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Ana Julia Luzin
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Pablo Kossa é jornalista da Rádio Interativa, assessor de comunicação do Incra, redator do Poder Goiás e produtor de conteúdo para o YouTube. Com mais de duas décadas de carreira, Pablo se destaca por sua versatilidade e atuação em múltiplas frentes do jornalismo.

Nesta quarta-feira (30/04), Pablo Kossa foi entrevistado por Ana Julia Luzin, estudante de Jornalismo da Universidade Federal de Goiás (UFG). A entrevista abordou os nuances da profissão, além das dificuldades enfrentadas e das perspectivas para o futuro do jornalismo.

Pra começar, eu gostaria de saber como você iniciou sua carreira como jornalista. Qual foi o seu primeiro contato com o jornalismo?

Eu iniciei no jornalismo por meio da rádio. No meu segundo ano da faculdade, ingressei na Rádio Universitária, atual Rádio UFG, e, naquela época, a programação dos finais de semana era feita por alunos, e eu fazia um programa no sábado que se chamava Matéria Prima. Como um primeiro contato, lá eu escrevia as matérias, fazia a produção do programa, participava eventualmente das transmissões e escolhia as músicas que iam ao ar. Atuar em uma rádio universitária traz uma vantagem: ela auxilia na perda da timidez e no desenvolvimento como jornalista.

Gostaria de saber quais foram as maiores transformações no jornalismo desde que você começou a trabalhar na área.

A emergência das redes sociais, com certeza, foi a maior transformação, que mudou o jornalismo por completo. Porque antes, você pensava na rádio como o veículo mais imediato, por conta da sua estrutura menor, onde você sozinho conseguia fazer a notícia. No impresso, a notícia vinha no dia seguinte, e na TV a notícia chegava à noite, a não ser que fosse algo muito bombástico e a rede televisiva soltasse um plantão no meio da programação. E hoje, a rede social é o veículo mais imediato. Porque, a qualquer momento, alguém passa em qualquer lugar do mundo e solta uma notícia, grava um vídeo que vai parar nas redes sociais, mas sem passar por qualquer apuração de um repórter. A tecnologia foi a maior transformação nesse ramo. Eu só não sei se foi pra melhor. Porque, se você tem a velocidade, você tem muito menos profundidade. E isso, pra mim, é um problema, Ana.

E Pablo, como esse novo modelo de notícia, com esse imediatismo da informação, impactou o trabalho jornalístico?

Pra você apurar uma informação, leva tempo. No meu ponto de vista, essa transformação do imediatismo se tornou um problema ao prejudicar a profundidade da informação. É por isso que, muitas vezes, o jornalismo parte para algo mais de análise, de opinião, porque o acontecimento as pessoas já vão ter ali na hora, na palma da mão. E é necessário um tempo para trazer uma informação apurada e decantada.

E como você vê o futuro do jornalismo, com esse avanço das novas tecnologias e o rápido consumo digital?

“Por um lado, eu vejo que nós teremos que buscar e ficar cada vez mais ligados às redes sociais, o que antes não era tão necessário. Mas, por outro lado, eu já vejo um mercado reduzido, mas que valoriza quem faz um jornalismo aprofundado e investigativo. Eu acredito que possa haver um afunilamento, e, por isso, teremos que dominar mais tecnologias. Mas isso também abre mais portas, mais áreas de atuação. É também uma questão de adaptação e agilidade.

Algo que nós notamos que vêm crescendo bastante com a nova onda tecnológica, é o Podcast. E para você que trabalha na rádio, Pablo, qual é a sua relação com o Podcast? Você acha que é uma ameaça ou uma evolução natural?

Eu sou um consumidor voraz de podcasts, escuto vários durante o dia. Mas acho que eles não competem, porque a rádio tem o lance do ao vivo. A rádio pode ser comparada com uma live; a pessoa escuta enquanto dirige, lava uma louça, e pode entrar em contato e ser respondida durante o programa. O podcast você encaixa na sua rotina, escuta onde quiser, mas na rádio aquele é o único momento. Além disso, o mercado para podcasts ainda é muito incerto. Na minha visão, eles coexistem e se complementam.

Agora, quero saber qual a sua visão a respeito dos desafios que o jornalismo moderno enfrenta, e como se manter um bom jornalista apesar delas.

A única maneira que eu vejo é por meio da leitura, e isso ainda não foi superado. Para se manter um bom jornalista, é necessária muita leitura. O vídeo e o podcast não substituem um papel ou o Kindle; a leitura de um bom livro não pode ser superada. Um jornalista que não lê pode até ser um bom comunicador, mas não será um bom jornalista.

E para fechar essa entrevista, quais são as dicas que você tem pra essa nova geração de jornalistas?

Aproveite o máximo de tempo para ler de tudo. Se aventure em diversos assuntos e esteja pronto para chutar a bola quando ela vier. Aprenda tudo o que puder, expanda seu leque e a sua percepção de mundo; em algum momento aquilo vai ser necessário. Nós temos a capacidade de aprender e aprender muito, temos a capacidade de fazer coisas inimagináveis. Todo estudante de jornalismo tem que ter foco e perseverar. O seu conhecimento nunca será um desperdício.

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