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mulher grita na janela
Foto: ROBSON FERNANDJES/AE

Você já parou para pensar o quanto de verdade há nas notícias que você consome diariamente? Será que as informações que chegam até você são analisadas de forma crítica ou tendem a reforçar suas crenças, valores e gostos pessoais? Em um mundo onde a imprensa exerce uma influência direta sobre nossa percepção da realidade, é crucial questionar até que ponto estamos sendo informados ou estamos sendo guiados pelo interesse da emissora em audiência.

Em 13 de outubro de 2008 iniciou-se o sequestro tão famoso de Eloá Cristina Pimentel, uma jovem de 15 anos que foi mantida em cárcere privado por 5 dias, pelo seu ex-namorado Lindemberg Alves Fernandes. O caso em questão mobilizou as equipes de jornalismo de São Paulo, que acompanharam de perto as negociações da polícia e as investigações que apuraram a responsabilidade sobre a morte da adolescente.

Tamanha a interferência da mídia, que foi criticada por ter interferido diretamente na ação policial. Temos como um grande exemplo, o programa “A Tarde é Sua” da RedeTV!, onde a apresentadora Sônia Abraão entrevistou Lindemberg por telefone duas vezes, bloqueando a linha de comunicação do criminoso com a polícia. Apenas para se promover nacionalmente.

“Nossa equipe estava atrás do telefone da casa de Eloá. Ligamos e ele atendeu. Aceitou falar, e o repórter Luiz Guerra gravou a matéria. O Lindemberg assistiu o programa e, quando nossa repórter ligou novamente, disse que queria falar ao vivo porque estava preocupado. Não queria que o Brasil pensasse que ele era bandido”, disse Sônia Abraão, em entrevista ao UOL, em 2014.

“De jeito nenhum [me arrependi], fiz uma cobertura perfeita, isso que as pessoas não aceitam”, disse ao Morning Show. Mais uma vez, deixando claro a sua falta de respeito sobre vida da vítima.

O caso revela mais do que o trágico fim de uma jovem: expõe o impacto devastador da imprensa quando transforma vidas em entretenimento. Até que ponto, não só nesse caso mas em tantos outros, a cobertura jornalística se envolve em investigações e negociações delicadas?

No entanto, a cobertura jornalística da Globo também ajudou a identificar erros na operação policial. Na discussão em questão sobre o culpado da morte da jovem. A polícia declarou ter invadido o local do sequestro após terem ouvidos tiros, que subsidiaram a morte de Eloá e o ferimento de sua amiga Nayara. Porém, uma gravação exibida no Jornal Nacional em 18 de outubro de 2008, mostrou que os tiros foram disparados somente após a explosão da porta, o que indica que as negociações poderiam ter sido continuadas.

Desde a televisão e os jornais impressos até as redes sociais, o poder da imprensa em moldar a percepção pública é inegável. Afinal, somos o que consumimos e acreditamos naquilo do que nos alimentamos diariamente. 

E com esse poder em mãos, a imprensa utiliza o sensacionalismo como uma ferramenta de manipulação em massa. O caso de Eloá, onde a mídia interferiu diretamente em uma situação de alta tensão, mostra o quão doentio pode ser a busca pela audiência. 

A tragédia do caso Eloá não apenas chocou o país, mas também revelou como o sensacionalismo jornalístico pode se sobrepor ao bom senso e à responsabilidade. 

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