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O filme Feios, baseado no livro de Scott Westerfeld, oferece uma visão perturbadora de uma sociedade onde a estética não é apenas valorizada, mas imposta de forma radical, com uma crítica incisiva à obsessão pela perfeição e ao conformismo que ela gera.

Foto: Rolling Stones Brasil

Nele, todos os jovens devem passar por uma transformação aos 16 anos, tornando-se “Perfeitos”. Mas o que começa como uma promessa de pertencimento se revela uma armadilha para a individualidade. O que parece ser uma solução para as inseguranças da adolescência acaba por se tornar um pesadelo de conformidade e controle social.

Jornada de Autodescoberta

A direção de McG é marcante, utilizando uma estética visual limpa e simétrica, que paradoxalmente reflete tanto o desejo de harmonia quanto a perda de identidade. Tally, interpretada por Joey King, representa bem essa luta interna: a jovem que, inicialmente, anseia pela transformação e pela aceitação do grupo, mas que logo começa a perceber as implicações da uniformidade imposta.

É fácil se identificar com ela, pois sua jornada de autodescoberta e resistência é algo universal. A busca por ser quem realmente somos, em meio a pressões sociais e externas, é algo com o qual todos já nos deparamos em algum momento de nossas vidas.

O contraste entre o mundo “Perfeito” e a “Fumaça“, a comunidade rebelde onde Tally encontra um novo modo de viver, é o ponto alto do filme. De um lado, um estilo de vida mecanicamente perfeito, mas vazio e impessoal; do outro, a liberdade, mas também os riscos de viver de forma “imperfeita”. O romance entre Tally e David interpretado por Keith Powers, embora um pouco clichê em alguns momentos, serve como um símbolo da resistência, como se o amor e a conexão humana mais genuína pudessem ser a chave para escapar da máquina de padronização.

O filme não se limita a criticar a sociedade superficial; ele levanta questões mais profundas sobre controle e manipulação. O procedimento que transforma os jovens em “Perfeitos” não é só físico, mas também mental, uma intervenção no córtex cerebral que elimina qualquer traço de questionamento ou rebeldia.

A Dra. Cable, interpretada por Laverne Cox, é a personificação do controle frio e calculista, a opressora que vê na uniformidade a chave para a estabilidade, mas que, ao mesmo tempo, desumaniza todos ao seu redor.

Essa crítica à manipulação tecnológica e ao conformismo gerado pelos padrões de consumo é uma reflexão poderosa, que nos faz pensar: até que ponto estamos, hoje, sendo manipulados por um sistema que impõe normas e desejos quase impossíveis de se alcançar?

Mas…

Nem tudo no filme é bem executado. O desenrolar da trama, principalmente no que diz respeito ao procedimento de transformação dos “Feios”, é um pouco apressado. A maneira como a revelação da manipulação mental é feita parece apressada, e o confronto final com o sistema de poder acaba não tendo a profundidade que a história merecia. Algumas motivações dos antagonistas e dos rebeldes poderiam ter sido melhor exploradas. Isso dá a impressão de que o filme quis resolver tudo rápido demais, deixando algumas pontas soltas.

A conclusão, no entanto, é brilhante. Tally, ao ser deixada em um limiar entre o “Perfeito” e o “Imperfeito”, é um símbolo de resistência. Sua cicatriz, preservada como um sinal da sua identidade intacta, nos lembra que não somos produtos de um sistema, mas seres com histórias e vivências próprias. Esse toque final, que mantém Tally com um pé fora do mundo controlado e outro dentro, nos faz refletir sobre a fragilidade de uma sociedade que tenta apagar nossas marcas pessoais em nome de uma “estabilidade” artificial.

Considerações Finais

Feios, mais do que uma distopia juvenil, se apresenta como um espelho inquietante de nossa própria sociedade. A busca pela perfeição estética, pela conformidade com padrões impostos, está mais perto de nossa realidade do que gostaríamos de admitir. A verdadeira pergunta que o filme nos faz é: até que ponto estamos dispostos a abrir mão de nossa própria identidade em nome da aceitação e da aparente perfeição? Essa é uma questão que, talvez, nunca devêssemos deixar de nos perguntar.

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