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Imagem: Instagram do jornalista @guedesjv

  • João Victor Guedes é graduado em Jornalismo pela Universidade Federal de Goiás e em História pela PUC/GO. Já foi repórter da TV Serra Dourada e atualmente pertence ao quadro de jornalistas da TV Anhanguera, afiliada da Rede Globo em Goiás. Admirador do bom jornalismo, especialmente o literário e cultural, João Victor acredita no impacto positivo das mídias digitais como uma maneira de aperfeiçoamento e difusão da notícia televisiva.

Leonardo: Observando sua biografia é possível identificar as formações acadêmicas em Jornalismo e História. Quais fatores motivaram essas escolhas e como elas se complementam?

Quanto ao Jornalismo, fui influenciado pela minha família. Meu pai e meu avô assistiam muito a telejornais e liam bastante jornal impresso; já minha mãe tinha assinatura de revista mensal e era uma leitora assídua. Mas um fato marcou bastante essa escolha, quando eu tinha 10 anos de idade, e assisti ao atentado de 11 de Setembro pela TV, momento em que me senti atraído pelo telejornalismo. Já a História, eu costumo dizer que ela não é um simplesmente o estudo do passado, mas mas a ciência da mudança. Eu sempre quis então entender como as coisas aconteceram, o que me levou a cursar História. O que elas têm o comum? Acredito que as fontes. Isto fez com que eu me sentisse atraído por ambas as áreas, de modo a usá-las de forma interdependente.

Leonardo: Como você enxerga o papel do jornalista no estado de Goiás onde ainda existem os denominados “desertos da informação”, ou seja, locais onde as notícias não costumam chegar com tanta facilidade e rapidez?

A gente vive um momento de regionalização da informação, pois observa-se o destaque a notícias regionais, eis que os grandes veículos de comunicação se concentram especialmente na região Sudeste. Todavia, a imprensa regional tem sido muito bem clamada e chamada pela grande mídia, pois o espectador quer saber o que acontece ali na sua cidade, sua região, na sua proximidade. Assim, os desertos de informação estão diminuindo bastante, o que pode ser ressaltado pela democratização da informatização que as redes sociais podem proporcionar para a difusão das notícias. Um fato que deve ser exaltado são as rádios locais no interior do estado, pois trazem as notícias para mais próximo do ouvinte. Logo, é importante então trazer parceiros locais, anunciantes, jornalistas formados e atuantes, longe dos grandes centros ou da capital, visando conter esses desertos da informação.

Leonardo: Entre a notícia e a reportagem, qual segmento mais te atrai e o que pode justificar essa sua escolha?

Escrever o texto e apurar as fontes me atraem bastante, pois isso me permite conhecer e contar histórias. Eu posso dizer que o que mais me atrai é a reportagem, pois ali eu tenho contato direto com as fontes, estando em contato com a pessoa, seja ela uma representante de alguma instituição ou cidadão comum, me permitindo tirar dessa pessoa uma história, que possui um valor notícia, o que me torna realizado na profissão.

Leonardo: Você atualmente atua em emissora de TV (TV Anhanguera, afiliada da Rede Globo). Quais desafios podem ser observados com o surgimento e adesão em massa das redes sociais para quem é apaixonado pelo telejornalismo?

As redes sociais revolucionaram o fazer jornalístico. A televisão ainda é o principal meio de comunicação e entretenimento no Brasil. Antigamente as pessoas esperavam os telejornais para saberem das notícias, o que hoje é possível saber de forma instantânea com as redes sociais. E nós, jornalistas, fomos obrigados a nos adaptarmos. Ocorre que é importante dizer que a TV traz a notícia de uma forma mais apurada, eis que as mídias digitais não permitem um aprofundamento na apuração da notícia, em razão de suas próprias características imediatistas. Merece destacar que as redes sociais trouxeram para nós mais um serviço: a nossa missão antigamente era apenas de informar; atualmente, é informar e desmentir. As redes sociais possibilitaram que as informações falsas se espalhem de uma maneira muito mais rápida. Ressalto: tratam-se de informações falsas e não notícias falsas.

Leonardo: Do ponto de vista financeiro, como você avalia a remuneração destinada aos jornalistas hoje no Brasil, especialmente após a retirada da obrigatoriedade do diploma de Jornalismo para exercício da função?

A retirada da obrigatoriedade do diploma se deu em 2009, quando decidi cursar Jornalismo. Embora tenha caído a imposição do título, é possível observar que as contratações dos grandes veículos ainda prestigiam e exigem a formação superior acadêmica, o que deve servir de estímulo pela categoria. Importante ainda destacar que é perceptível, na prática, a diferença entre a pessoa que graduou em Jornalismo e a que não fez o curso. O profissional formado é facilmente conhecido na prática, estando à frente daqueles que não possuem formação. Quanto ao aspecto financeiro, é muito importante ter noção de carreira; é preciso saber que existe um caminho a se percorrido para se chegar ao objetivo pretendido, seja para se tornar um apresentador de telejornal, correspondente internacional, etc. Ademais, o leque de opções dentro do Jornalismo é muito amplo, indo do jornal impresso, televisivo, web a assessorias de imprensa, sendo a área muito vasta, o que poderá agregar valor à remuneração do profissional, sempre com a ciência de que existe uma carreira a ser construída.

Leonardo: Como você imagina o jornal televisivo para daqui cinco anos, quando nossa turma estará graduada e sendo inserida formalmente no mercado de trabalho?

Eu costumo dizer que o jornalismo está presente em diversas frentes. Logo, é preciso conhecer e estar atento aos novos e constantes desafios. As redes sociais, por exemplo, transformaram o jeito de se fazer jornalismo. Vale aqui então ressaltar o jornalismo independente, como no caso de plataformas como o Youtube. Falo ainda do Jornalismo 4.0, que trata da distribuição da comunicação nesta era digital, tão presente na atualidade, com o surgimento de aplicativos, podcasts, o que já é uma realidade e vai se acentuar ainda mais no futuro. O Jornalismo hoje é multiplataforma, o que não significa que o jornalista precisa dominar todas as áreas, mas precisa saber um pouquinho de cada área, seja rádio, TV, estar de frente para a câmera. E digo ainda: sejam curiosos! Destaco dois pontos para o que se pode dizer do jornalismo do futuro, sendo a importância em conhecer das religiões e seus impactos históricos, bem como questões de cunho ambiental, sendo uma pauta bastante promissora e demanda o conhecimento dos jornalistas. Importante ainda é ter empatia, saber e estar preparado para ouvir a história do outro.

Leonardo: Considerando sua prática no Jornalismo, qual matéria tem um lugarzinho especial no seu coração, na sua trajetória?

São muitas. Me vem à mente aqui agora a cobertura que eu fiz sobre um serial killer aqui em Goiânia, que, na época, conversava com sua defesa através de cartas. Foi uma história muito comovente. Em contato com a advogada do serial killer eu consegui, em primeira mão, acesso à carta em que ele conversava com seus defensores, e enviava mensagens à Justiça. Deste modo, eu fui o primeiro repórter em Goiás que teve acesso a este material, o que me deixou bastante motivado com o meu trabalho. Recentemente comecei a contar a história de muitas pessoas, realidades e sonhos com a cobertura do quadro Comida de Boteco, em que se verifica que a matéria vai além da notícia. São histórias de vida. Me recordo agora também de uma adolescente que estava desaparecida e eu estava fazendo apuração em tempo real com a família e a polícia quando o corpo foi encontrado e eu estava ao vivo no jornal. São histórias que mexem com a gente e nos ajudam a contar a história do nosso estado e nosso país.

Imagem: Leonardo Silva

João Victor Guedes me concedeu esta entrevista em 28/04/2025, na cidade de Goiânia/GO, como forma de prestigiar o trabalho desenvolvido para a disciplina de Introdução ao Jornalismo, Professor Raniê Solarevisky, TURMA LIX, da Universidade Federal de Goiás. Imagem: Leonardo Silva

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