Luanna Marques formada em Jornalismo em 2024 pelo Centro Universitário Unifasam, estagiária na assessoria de comunicação da Seinfra de Goiânia e como repórter no Diário da Manhã. Atualmente, ela atua como repórter no Portal Mais Goiás. Luanna também é autora de reportagens no Lab Notícias — você pode conferir algumas de suas matérias em seu perfil, clicando aqui!

Nesta última quarta (23/04) Luanna Marques foi entrevistada sobre os processos de como conduzir uma boa entrevista com base em suas experiências como jornalista. Durante a conversa foram abordados a ética para com o entrevistado e as principais exigências de um profissional na área jornalística.
A primeira questão que eu gostaria de abordar são os processos de organização de uma entrevista. Como acontece o seu processo criativo desde pensar na pauta até o momento que você se coloca em frente a pessoa que irá entrevistar?
Atualmente, eu trabalho em home office e recebemos uma lista de pautas por dia. Nessa pauta, há uma sugestão de recorte sobre o caso, possíveis fontes (personagens ou fontes oficiais) e informações preliminares. Entro em contato com as fontes sempre que preciso de mais informações para complementar a matéria. Por exemplo: data de uma prisão, se é um crime, busco entender o contexto do caso, se havia conflito, motivação, se os envolvidos possuem passagens. Já tive oportunidade de participar de coletivas de políticos, cobertura de bloco de carnaval, entrevistei artistas também. A regra é: quanto mais você se familiarizar com o tema (qualquer que seja a pauta), melhores serão suas perguntas. Então, pesquise.
Na faculdade, especialmente quando tive a oportunidade de fazer as disciplinas de laboratório com o Rânie, procurei me desafiar e produzir sobre temas com os quais eu não tinha tanta familiaridade. Costumo ser muito observadora também. Mesmo tendo um perfil mais reservado nas redes sociais, eventualmente me lembro do trabalho das pessoas, e isso me ajuda com possíveis fontes. Eu ainda tenho certa dificuldade com entrevistas presenciais e quando preciso abordar as pessoas. Por exemplo: nas eleições, precisei entrevistar eleitores que estavam no local de votação, e no carnaval, tive que entrevistar foliões. Foge bastante da minha zona de conforto, mas o importante é: manter a educação, se apresentar, perguntar se a pessoa topa falar sobre determinado assunto, registrar o nome dela e conferir se os materiais que você levou (microfone, gravador, câmera) estão funcionando. Tente quantas vezes forem necessárias. Com a prática, fica mais fácil. Quanto mais familiarizada estou com o assunto, mais confiante me sinto.
Dentro da entrevista é necessário uma pesquisa prévia sobre a pauta, para você quais são os pontos chaves que o entrevistador sempre deve ter mãos para conduzir uma boa conversa?
Entender o que a pessoa está fazendo no local para o qual você foi direcionado e a relação dela com a pauta. Vai entrevistar um político em uma inauguração? Inauguração de quê? Recursos gastos, importância da ação. Pense que precisará elaborar uma matéria a partir da entrevista. Responda às perguntas do seu texto.
Em uma entrevista sempre é nos orientado que a opinião do entrevistador não deve interferir, que devemos cumprir apenas o papel de fazer as perguntas, mas na prática você já passou por alguma situação em que deixar suas próprias opiniões de lado tenha sido um trabalho mais árduo?
Me preocupo muito em ser uma profissional completa e ética. Ainda que, talvez, eu não concorde com o posicionamento de um candidato, por exemplo, penso que as pessoas precisam saber que ele pensa daquela forma e, então, decidirem como reagir diante disso. Acredito que isso também faz parte do poder da informação. No mais, busco por fontes que defendam os Direitos Humanos tanto quanto os jornalistas devem defender.
Sempre é importante deixarmos o nosso entrevistado à vontade durante a entrevista para que o mesmo não hesite em responder as perguntas, como você faz para fazer essa construção?
Particularmente tenho receio de incomodar ou ser invasiva com as pessoas. Normalmente, quando preciso conversar com familiares de vítimas de crimes, acidentes ou que estejam desaparecidas, busco seguir um padrão: ser educada, breve e respeitar as decisões da pessoa sem prolongar ou agravar o sofrimento dos envolvidos. É importante ter cuidado com o uso de imagens e informações que foram repassadas. Respeitar informações em off, respeitar quando a pessoa não quer ser identificada, não tirar falas de contexto, usar aspas quando se tratar de uma fala mais pontual ou impactante. Evitar divulgar informações que contribuam com a perpetuação de estereótipos. Se for uma entrevista presencial, marcada ou mais longa, procuro pesquisar o máximo e ser curiosa sobre o tema. Antes da entrevista, converso com a pessoa, entendo um pouco sobre a vida dela — isso pode ajudar a contextualizar o entrevistado, quando e se necessário.
E quando acontece do entrevistado dar respostas muito vagas ou curtas? Como você passa a conduzir a entrevista para que ela saia da monotonia?
Esse tipo de situação acontece com mais frequência em entrevistas presenciais. Se o entrevistado for personagem na matéria, você pode tentar outro até conseguir um material melhor. Se for uma fonte oficial, costumo dizer, antes mesmo da entrevista, que ela pode se sentir à vontade para falar ou explicar sobre a situação/assunto — e que quanto mais ela falar, melhor será para a produção do material. Até porque podemos cortar trechos, mas nunca inventar ou criar falas para a pessoa.
Sobre a sua carreira e principalmente no início, quais foram os erros que você cometia ao fazer entrevistas que hoje você percebe te atrapalharem de alguma forma?
- Não registrar o nome do entrevistado. Se estiver gravando, diga: “Estou aqui com Fulano de Tal.” Anote o nome, corrija a grafia com o entrevistado ou, quando se tratar de fonte oficial, pesquise minimamente sobre a pessoa.
- Manter a postura. Ainda que esteja nervosa ou insegura, mantenha-se firme. Passe confiança. As pessoas respondem melhor quando entendem que você sabe o que está fazendo. Se precisar, finja. E, se tiver, sempre use crachá de identificação.
- Não tenha vergonha de perguntar. “É com você que eu consigo informação sobre tal coisa?”, “O que significa isso?”, “Pode me ajudar com mais detalhes sobre esse caso?”, “É a primeira vez que vocês realizam essa ação?” Pense no leitor e transmita informações com clareza e contexto
Pelas minhas pesquisas encontrei que você fez estágio como assessora de imprensa e hoje segue carreira como repórter no Portal Mais Goiás. Para você, quais foram os principais fatores que te fizeram entender por onde você queria construir carreira?
Sempre gostei de escrever e, na mesma medida, sempre me interessei por questões sociais: pautas raciais, políticas de drogas, desigualdades, gênero e sexualidade. Vejo na comunicação uma forma de contribuir com o acesso a direitos. Desde saber e lutar por algo que deveria ser garantido até buscar por mais. A assessoria de comunicação me moldou para entender como funcionam os bastidores do jornalismo e da política. Aprendi que, de fato, obras, por exemplo, dependem de licitação, sorteio etc. Mas é onde você precisa vestir a camisa da “empresa”. No jornalismo factual, você pensa — ou melhor, deveria sempre pensar — nas pessoas, nas vidas envolvidas, no impacto do que está produzindo. É gratificante para mim finalizar o dia sabendo que ajudei a cobrar por justiça, que dei voz para uma denúncia de moradores, que uma pessoa foi encontrada porque uma matéria que eu fiz alcançou muita gente, que alguém conseguiu uma vaga em um hospital porque cobramos uma posição da Secretaria de Saúde. No fim do dia, mesmo com a correria e a pressão, são essas coisas que me dão gás para continuar: o bem-estar social, a busca por direitos, a voz para pessoas menos favorecidas. Todo conhecimento é bem-vindo e em alguma medida toda oportunidade irá te acrescentar de alguma forma, mas é no jornalismo factual que eu sinto a sensação de dever cumprido.
Após a entrevista sempre existe a dúvida do que será cortado. Como você sabe qual material é de mais relevância e o que pode ser descartado?
Tento pensar no que é relevante para o recorte que escolhi ou na informação que fará diferença para a compreensão do caso. Se um homem está desaparecido, que diferença faz, para os leitores, saber se ele havia pedido empréstimo para um agiota? (Essa informação é de interesse da polícia, que irá investigar o caso.) Busco não piorar o sofrimento dos envolvidos e acrescentar o máximo de informações que contribuam para a compreensão do leitor. Muito se fala sobre fontes que respondem com “sim” ou “não”, mas pouco se fala sobre fontes que mandam áudios enormes ou desabafam para o repórter. Entenda o caso, coloque frases pontuais com aspas. Conte a história com responsabilidade.
E para finalizarmos, eu gostaria de saber se existe alguma dica que você ache importante salientar para quem está começando agora nesse meio como jornalista.
Tenha em mente o que você gosta no jornalismo, mas esteja aberto a tentar coisas novas. Seja sempre educado com as pessoas. Tenha responsabilidade ao divulgar informações. Ouça as pessoas com atenção. Seja interessado. Jornalismo não é apenas técnica — exige sensibilidade. Não trate as pautas como qualquer coisa.