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LUCAS GABRIEL REIS TAVARES
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Mais um trator vem arrasando as terras pouco férteis desse Brasil tão gigantesco. Apesar da Proposta de Emenda à Constituição, corretamente apelidada de PEC Kamikaze, ou PEC das eleições, conceder uma série de benefícios aos eleitores, as discussões e votações têm acontecido de forma acelerada e sem qualquer responsabilidade com a transparência.

Na pauta está incluída a retomada do Auxílio Brasil ao patamar de R$ 600,00 e o cadastro de 1,5 milhão de novas famílias, com a promessa de zerar a fila; um “voucher” a caminhoneiros autônomos de R$ 1 mil; Auxílio Taxista, sem valor divulgado; além de subsídios a estados e municípios que atenderem a gratuidade de idosos em transporte público, já prevista em Lei.

No apagar das luzes, ou melhor, no acender delas, às 6h30, os deputados abrem uma sessão (extra)ordinária. Nunca antes foi visto uma ação tão cedo no Congresso Nacional. Curiosamente, um minuto depois foi encerrada, com a decisão de retomar a votação em plenário.

Toda essa confusão, atropelando as discussões e decidindo o futuro do país sem dialogar com as partes mais interessadas, coloca a sociedade comum ainda mais a par do que acontece na Capital Federal. Não iremos entrar no mérito da legitimidade da pauta ou da necessidade de as pessoas terem acesso ao mínimo, isso não se discute. O que intriga é, por que não antes? Por que tão perto das eleições?

Há 62 anos, Brasília foi inaugurada como a nova sede do governo com a justificativa de proteger a capital de invasores marítimos e promover a ocupação do interior do Brasil. No ano de inauguração, o presidente da República, Juscelino Kubitschek, disse a seguinte frase, “Viramos no dia de hoje uma página da História do Brasil. Prestigiado, desde o primeiro instante, pelas duas Câmaras do Congresso Nacional e amparado pela opinião pública, através de incontável número de manifestações de apoio, sinceras e autenticamente patrióticas, dos brasileiros de todas as camadas sociais”.

Apesar da boa intenção, e de cumprir esses primeiros objetivos, a nova sede acabou realizando o grande sonho da maior parte dos políticos: se afastar do povo.

Mesmo sendo construída no meio do nada, Brasília cresceu. Mas não prosperou. Pelo menos não no quesito democrático. As grandes manifestações, comuns na Guanabara, se tornaram eventos esporádicos no Distrito Federal.

Sem falar da desigualdade escancarada nas cidades que tangem o Plano Piloto. Em contraste com as fortunas e orçamentos secretos do Congresso, pesquisadores reafirmam a existência de um “cinturão de pobreza” na capital, onde a violência, o desemprego e a falta de serviços públicos são uma realidade e as sessões da Câmara e do Senado não passam de cenas para inglês ver. O conceito defendido pelo professor Benny Schvarsberg, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (UnB), é o de imbróglio institucional, onde ninguém quer assumir a culpa.

Ninguém se interessa pelo inalcançável, mesmo quando a pauta é um auxílio necessário para muitos. Não são os que mais precisam que estão discutindo. Não se ver representado não gera interesse, gera descrença.

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