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Ana Karoline Nascimento

No início de maio, mês que remete ao inverno em Goías, recebi uma resposta a uma vaga de estágio a qual eu candidatei. Fiquei muito feliz com a resposta e fui até o local no dia 10 de maio, às 8h30 da manhã. Acabei chegando um pouco atrasada, pois o trânsito de Goiânia estava um caos a essa hora do dia, mas pelo menos consegui adiar a reunião para as 9h.

O nervosismo e a ansiedade toma conta da gente, porque fica aquela dúvida no ar se você vai conseguir responder todas as perguntas ou se insegurança vai falar mais alto. Chegando lá, pedi desculpas pelo atraso e a moça explicou os requisitos da bolsa de estágio. A vaga era para trabalhar na redação de um site popular em todo o centro-oeste, conhecido por fazer matérias sobre notícias e turismo. O lugar ficava localizado no Centro, o que dá uma distância de exatamente 8 Km da minha casa e o jeito era pegar dois ônibus todo dia, às 6h da manhã.

Para a minha surpresa, passei na vaga e nessas horas, o sentimento era só de alegria e vontade de começar a minha tão sonhada rotina de estagiária, aguentando a cara feia do povo no ônibus pelos próximos seis meses seguidos.

Como eu não sabia andar de transporte público, então meu pai me ensinou o trajeto certinho que eu teria que seguir todos os dias, já que o mesmo dominava a técnica de rodar a cidade e reclamar da ignorância do governo.

E vamos para o primeiro dia! Não consegui dormir bem a noite, porque tava com ansiedade atacada e geralmente não consigo comer nada no dia seguinte. Corri para o terminal que ficava a uns 10 minutos da minha casa e ainda consegui chegar atrasada novamente. Quem vive ou depende de ônibus, sofre bastante. Bem, chegando lá procurei um computador pra mim e esperei a menina me enviar as pautas para eu escrever. Minha frustração foi que eu fiquei mais ou menos umas 2h sentada sem fazer nada e olhando para o teto, aguardando a abençoada me enviar as coisas, pois eu não tinha o contato dela.

Por volta de umas 11h a bendita mulher finalmente me manda um “Olá” e me deseja boas-vindas, ou seja, só comecei a trabalhar de verdade quase perto do meu horário de almoço, que era a partir de meio dia. Para agilizar tudo, pulei o horário do almoço e terminei minha primeira pauta às 14h da tarde, ou seja, pelo atraso no envio da pauta e pegando as manhas do site ainda, cheguei em casa umas 16h. Que abuso moral!

Nunca acumulei muita coisa para fazer. Buscava sempre estar com as pautas prontas ao final da semana. Mas não: pisava o pé em casa e já tinha umas 500 mensagens do rabugento do chefe cobrando todo mundo pela pauta chata que me obrigava a ficar uns dois dias fora do meu horário ajeitando o texto para agendar as publicações pelo META.

A rotina ao longo dos dias mudou, mas o serviço e o abuso moral com o tal do estagiário aumentaram. Aquela conversa de trabalhar fora do horário existe sim e é exaustivo, pelo simples fato de as empresas não entenderem que o estudante de qualquer curso também tem uma vida, além do estágio.

Uma amiga da faculdade passou por uma experiência parecida em outro jornal em que ela estagiava. Recebia pouco, mas fazia todo serviço que um profissional contratado da empresa executava. A bolha uma hora estourou e ela pediu para sair, pois estava bastante sobrecarregada até nos finais de semana e feriados, trabalhando o dia todo e chegando em casa só a noite.

Em uma pesquisa divulgada no ano passado pelo Centro de Integração Empresa-Escola (Ciee) dados mostram que, no primeiro trimestre de 2022, o Brasil tinha 726,6 mil estagiários. O número representa, segundo o estudo, um crescimento de 18,2% em comparação com o mesmo período de 2021.

O estágio é o primeiro contato dos estudantes com o mercado de trabalho, sendo essencial para adquirir experiência e evolução do profissional. Onde trabalhei, eles não se importavam com ninguém, o foco era sempre entregar as matérias pendentes e às vezes, quando eu estava saindo do serviço e até a hora de eu chegar em casa, meus superiores me apressavam para terminar a matéria que só ia ao ar, em alguns casos, apenas no final de semana.

Para não ter que gastar dinheiro com folhas salariais, as empresas resolvem contratar profissionais mais “BARATOS”, ou seja, nesse caso os estagiários. Uma vez que só necessitará custear o valor mensal da bolsa-auxílio, que na grande maioria dos casos é irrisório. Esse profissional está coberto pelos direitos trabalhistas previstos na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), tais como 13º salário, férias, depósito de FGTS, aviso prévio, dentre outros direitos reservados aos trabalhadores que possuem a Carteira de Trabalho estipulada pela CLT. 

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