. Ela é CEO da Império Endurance Brasil e responsável por uma das principais categorias do automobilismo brasileiro. Gaúcha e natural de Cachoeira do Sul, desde criança sempre foi apaixonada por jornalismo e hoje também atua na área de Assessoria de Comunicação.

Créditos da imagem: Glauce Schutz / Instagram

“Nosso maior desafio não só como mulher, mas de todo mundo, é essa questão de abrir mão de muitas coisas para viajar, participar das etapas e ter essa disponibilidade. Durante o ano, vamos fazendo tantos compromissos durante os fins de semana que faz com que estejamos ausentes de outras atividades que não sejam profissionais. Ou seja, ter que colocar o trabalho muitas vezes em primeiro lugar é uma das coisas que é o maior desafio, na minha opinião”, afirma Glauce em entrevista ao mesmo Jornal do Paddock.

Categorias femininas

Em 2022, a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) anunciou ao mundo a criação da F1 Academy, uma nova categoria 100% voltada para as meninas que sonham em chegar ao topo do esporte. Além disso, a categoria conta com cinco equipes: ART Grand Prix, Campos Racing, Rodin Motorsport, MP Motorsport e Prema Racing. Com um contrato válido até 2024, cada equipe seria constituída por três pilotas, totalizando 15 competidoras.

A F1 Academy seria uma porta de entrada para diversas outras competições do automobilismo, como a F3, F2 e F1. Ela tem como principal objetivo tornar o esporte mais acessível e competitivo para mulheres de diferentes nacionalidades.

Para a alegria dos brasileiros, em 2024, teremos nossa primeira representante na categoria feminina. Trata-se de Aurélia Nobels, uma jovem belga-brasileira que foi a única mulher a participar da F4 Brasil em 2022 e conseguir uma vaga na Ferrari Driver Academy. Em 2023, ela disputou a F4 Italiana pela Prema Racing.

Créditos da imagem: Scuderia Ferrari Driver Academy

Pouco antes de encerrar a temporada de 2022 na F4 Brasil, Aurelia alcançou mais uma vitória em sua carreira. Ela foi anunciada como a vencedora do programa FIA Girls on Track – Rising Star (em português significa “garotas na pista – estrelas em ascensão”). O programa é uma parceria da FIA com a Scuderia Ferrari, que visa inspirar e lançar competidoras no mundo automobilístico, promovendo a igualdade de gênero nas pistas, desde o karting até a tão sonhada Fórmula 1.

Segundo o Globo Esporte, outra categoria fundamental na história do automobilismo foi a W Series. Considerada 100% feminina, ela foi criada pela advogada Catherine Bond-Muir, de 55 anos. Ela trabalhou com propriedade intelectual e se especializou em direito esportivo. Entre os anos de 2021 e 2022, o Brasil pode se orgulhar de mais uma brasileira que escrevia sua história na W Series.

Estamos falando de Bruna Tomaselli, que fez sua primeira temporada competindo pela Veloce Racing. A catarinense foi a única Latino-Americana do grid e conquistou a vaga após participar de uma seletiva mundial. No ano seguinte, Bruna teve passagem por outra equipe na categoria: a Racing X.

Créditos da imagem: W Series

Ainda segundo o GE, infelizmente, competição chegou ao fim em 02 de outubro de 2022, após três temporadas disputadas. O desfecho precoce da categoria foi devido a uma crise financeira causada pela pandemia da Covid-19 e por patrocinadores que acabaram não dando um apoio financeiro, que seria essencial para a sobrevivência da categoria, que entrou em administração judicial em 15 de junho de 2023.

Projetos Sociais

Sobre a inclusão social no esporte, de acordo com a ESPN Brasil, em julho de 2021, a Mercedes AMG Petronas em parceria com o heptacampeão da Fórmula 1, Lewis Hamilton, criaram um fundo de investimento inicial de 20 milhões de libras (R$ 142 milhões) destinado a projetos sociais. O objetivo da parceria é promover a inclusão e combater o racismo na categoria mais popular do automobilismo.

A própria Mercedes tem como objetivo ampliar a taxa de funcionários racializados de 3% para 25% até 2025. A equipe deu início ao projeto Ignite, enquanto o piloto anunciou o lançamento da instituição Mission 44, iniciativas que pretendem trabalhar para a capacitação de pessoas negras e racializadas em cargos científicos e tecnológicos no esporte a motor.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *