Bárbara Falcão é jornalista e mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Goiás. Com passagem por veículos como Rádio CBN, Rádio Interativa e Rádio Bandeirantes, ela atua há 15 anos no rádio e, atualmente, integra a equipe da Rádio UFG como locutora musical. Em entrevista ao Lab Notícias, Bárbara compartilha sua trajetória no jornalismo e fala um pouco mais sobre o rádio na contemporaneidade.

Inicialmente, como foi sua entrada no curso de Jornalismo?
Minha entrada no curso de jornalismo foi uma entrada, eu diria, natural. Assim, eu nunca pensei muito em outros cursos que não fossem o jornalismo, não sei exatamente porque, eu acho que tinha algo dentro de mim que já me atraía para o jornalismo, mas talvez principalmente por conta da leitura e escrita.
Eu sempre fui uma pessoa que gosta muito de ler e escrever e, ao mesmo tempo, sou uma pessoa que se movimenta muito, então eu acho que eu enxerguei no jornalismo muitas possibilidades diferentes. Por exemplo, eu sempre gostei de tirar foto, fotografia e de algum modo o jornalismo reunia muitas coisas juntas, coisas que eu gostava de fazer. Além disso, sempre fui tímida, então meus pais em algum momento também pensaram que não daria certo por conta disso. Mas foi isso, essa entrada. Foi uma entrada, eu diria, bem natural mesmo.
O rádio já se apresentou como primeira opção logo no início? Dentro de tantas possibilidades no jornalismo, como foi o processo de decidir isso?
O rádio não se apresentou como primeira opção. Sempre escrevi muito desde a adolescência, então eu sempre achei que eu fosse mais para o lado do jornalismo literário. E não que eu tenha me afastado totalmente disso, mas logo no primeiro ano de faculdade, eu me matriculei em uma disciplina de rádio e acabou dando certo. Gostei muito, não só gostei, como comecei a estudar e de fato dar o meu melhor onde eu estava, e então comecei na Rádio UFG e, logo depois, as oportunidades foram surgindo naturalmente, conforme eu ia avançando na profissão.
Não foi uma coisa que eu já tinha pensado antes, nunca pensei em fazer rádio, mas foi uma coisa que aconteceu, que eu abracei e que foi dando certo. Mas, embora eu faça rádio, eu faço muitas outras coisas: eu já escrevi para revista, eu já fiz trabalho de fotos, já fiz assessoria de imprensa, já apresentei eventos, tenho um foco também em podcasts, atuei na academia com o mestrado, ministrei palestras e workshops e eu sou também criadora de conteúdo para o meu canal no YouTube.
Eu não diria que eu escolhi o rádio, porque não houve esse momento e até hoje eu não faço só rádio. Mas eu tenho facilidade muito grande nessa área, por exemplo, eu consegui chegar na Rádio CBN que é a maior Rádio do Brasil, em São Paulo, então eu tenho uma bagagem que facilita um pouco. Não que tenha sido fácil construir essa trajetória, mas ao mesmo tempo o trabalho de rádio hoje, para mim, é muito mais natural do que qualquer outro trabalho. Só para esclarecer que não houve essa escolha só pelo rádio, ele nunca exclui outras possibilidades, na verdade, o rádio só agrega para mim.
Inclusive, como foi voltar à Rádio UFG, depois de tanto tempo?
Foi muito importante, acho que tem sido muito importante pra mim. Até porque a Rádio UFG está em um momento de transição muito bom e relevante, que é essa transição de AM para FM que, naturalmente, expande a audiência e também estende novas possibilidades. Uma coisa que eu digo também, que eu parei pra refletir outro dia, é que é importante que a gente também tenha, em algum momento da vida, uma zona de conforto no trabalho. Estar na nossa zona de conforto no trabalho não necessariamente sempre vai ser algo ruim. As pessoas têm essa visão deturpada do que é zona de conforto, mas eu posso dizer que, nesse momento, eu estou na minha zona de conforto aqui na Rádio UFG.
Estou fazendo um trabalho novo, que é a locução musical, trabalho esse que eu nunca fiz antes. Mas, ao mesmo tempo, eu me sinto em casa. Em outro momento, mas me sinto em casa e estou confortável. E nesse momento da minha vida, em que as coisas fora do trabalho estão difíceis, é muito importante que o trabalho me dê esse aconchego e é o que eu sinto aqui na rádio, além, claro, de poder contribuir com toda a minha experiência para esse momento tão importante para a Rádio UFG, que é a transição de AM para FM.
Desde de seu início na rádio até hoje, quais foram as principais mudanças que ocorreram no radialismo devido ao crescimento tecnológico?
Eu acho que não mudou muito a forma de fazer rádio, não teve uma mudança tecnológica que realmente revolucionou, mas algumas coisas foram mudando, por exemplo, hoje em dia é quase obrigatório uma rádio ter transmissão por vídeo também. Essa centralidade do vídeo, não existia quando eu comecei, algumas rádios já transmitiam e tudo mais, mas essa centralidade de fato vem agora nessa quase obrigatoriedade. O podcast também aparece como um diferencial, mas nós percebemos que nem todas as rádios sabem lidar com ele e aproveitar o potencial desse formato. Porque as rádios já tem toda uma estrutura de áudio e poderiam aproveitar melhor isso, porém muitas rádios, a maior parte delas, não aproveita.
Vejo também que aumentou muito a oferta por meios que oferecem informação. Então se antes a pessoa consumia informação em primeira mão pelo rádio, agora é pela internet, logo o rádio acaba perdendo esse ineditismo, essa característica do furo, não 100%, claro, porque o rádio tem repórter in loco e isso faz toda a diferença, mas a internet tomou muito espaço nesse sentido de consumir a informação agora e imediatamente.
O rádio precisa pensar e tem pensado em novas formas de atrair os ouvintes, mas acho que não houve uma mudança, uma revolução tecnológica ou algo que realmente alterou a forma de fazer rádio. Tanto que, algumas rádios continuam fazendo da mesma forma que faziam há 15 anos atrás, que foi quando eu comecei, mas é necessário que se repense essa forma de fazer rádio no sentido de continuar conquistando essas audiências.
Na sua opinião, os avanços tecnológicos impulsionaram o crescimento do radiojornalismo ou diminuíram o espaço que o rádio ocupa hoje?
Acho que, primeiro, tem muito a ver com o que eu falei na resposta anterior e, nesse sentido de impulsionou, ajudou ou atrapalhou, eu acho que depende muito mais da emissora em si, da empresa, do que do meio rádio. Eu acho que o rádio ainda carrega uma credibilidade, assim como a TV, de um meio tradicional. Então, a pessoa escuta no rádio e ela sabe que é verdade
e, na rede social, nem sempre é assim. Então, o rádio ainda tem essa credibilidade muito forte.
Agora, em relação à tecnologia, nós temos um potencial gigantesco, e aí depende da empresa aproveitar isso ou não. Muitas têm aproveitado, mas outras estão desperdiçando. E quando eu falo sobre aproveitar, é em termos de dinheiro, em termos de receita, porque a receita do rádio diminuiu, caso nós olhemos por esse ângulo. A receita diminuiu porque, agora, as pessoas têm outras “N” opções para fazer publicidade, e é uma publicidade muito mais direcionada.
Na internet, você consegue segmentar muito mais o seu público e isso tira dinheiro do rádio. Às vezes, a pessoa, a empresa que anunciava no rádio, agora, anuncia na internet, e nesse sentido, atrapalhou, mas isso força um movimento por parte das empresas de, também, investir na própria internet. De oferecer novos produtos para que as pessoas façam publicidade, não apenas na transmissão no dial, mas, também, nesses novos produtos, nesses outros potenciais possíveis que a internet deu. Agora, é o que eu falei, a maior parte das empresas não se mostra preparada para isso.
Você acha que o formato do podcast rivaliza com o rádio e ameaça o futuro do radiojornalismo?
Não, na minha opinião, acho que os dois se complementam. Uma prova disso é a própria CBN, a Rádio CBN tem uma grande produção de podcast, por exemplo, atualmente a CBN tem seis podcasts, entre os 20 mais escutados da América Latina segundo um ranking da Triton. Isso mostra que dá para as rádios fazerem podcast, gerarem uma receita com isso e também conquistarem uma nova audiência. Muitas vezes a pessoa que escuta o podcast não é a mesma pessoa que escuta o rádio, então a rádio pode conquistar essa audiência por meio do podcast ao invés de conquistar a audiência por meio da programação do dial.
Não acho que rivalize, porém tem uma questão que é: hoje em dia a briga maior é pela atenção das pessoas. O tempo é a nossa moeda mais preciosa, então o tempo inteiro nós temos rádio, nós temos TV, nós temos rede social, todo mundo querendo a nossa atenção. Nesse sentido, há uma rivalidade, mas que não é exclusiva entre rádio versus podcast, até porque alcança qualquer tipo de conteúdo.
Sob essa perspectiva, o rádio precisa se manter atrativo e ter uma programação que vai fazer as pessoas dedicarem a sua atenção ao rádio, ao invés de colocar ali um podcast, uma música ou qualquer outra coisa. Porém isso não é específico, não é uma briga específica entre rádio e podcast.
Como é falar no rádio, lidar, vez ou outra, com a necessidade de improvisação?
Eu diria que eu sou suspeita para falar, porque eu amo falar no rádio. É uma coisa que me move e eu acho que sempre tem um friozinho na barriga quando nós ligamos o microfone. Claro que com o tempo a gente adquire uma segurança e isso vai se tornando algo natural, mas essa emoção, emoção boa, é uma coisa que me alimenta e que eu gosto muito. E a improvisação, com o tempo a gente aprende que não é um bicho de sete cabeças.
Acho que o principal é nós entendermos que ali do outro lado tem uma pessoa que está nos ouvindo. Então nós não precisamos ser robôs, nós não precisamos ser perfeitos. Nós vamos errar, nós vamos, às vezes, escorregar em alguma palavra, falar alguma informação errada, mas isso dá para corrigir. Então quando nós entendemos que ali do outro lado tem uma pessoa, uma pessoa que tem empatia, nós paramos de ter medo do erro e entendemos que essa improvisação faz parte. E então, cada vez mais, nós vamos tendo segurança para improvisar e para sermos nós mesmos.
Por fim, na sua opinião, qual habilidade é indispensável para um jornalista que atua em rádio?
Eu acho que primeiro tem que ter uma boa comunicação, porque você precisa ser compreendido e se não houver compreensão do outro lado, nós não cumprimos com nosso objetivo de comunicar. Em segundo lugar, a gente tem que ser humano. Então é importante entender que do outro lado tem uma pessoa e que do lado de cá também tem que ter uma pessoa. Cada vez mais nós temos perdido um pouco aquela identidade do rádio como algo sisudo, algo muito sério e tem ficado uma coisa mais solta, mais natural e mais aberta, inclusive aos erros. Então eu acho que tem que ter esse lado humano acima de tudo.
E claro, todos os atributos de um bom jornalista: tem que ser curioso ao fazer apuração, fazer checagem, tudo isso, todos esses processos da metodologia jornalística tem que ser seguidos à risca. E aí o resto a gente vai aprendendo no caminho.