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Tayná Freitas

Essa semana eu comecei Muay Thai. Sempre quis aprender uma luta, um esporte novo, eu sou fissurada em exercício físico — e a crônica de corrida mostra isso. Porém, eu nunca tinha tentado verdadeiramente aprender a lutar.

Seja por motivos financeiros ou por péssimas experiências com outras lutas, sempre acabei deixando só na conta do desejo. Mas essa semana eu chutei o balde e fui pra primeira aula, que é ofertada na minha academia, como parte da mensalidade.

Foi um dos grandes pontos altos do meu dia, mas eu peguei o bonde andando. O professor não parou pra ficar perguntando meu nome nem se apresentou. Assim que ele chegou, já começou passando exercício, demonstração, chuta assim, soca desse jeito, esquiva daquele.

Eu, completamente inexperiente, fui tentando do jeito que dava. Errando base de pé, dando soco fraco, chutando mal. Mas me divertindo.

A segunda aula foi bem parecida — alonga, começa. Claro, o professor explicava qual movimento a gente tinha que fazer, como fazer a sequência, mas não era aula de aprender nome de soco. Não era aula que você vai receber tratamento especial por saber tudo — ou por saber nada. E, sabe, é bom. Isso cria uma unidade dentro de uma turma completamente diversa.

Mas eu continuava errando, e na terceira aula não foi diferente. Erro após erro, o professor já entendeu que eu não pego as coisas de primeira, e explica três, quatro, quantas vezes for necessário para mim. Demonstrando, com paciência.

As aulas foram ótimas, e eu amei cada segundo. Mesmo machucando a mão — e esporte de contato é isso, é preparar o corpo para se machucar —, eu continuei voltando e planejo ir nas próximas aulas. Porém eu cheguei em casa pensando “nossa, eu sou um fracasso”.

Não era necessariamente um pensamento ruim, mas aquela ciência de que você é completamente, terrivelmente péssimo em algo. Ser ruim em seu mais puro estado, sabe? Até que eu comentei com alguém e a pessoa me falou “Tayná, você começou agora.”

E foi aí que eu me toquei — por que eu estou esperando ser boa em algo que eu nunca fiz na vida?

Errar e ser corrigido não é a coisa mais divertida do mundo, mas não tem como a gente esperar saber tudo logo da primeira vez. Seja nas aulas de Muay Thai, seja no primeiro relacionamento, na primeira vez dirigindo ou fazendo aquela receita que você viu na internet que parece super fácil, até você tentar e ver que nem sabe ferver água direito.

A gente tem essa ideia errada de que temos que ser bons em tudo o que fazemos — e não apenas isso, mas sermos bons de imediato. Talvez a raiz desse pensamento vem lá de quando estávamos aprendendo tabuada ou regra de três, conceitos tão simples, mas que pareciam tão distantes para aprender na tenra infância.

Errar é permitido, e é melhor errar tudo de uma vez, sermos o pior possível logo de primeira (desde que isso não fira as leis ou alguém). O começo é o momento de aprender e errar tudo quanto possível.

É aquilo, não tem como aprender algo se você acha que sabe tudo. E a minha pergunta da última crônica permanece: “onde foi parar o prazer de fazer algo só por fazer?”. Talvez nesse lugar a gente encontre o motivo porque a gente se cobra tanto.

Ao invés de ficar focando no erro, é melhor olhar para o que aprendemos disso. Poxa, errei tudo quanto é soco e chute. Mas eu aprendi a base certa. Levei alguns socos sem querer, mas aprendi a me esquivar. Eu cometo muitos erros, ruim. Mas abre oportunidades para muitas correções, e consequentemente, muitos acertos, bom.

É que nem quando a gente é criança e a mãe fala “sai daí, menino, que você vai cair”. Aí você ignora ou não escuta, e quando vê, tá no chão chorando porque caiu do sofá. Mas na próxima você já entende: não é pra subir e ficar em pé no sofá. E se subir, aprende a descer ou lida com o choro.

Começar algo novo — do Muay Thai a subir em um lugar antes não explorado, como o sofá — demanda coragem. É se arriscar em algo desconhecido, com circunstâncias desconhecidas e consequências que a gente não imagina.

Errar é quase garantido, e continuar errando conforme você descobre mais coisas é bem desanimador e cansativo, mas a gente não pode só desistir. O que teria sido de nós se os gregos não insistissem na tabuada? Lá na frente a gente vai perceber que os erros de agora nos fizeram aprender o acerto e firmar isso na cabeça. E agora temos novos erros para cometer — e novos acertos para aprender.

E se a gente errar lá na frente? Tenta de novo. Cansou? Come, dorme, descansa. Se você achar que vale a pena, tenta de novo depois, pede ajuda, vê onde errou e como que faz certo.

Se não quiser continuar, parte pra próxima. Você não vai gastar sua vida aqui insistindo em algo que não dá certo nunca, né? Vai ver você pode ser extremamente bom em outra coisa, mas você só tá com medo de tentar. Com medo de errar. Todo mundo erra e a vida não precisa ser tão séria assim.

Mas tente, e tente direito. Dê seu máximo. Assim você vira pra trás e fala “errei, mas tentei”.

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