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O futebol é paixão, rivalidade e festa. Ou pelo menos deveria ser. No início do mês, o clássico pernambucano entre Santa Cruz x Sport foi manchado pela violência entre as torcidas organizadas antes mesmo de a bola rolar dentro de campo. Entre a pancadaria dos baderneiros – que não podem ser tratados como meros torcedores -, ocorrida no meio da rua e em plena luz do dia, estavam até mesmo crianças.

Como resultado da briga generalizada, ao menos 14 pessoas foram levadas feridas ao hospital, perdendo a oportunidade de assistir o aguardado jogo. A comunidade também foi afetada: em meio às cenas de depredação e correria, que aconteceram no Recife e em Regiões Metropolitanas, comerciantes se viram na obrigação de fechar as portas para evitar ainda mais caos.
O episódio lamentável, que deveria ser inimaginável em um evento esportivo, escancara uma realidade dura: no Brasil, ainda confundimos rivalidade com violência. O que deveria ser apenas uma disputa saudável e um espetáculo apresentado dentro das quatro linhas, se estende para as arquibancadas, redes sociais, praças, terminais, ruas e diversos outros locais escolhidos como pontos de encontro de quem estraga e banaliza a imagem da torcida no futebol.
Como um problema de segurança pública, os grandes confrontos, que antes eram marcados pela emoção de dois times de tradição e história dividindo o estádio, precisaram ser repensados. O incidente em Pernambuco reacendeu um debate inevitável: estamos realmente preparados para a volta das duas torcidas nos clássicos? No caso de Goiânia, a resposta parece clara: ainda não.
A discussão se tornou ainda mais atual com o último duelo entre Vila Nova x Goiás, pelo Campeonato Goiano. Levada para o Estádio Serra Dourada, palco dos maiores jogos do estado desde sua inauguração em 1975, a partida gerou debates antes mesmo de acontecer. Houve até uma tentativa de permitir a presença das duas torcidas, mas a ideia foi logo descartada diante dos riscos envolvidos.
Sob mando de campo do Colorado, torcedores esmeraldinos chegaram a pressionar a diretoria do clube para tentar a liberação de um público misto, mas não obtiveram sucesso. A cúpula alviverde optou por não insistir na questão, por não considerar o momento adequado, deixando a decisão nas mãos do Ministério Público.
A ideia de um estádio dividido, com as cores e os cantos das duas torcidas, é sedutora, especialmente do ponto de vista de quem realmente acompanha, torce e quer prestigiar de perto. Mas na prática, os riscos ainda superam os benefícios. O esporte deve ser um espetáculo para todos, mas é preciso garantir que a segurança esteja em primeiro lugar.
A proibição da torcida visitante nos clássicos goianos, em vigor desde 2017, não aconteceu por acaso. Foi uma resposta necessária após uma sequência de brigas generalizadas, agressões e até ameaças a jogadores. Adeptos de Atlético Goianiense, Vila Nova e Goiás já protagonizaram inúmeros confrontos intensos dentro e fora dos estádios – especialmente os dois últimos.
O caso mais recente no Recife só reforça que a rivalidade, quando mal administrada, vira combustível para a barbárie. Se lá, onde já existia um histórico de torcida mista nos anos atuais, a situação fugiu do controle culminando na proibição total da presença do público por cinco jogos, por que Goiânia deveria correr esse risco?
Parece que, neste caso, os bons estão pagando pelos erros dos maus. No entanto, o buraco é muito mais profundo do que se imagina e afeta diversas esferas da sociedade, refletindo seus problemas. O desejo de ver um clássico goiano com torcedores adversários convivendo em paz, entendendo que uma camisa não define caráter nem vale mais do que a vida e vibrando lado a lado ainda está distante da nossa realidade.
Antes de pensar nessa mudança, é preciso garantir que a paixão pelo futebol não continue perdendo para a violência. Enquanto as brigas e confusões continuarem sendo parte da equação e ingredientes desses jogos, a volta das duas torcidas é, não só ousadia, como irresponsabilidade.
Foto em destaque: Arquivo Gfut/ Ministério Público de Goiás