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Sinval Lopes da Silva Júnior, atualmente o assessor de comunicação do Governo de Goiás, é um jornalista, produtor, repórter e editor de jornais, formado na Unifasam, com passagens pela TV Bandeirantes e pelo Sistema Sagres de Comunicação. Na TV Bandeirantes, Sinval foi produtor de reportagem, com experiência em coordenação de estúdio, edição de texto e editor-chefe do programa Chumbo Grosso, onde chegou a ser apresentador por um tempo. No Sistema Sistema Sagres de Comunicação, ele atuou como estagiário nas funções de repórter, produtor e redator da web, onde teve um programa todos os sábados na rádio chamado Conexão Sagres, na Rádio Sagres AM 730, com duração de duas  e meia com as principais notícias da semana. Por meio desta entrevista, ele contou como foi sua trajetória no jornalismo, desde a escolha do curso até sua chegada a assessoria de comunicação do Estado, e também falou sobre seu objetivo com seu ingresso em uma pós-graduação em ciência política. 

Foto: Imagem do Instagram pessoal do entrevistado-sinvallopesjr

O que te levou a cursar jornalismo ?

Então, desde muito cedo eu já tinha a pretensão de iniciar uma carreira no jornalismo por conta do meu ativismo social. E no jornalismo, eu consegui encontrar o meu propósito no sentido de dar voz, de conceder voz às pessoas que estão precisando serem ouvidas, principalmente pelo Estado, pelo município, em relação aos direitos sociais que, na teoria, é muito belo, mas na prática, infelizmente, uma boa porcentagem das pessoas não consegue ter.

Então, o que me motivou a escolher cursar uma faculdade de jornalismo foi o meu amor pelas ciências sociais que envolvem os direitos do cidadão. Por isso que eu escolhi o jornalismo. Na verdade, eu não diria nem que eu escolhi o jornalismo. Eu diria que o jornalismo me escolheu e me deu a oportunidade de lutar pelos direitos das pessoas.

Qual foi o sentimento quando você apareceu na TV pela primeira vez ?

A primeira vez que eu apareci na televisão, eu chorei. Porque era um sonho, era um objetivo que parecia muito distante, mas que eu tinha muita fé. Desde o primeiro dia na faculdade de jornalismo, eu sabia que o que eu queria era televisão. E eu consegui ainda mais, consegui ser editor- chefe, consegui ser produtor executivo, consegui ser repórter nacional da Band. Então, pra mim, é um sentimento de orgulho, de paixão mesmo.

Porque pra você estar na televisão, você tem que ter muito amor. Porque os bastidores da TV nem sempre são fáceis. Às vezes você apura um fato e em menos de uma hora o apresentador te chama, você precisa entrar ao vivo, não pode gaguejar, não pode errar na informação e você está comunicando com milhares de pessoas. Então, quando você se vê na TV, com certeza é uma realização profissional e pessoal na sua vida. 


Você foi estagiário na rádio sagres – que é uma rádio que tem mais de três milhões de ouvintes – , como foi sua experiência de apresentar um programa lá todos os sábados – Conexão Sagres, durava em torno de 2 horas e meia, contava os principais fatos da semana – ? 


Foi uma experiência fantástica, porque na apresentação você muda a sua visão como repórter. Eu apresentei o Conexão Sagres por cerca de seis meses. Então foi uma oportunidade incrível para entender a dinâmica de um telejornal. E lá eu consegui identificar que amava o rádio de uma forma muito grande.

Apresentando o Conexão Sagres, eu entendi o jornalismo na sua forma majorada, no seu sentido maior. Porque no Conexão Sagres eu apresentava o jornal e falava de política, falava sobre jornalismo comunitário, falava sobre jornalismo internacional, cobria a Câmara de Vereadores de Goiânia, cobria o Parque Municipal . Então a apresentação se difere no sentido do amplo. Você vai lidar com todos os assuntos. Diferente de quando você está como repórter, tanto de rádio quanto de TV, que acaba pega uma pauta específica. 

No jornal, a diferença é essa, que você pega o sentido como um todo e precisa improvisar muito, porque nem sempre sai como esperado. A questão da apresentação também no rádio, você repete muitas vezes a mesma informação, porque às vezes a pessoa está do outro lado e não conseguiu entender o que foi dito. 

Você já entrevistou diversas pessoas famosas e importantes, como João Gomes, Nattanzinho,Israel Novaes…. mas eu queria saber, pra você, dentre todos os famosos e anônimos, qual foi a entrevista que mais te marcou?

Essa pergunta é difícil, a entrevista que mais me marcou, nos meus cinco anos como jornalista, eu acho que a simplicidade e a sinceridade de uma atriz global, da Débora Seco, muito famosa, muito renomada, e de uma simplicidade gigantesca. Quando eu fazia jornalismo de celebridades na Band, trabalhei no programa da Mariana Martins, no programa No Controle, e depois fiz o programa Boa Tarde Goiás. Então eu sempre estava em contato com pessoas muito famosas. 

Nem sempre o que a gente passa na entrevista é o que aconteceu, no sentido que muitos artistas se consideram deuses, se consideram por cima da carne seca, às vezes nem dá a entrevista para você da forma que ele gostaria. Mas a Débora Seco, sem dúvida, foi uma pessoa extremamente humilde durante toda a entrevista. E ela revelou bastante coisa, foi uma entrevista de 40 minutos. Eu fiquei apaixonado,  já era fã do trabalho dela, e como jornalista, fiquei ainda mais encantado com a forma que ela trata a imprensa. E olha que no dia que eu a entrevistei, tinham várias emissoras ali, e ela foi extremamente simpática, e contou tudo sobre a vida dela.


Pegando um gancho na última pergunta, para você, qual é o essencial para conseguir fazer uma boa entrevista ?


Com certeza, é uma pré-apuração do que você vai encontrar ali pela frente. Essa pré-apuração começa na parte da pesquisa. Então, o jornalismo tem uma série de atividades até chegar finalmente na reportagem. E você precisa do seu produtor para te passar as informações básicas, as informações essenciais e iniciais, no caso. E depois, quando você chegar lá no local do fato,você precisa conversar com as pessoas, precisa entender a notícia como um todo. No jornalismo, nós temos a regra das três fontes, então, você conversa com três fontes diferentes, em lugares diferentes e horários distintos, para ver se aquela história bate ou não. Em resumo, você precisa se preparar para a entrevista.Então, é muito necessário você entender do que você está falando. 


Como foi ser homenageado no dia do jornalismo na assembleia legislativa de Goiás e o que isso significa para o jornalismo como um todo?

A comunicação é tão essencial em qualquer estado e, às vezes, as pessoas não dão o devido valor, a relevância que um jornalista significa para a sociedade. Eu acho que as pessoas precisam entender que, além de ser considerado por alguns teóricos como o quarto poder, o jornalismo sempre vai estar ali para lutar pelos menos favorecidos, para lutar por uma sociedade justa, igualitária, no sentido máximo que a nossa profissão conseguir atingir.

É lógico que nem sempre nós conseguimos atingir o sucesso de dar realmente o que as pessoas querem, no sentido de certa forma, obrigar o Estado, a União, os municípios a dar uma emancipação para o cidadão. Está tudo conectado. Não tem como a gente dissociar os poderes. Mas, sem dúvida, ser homenageado na Assembleia Legislativa do Estado, é um sentimento de honra, de gratidão. Quando eu fui procurado pela Associação da Alego, eu fiquei muito feliz, porque eles citaram que acompanharam as minhas reportagens na TV Bandeirantes e gostavam muito do meu trabalho. 

Se você acompanhar as reportagens no YouTube, no canal que eu tenho, Sinval Lopes TV, na maioria das vezes eu fazia jornalismo comunitário, porque eu me sentia vivo, necessário, quando eu estava lá no bairro que não tem asfalto, lá no bairro que não tem água encanada, porque eu entendo a dificuldade daquelas pessoas que estão ali, e o meu papel como agente social da informação e da notícia é levar os órgãos competentes que eles façam o devido trabalho e consiga levar dignidade, respeito e humanidade para aquelas pessoas. Então, sem dúvidas, eu acho que os jornalistas precisam ser ainda mais homenageados, porque, infelizmente, nem todos valorizam o jornalismo. 


Você apresentou o Chumbo Grosso na Band, um programa bastante conhecido aqui em Goiás. Como foi essa experiência pra você?

Foi uma experiência muito marcante porque eu cresci assistindo Batista Pereira. Eu fui repórter do Chumbo Grosso e depois fui editor-chefe e por fim fui apresentador. O Chumbo Grosso, eu digo isso com a boca cheia, foi o maior telejornal policial do estado de Goiás. Ele tinha, na época, uma relevância tão grande que quando acontecia algum crime o pessoal já falava: “Assiste no Chumbo Grosso que você vai ver”. E realmente é um nome muito forte. A Band tem como premissa o jornalismo policial e aqui em Goiás, pela TV Goiânia, com certeza fez muita história.

Quando eu fechava as laudas do Chumbo Grosso, ainda como editor- chefe, já ficava maravilhado porque eu pensava, cara, sou eu quem tá preparando o espelho do jornal, sou eu quem tô definindo aqui o valor notícia de cada reportagem, de cada matéria que vai entrar ou não. E por fim, eu tava ali na apresentação. Quando você começa na TV, normalmente não vai direto pro vídeo, você começa na parte da produção, da edição. A TV me testou, me deu oportunidade, eu sou extremamente grato à TV Goiânia por conta disso e digo para você que sou um felizardo de poder apresentar um jornal que eu consumi muito, que a minha família consumiu, que o meu pai assistiu muito.


Em todos esses anos, qual a reportagem que mais te marcou? 


Na TV, nós fazíamos um tipo de reportagem que se chama Apelo, que é quando as pessoas mandam um pedido para TV pedindo ajuda pra gravar uma reportagem, seja para conseguir medicamento, uma vaga de UTI, para conseguir alimentos. E eu gravei uma reportagem do Tiago Guilherme, que tinha, na época, seis anos, tinha paralisia cerebral, estava acamado, a família não tinha dinheiro pra comprar a dieta especial dele. Ele só podia tomar um leite especial, que cada frasco custava cerca de 50 reais. A família só com o salário mínimo do governo federal, o BPC, o Benefício de Prestação Continuada. Eu fiz essa reportagem, ela foi ao ar no Band Cidade, jornal apresentado pelo Jordevá Rosa. E nós conseguimos um valor muito alto pra família. Além de conseguir os equipamentos, a família ficou muito feliz.

Eu até mantenho um relacionamento com a mãe e com a tia dele. Ele faleceu, não consegui ir no velório dele, infelizmente. Mas até hoje eu tenho contato com elas, tanto pelo WhatsApp, quanto pelo Instagram. Elas me seguem, vira e mexe, elas mandam mensagem falando que estão muito felizes pela minha carreira, que eu sou uma pessoa abençoada, que elas são muito gratas.

Eu lembro que até quando eu fui assinar a reportagem, quando a gente trabalha na televisão, quando a gente fala que vai assinar uma matéria, não é o seu nome, é a nossa imagem. Ainda que ele não esteja vivo, eu consegui ajudar, de certa forma, aos dias do Tiago Guilherme serem melhores e sem dor. A mãe dele me falou uma coisa que me marcou muito. Ela disse que o Tiago não sorria há mais de seis meses. No dia que eu gravei a reportagem com ele, o Tiago sorriu pra caramba na matéria. 

Sem dúvidas, é um momento muito emocionante.Você vê que fez a diferença e que uma criança com paralisia cerebral sorriu recebendo uma equipe de reportagem que, às vezes, pode assustar a criança, porque você tem iluminação, tem rebatedor de luz, tem câmera,  tem microfone. Então, naquele dia, nós levamos esperança para a família do Tiago.

Em um mundo com propagação de fake news, chat gpt e muita desinformação, o papel do jornalismo e jornalistas é cada vez mais questionado por parte da população. E eu gostaria de saber se todo esse questionamento, novas tecnologias e desinformação afeta seu trabalho, e se sim, como contornar tudo isso.

Eu acredito que é extremamente necessário o trabalho do jornalismo diante das novas tecnologias de informação, porque nós sabemos que os algoritmos, que os aplicativos falham. Você pode até pegar um jornalista, colocar ele para apurar, para produzir o texto e você pode pegar a inteligência artificial, programar ela para escrever a mesma reportagem. O jornalismo sem a visão humanística, sem o lado humano, deixa de ser primordial no momento em que ele não tem empatia com a fonte dele.

Nós precisamos agregar essas plataformas, esses aplicativos dentro de um jornalismo consciente, que de fato cumpra a sua função social de informar e que não falhe no sentido de deixar as pessoas indecisas. Apesar que muitas vezes nós, enquanto jornalistas, falhamos no sentido de não passar para as pessoas todas as informações necessárias de uma reportagem. Às vezes o nosso texto precisa ser muito curto, o nosso tempo é muito pequeno para escrever uma reportagem, mas se a gente abrisse mais a nossa apuração para o nosso público, eu acho que a gente conseguia tornar o jornalismo ainda mais humano, ainda mais compreendido pelas pessoas.

Então acho que a credibilidade do jornalismo em época de inteligência artificial deve ser o carro-chefe de qualquer jornalista, de qualquer pessoa que se proponha a procurar informação e propagá-la para mais pessoas. Então acredito que ela deve ser um complemento. Ela não deve ser tão essencial no sentido de que ela vai substituir a apuração humana. É necessário um texto humanizado. 

Qual foi o momento mais difícil na sua caminhada no jornalismo?


O momento mais difícil foi quando eu trabalhava em duas emissoras de TV e uma rádio. Eu tive que optar por algum, porque eu ainda não estava graduado, já estava em dois estágios, e fui contratado pela Band como profissional mesmo. E teve um momento também que eu considero muito complicado, que foi quando a TV Band falou para mim que eu não podia continuar aparecendo no vídeo na outra TV, se não, eu não ia poder aparecer mais, eles não podiam ter um repórter com o rosto em duas emissoras de TV.

Então eu precisei abrir mão da Sagres, do Canal 26, e precisei optar pela TV Goiânia Band. Foi muito complexo, porque lá na Sagres eu fazia TV, webjornalismo e rádio. Lá eu era apresentador do Conexão Sagres, do programa que ia ao ar todos os sábados. E na TV eu comecei na reportagem, depois que eu fui passando para as outras áreas. Então eu precisei tomar uma decisão, ou você faz uma emissora ou você faz outra. Esse foi o momento mais crucial, porque eu tinha medo de não ser efetivado no vídeo na Band, e sair do vídeo da Sagres, só que graças a Deus, deu tudo certo na Band, da reportagem eu também passei para a apresentação e como editor-chefe.

Atualmente você está fazendo pós-graduação em ciência política. É uma área que anda junto com o Jornalismo. Como você planeja unir essas duas formações na sua prática profissional?

Eu acredito que a minha prática profissional não tem como dissociar o jornalismo da política. Então você, enquanto jornalista, sempre vai estar atuando diretamente na política.

Eu cheguei a trabalhar um dia no Jornal Opção e nesse mesmo dia, fui chamado para trabalhar no Estado, na Secretaria de Comunicação do governador Ronaldo Caiado. Então eu sempre observei atentamente a política e como ela funcionava. Não dá para separar o jornalismo da política. O que eu fiz?

Já amando a comunicação, falei, não tem para onde correr. Eu vou começar agora, já que eu já tenho essa experiência de jornal impresso no Jornal Opção, já tenho a experiência como repórter de televisão, como apresentador, agora eu quero fazer uma especialização em algo que eu goste. E a pós-graduação em Ciência Política te dá esse mérito. Hoje eu trabalho dentro da assessoria política, trabalho tanto para o institucional do Estado de Goiás, quanto para o governador Ronaldo Caiado. Então o contato dele com a política, com os demais partidos, a estrutura de poder do Estado de Goiás, eu estou ali dentro.

Nada mais justo do que eu mesmo ir atrás de ainda mais especialização, para conseguir entender e assessorar bem o meu assessorado, no caso o governador do Estado, então eu preciso entender o jogo político. Aí você vai atrás de teóricos da política e consegue entender profundamente o que é política. Você estuda sobre a Grécia Antiga, sobre Platão, sobre o homem político, sobre o Leviatã, porque de certa forma o Estado está sobreposto às demais pessoas, então, ele sempre vai estar comandando a vida das pessoas. 

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