Quem realmente paga a conta da tarifa mínima do iFood?

Na mira da Justiça, iFood levanta dúvidas sobre os reais beneficiados pelas cobranças da plataforma
fev 18, 2025 , , ,
Tempo de leitura: 3 min
Foto: Sérgio Lima/ Poder 360/ Divulgação

Nas últimas semanas, o iFood foi alvo de questionamentos legais sobre sua prática de cobrança da tarifa mínima para pedidos. O caso ganhou destaque após uma ação movida pelo Ministério Público do Estado de Goiás, que considerou a prática abusiva e comparável à venda casada. De acordo com a denúncia, consumidores eram forçados a gastar mais do que desejavam para atingir o valor mínimo exigido pela plataforma. O iFood, por sua vez, alegou que a medida é essencial para cobrir os custos operacionais dos restaurantes parceiros. Mas será que a maior foodtech da América Latina está mesmo preocupada com os estabelecimentos ou essa justificativa mascara outros interesses?

Para entender melhor, é importante analisarmos o modelo de negócios do iFood. A plataforma cobra taxas que variam entre 12% e 27% sobre cada pedido realizado, além de uma mensalidade que pode variar entre R$ 100 e R$ 130 por restaurante. A tarifa mínima, segundo a empresa, seria uma forma de garantir que os pedidos viabilizem os custos operacionais dos estabelecimentos. Porém, essa alegação levanta algumas dúvidas.

Se o objetivo principal fosse proteger os restaurantes, o valor arrecadado pela tarifa mínima seria inteiramente revertido para eles. Mas isso acontece? O iFood não detalha de forma transparente como esses valores são repassados ou em que proporção os restaurantes realmente se beneficiam.

Caso a tarifa mínima fosse retirada, o impacto financeiro sobre os restaurantes poderia ser repassado de outras formas. Por exemplo, com a redução das taxas cobradas pela plataforma ou com a implementação de modelos mais flexíveis de parceria. No entanto, o iFood opta por manter uma estrutura inflexível que beneficia mais a sua própria operação do que os parceiros comerciais.

Outro ponto que não pode ser ignorado é o papel monopolista que o iFood ocupa no mercado de delivery. Como líder absoluta na América Latina, a empresa dita as regras do jogo, muitas vezes deixando restaurantes e consumidores sem opções reais de negociação. A tarifa mínima, nesse contexto, não é apenas uma questão de custo, mas também de poder. Restaurantes menores e consumidores ficam reféns de uma plataforma que controla grande parte do mercado,o que dificulta a concorrência e limita as alternativas.

Embora o discurso do iFood enfatize a proteção dos restaurantes parceiros, é difícil não questionar se essa é realmente a principal preocupação da empresa. Como líder no setor, o iFood tem como prioridade sua própria lucratividade e viabilidade. Ao estabelecer um valor mínimo, a plataforma garante que cada pedido realizado seja financeiramente vantajoso para ela, independentemente de como isso afeta consumidores ou estabelecimentos menores.

A tarifa mínima, portanto, parece mais um mecanismo de proteção da própria operação do que uma ferramenta genuína para apoiar os parceiros. Em vez de se preocupar com os restaurantes, a prática beneficia uma estrutura de mercado já concentrada e reforça as desigualdades do setor.


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