- Desafio em dose dupla: Mulheres enfrentam território masculino em campo dominado - 11 de junho de 2024
- Goiás apresenta solo fértil para novos empreendedores em 2024 - 7 de maio de 2024
- O silêncio das patinhas é o barulho mais alto da crueldade humana - 13 de março de 2024
Foto em destaque: Pixabay
Eram três da manhã quando a minha mãe abriu a porta do quarto e disse: “você vai levantar daqui a pouco e ir para escola, porque estudo e conhecimento é a única coisa que ninguém te rouba”. No escuro do quarto eu procurava o apagador da lâmpada enquanto a minha mãe listava 84 motivos pelos quais eu deveria voltar a estudar. O mês era setembro, e de acordo com a minha mãe parar o 3º ano do Ensino Médio por conta de um emprego como vendedora em uma loja de enxovais era uma atitude estúpida, de gente que pensa pequeno.
Depois de faltar as aulas por dez dias consecutivos lá estava eu, às 4h30 da manhã, pronta para ir à escola. O sentimento era de muita raiva… Afinal qual a necessidade de interromper o sono de alguém às três da madrugada para falar sobre a aula que só começava às 7h00? A manhã foi longa… Muito conteúdo para assimilar na mente de quem não teve a opção de acordar com o toque do despertador.
Como dizem por aí… o melhor toque de despertar é o da sua mãe: se você precisa acordar às 7h00 ela vai te chamar às 6h00 falando que já é 8h00. No caso da minha mãe ela aparecia às 3h00 dizendo que era 5h00 sendo que a escola iniciava às 7h00. Essa foi a realidade daquela jovem de 17 anos que após quatro meses perdeu o emprego na loja de enxovais, mas tinha na mão o diploma que, por ora, foi utilizado para ingresso em um curso. Essa formação, meses depois, possibilitou à menina raivosa liderar uma equipe de 35 pessoas em uma indústria de cosméticos e medicamentos.
Os anos se passaram e não demorou muito para eu estar na porta da escola ao som de uma criança que chorava porque não queria ficar ali. Com o coração dilacerado eu falei em modo automático “que estudo e conhecimento é a única coisa que ninguém nos rouba”. O discurso foi longo… E para finalizar eu expliquei que naquele momento parecia ruim, mas no futuro ele iria me agradecer. Foi nesse momento que a ficha caiu: já era a minha vez de atuar como o velho e bom despertador.
Foi necessário apenas quatro meses para responder qual era a necessidade de acordar às 3h00 para falar sobre a escola que só iniciava às 7h00. Mas, o motivo que leva alguém a acordar um pouco antes das 3h00 para pensar na filha que abandonava os estudos por conta de um emprego incerto me levou um tempo maior para compreender… Isso porque o sentimento de mãe só é passível de compreensão quando você se torna uma.