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GIOVANA MIRANDA

A essência do futebol é amor, é paixão, união e raça. É uma pluralidade de vozes gritando e ajudando, das arquibancadas os jogadores em campo em busca da vitória, características que fazem parte dos milhares de torcedores de cada parte do mundo. No entanto, o esporte cada vez mais se corrompe e perde o seu lado fascinante e abre as portas para um mal que perdura na sociedade por mais de alguns séculos, e que cada dia mais se tornam recorrentes – o racismo.

foto do Vini Jr. sendo alvo de ataque racistas
Foto: Observatório da Discriminação Racial no Futebol

Os gritos eufóricos para incentivar os jogadores em campo foram trocados por insultos racistas. Dessa vez, Vinicius Jr. atacante do Real Madrid, no último domingo (21/05), novamente foi vítima de racismo, em uma partida contra o Valencia, na Espanha, em que grande parte dos torcedores do Valencia gritavam “mono” (‘macaco’)  antes mesmo do início da partida, e que continuou durante todo o jogo. Grito estes que resultaram na expulsão injusta do jogador, punido por escancarar a violência e que estava sofrendo.

Ofensas que iniciaram com xingamentos, depois com um boneco pendurado, com uniforme do jogador sendo enforcado, em uma ponte, e agora, meses depois, Vinicius Junior ainda é alvo dessa violência ordenada e constante. Até o momento, dez denúncias de racismo já foram registradas, mas que ainda não mostraram nenhuma possibilidade de melhora, e até hoje, desde a primeira denúncia, essa em outubro de 2021, o jogador ainda tem que conviver com seus agressores, conduta que não corresponde não só às expectativas futebolísticas, mas também social. 

Tais ações colocam em evidência a omissão que a La Liga, UEFA, a Fifa, até mesmo o Real Madrid têm tido diante dessas situações. “Quais são os protocolos, quais as medidas, e o que essas entidades estão  esperando para  que essa barbárie seja punida?“, esses são os questionamentos que ficam. Mas, hoje, percebemos que esses questionamentos se desaguam em uma só palavra: o desinteresse. Fica claro a indiferença dessas entidades em combater o racismo, uma vez que, essas práticas são recorrentes, e nenhuma atitude está sendo feita. E até hoje, dia após dia após dia, o jogador se vê obrigado a conviver com seus agressores, nos leva a entender que o racismo está enraizado na sociedade.

Desta forma, o racismo não pode ser naturalizado, afinal, racismo é crime. É inadmissível que ainda no século XXI comportamentos discriminatórios sejam vistos e repassados como algo normal. Dentro das quatros linhas não é racismo que deve vencer. Um jogador, de 22 anos, que é inspiração para milhares de jovens negros,  em um dos maiores clubes do mundo passar a partida inteira ouvindo gritos e gestos de insultos racistas, e ao se defender dos milhares de torcedores que gritavam ‘macaco’ ao jogador brasileiro, Vinicius ainda tomou um “mata leão”, e não satisfeitos, como ‘prêmio’, o jogador foi expulso. Isso não é futebol. 

Episódios contínuos, televisionados, registrados, e que são tratados como casos isolados. Não é só com Vinicius Junior, e não é a primeira vez. Segundo o Observatório de Discriminação Racial no Futebol, casos de de preconceitos contra atletas cresceram 40% nos estádios brasileiros em 2022. Dado que mostra que não é apenas na Europa, mas que no Brasil essas manifestações de injúrias raciais também são repetidas. Os atos e gestos racistas que ecoam dos torcedores revela  que o racismo ainda existe no esporte, e que o futebol, de certa forma, promove esse tipo de violência. 

Caso como o do Vinicius Jr, e dados que expõem um aumento no número de ataques racistas, evidenciam a necessidade de combater esse preconceito. E que não se pode fechar os olhos para o racismo, não se pode banalizá-lo, e não temos que dar espaço para manifestações racistas. Racismo é crime, mata e exclui, e tolerar essas atrocidades, seja dentro ou fora de campo, não é admissível. 

À vista disso, é fundamental que haja uma mudança no cenário esportivo. Enquanto não houver penalizações, atitudes efetivas das entidades e dos clubes o racismo irá se reverberar no esporte. Por isso, tratar apenas como um caso isolado ou naturalizar esses atos faz com que esses torcedores se sintam no direito de atacar não só Vini Jr, mas também jogadores de outros clubes, e até mesmo os futuros jogadores negros.

Essas mudanças devem ser concretas, os clubes e os criminosos devem ser punidos, seja por multas, proibindo a entrada da torcida, apreendendo aqueles que cometem atitudes racistas. Mas além disso, é preciso de conscientização, campanhas dentro e fora dos estádios, campanhas que não devem ser apenas após um ‘caso isolado’, mas sim constantemente. O caso de racismo contra Vinicius mostra a fragilidade do esporte no combate ao racismo. Sendo assim, é preciso desde agora começar uma mudança, para que o racismo não ganhe mais força.

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