Como anda a greve de roteiristas e atores de Hollywood?

Após 100 dias de greve, nenhum avanço foi feito enquanto produtoras se recusam a aceitar demandas de grevistas
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Raul Modesto

Foto em destaque: Brooke Ganz por Flickr

Iniciada no dia 2 de Maio de 2023, a greve dos roteiristas se iniciou após um desentendimento entre a WGA (Writers Guild of America – o sindicato dos roteiristas americanos) e a AMPTP (Alliance of Motion Pictures and Television Producers – o sindicato dos produtores americanos), sendo motivada principalmente por uma falta de salários justos para os roteiristas e a ascensão de novas tecnologias que, por não terem regulamentação, ameaçam o trabalho destes.

Entre as exigências da greve, a que mais se destaca é a necessidade de uma regulação para o salário de obras em serviços de streaming. O último MBA (Acordo Básico Mínimo) feito entre a WGA e a AMPTP, determinava um piso salarial para os roteiristas do sindicato que atuavam nas produções de filmes e séries exibidos nos canais de televisão aberta e nas grandes telas do cinema.

Entretanto, quando o assunto são os serviços de streaming como séries e filmes produzidas exclusivamente para serviços como Netflix, Amazon Prime, Apple TV+ e outros, os roteiristas – mesmo aqueles dentro do sindicato – devem negociar os seus salários e ganhos diretamente com as empresas, gerando uma precarização nos ganhos dos roteiristas.

Em um levantamento de dados feito pela WGA, na última década, o salário médio de um roteirista diminuiu em 4%, algo que representaria 23%, ao ser ajustado para a inflação do mundo atual. Isso somado ao fato que o acordo MBA expirou no dia 1 de Maio de 2023 – um dia antes da greve se iniciar – aumentou o alarde dos roteiristas e acentuou a necessidade de uma mudança.

A exigência de salários justos também motivou a SAG-AFTRA, o sindicato de atores de Hollywood, a se juntar à greve no dia 14 de Julho, também exigindo uma mudança no piso salarial, principalmente para atores coadjuvantes, normalmente vistos ao fundo, compondo o cenário de uma cena. É a primeira vez desde 1960 que os dois sindicatos entram em greve juntos.

Por causa da greve, produções de filmes que ainda estavam em andamento são afetadas e suas obras finais tendem a ser adiadas ou canceladas. Além disso, atores – por exemplo – não podem participar de serviços de marketing para seus filmes.

Vale ressaltar que a A24, um estúdio de cinema norte-americano, manteve suas atividades em andamento, sem sofrer com os efeitos da greve, pois foi um dos estúdios que aceitou acatar todas as exigências das greves. Apesar da greve, existem produções – normalmente não associadas a AMPTP – que são analisadas e recebem permissão dos sindicatos para continuar sua produção por acatarem as exigências das greves.

A greve de 2008

A última greve que chegou ao mesmo impacto da atual ocorreu nos anos 2007-2008, quando a WGA aprovou mais uma greve contra a AMPTP exigindo melhores direitos trabalhistas para os roteiristas. Possuindo apoio do então presidente americano da época, Barack Obama, a greve conseguiu formar um acordo de honorários mais justos para os roteiristas.

Entretanto, apesar do sucesso da greve, não havia como prever o surgimento e ascensão dos serviços de streaming na época, o que resultou em mais conflitos entre a AMPTP e a WGA sobre os salários de trabalhadores dessa área.

O problema da Inteligência Artificial

Outro problema apontado por ambos a WGA e a SAG-AFTRA é a falta de regulamentação da Inteligência Artificial (IA) e a consequência do uso livre e desenfreado dessa tecnologia. Já havia uma preocupação com este assunto quando o site The Verge informou que, em coletiva de imprensa, o negociador da SAG-AFTRA, Duncan Crabtree-Ireland, revelou o interesse das produtoras de usar IA em atores secundários:

Eles propõem que nossos atores possam ser escaneados e receberem apenas um dia de pagamento por isso. E os estúdios então vão possuir esse nosso escaneamento, imagem e semelhança – e poder utilizá-la pelo resto da eternidade em qualquer projeto que desejarem, sem consentimento e sem compensação.

Duncan Crabtree-Ireland em entrevista para o The Verge

A AMPTP informou para o site que a proposta incluía o uso “revolucionário” da tecnologia de IA e que isso serviria para “proteger as semelhanças digitais dos atores membros da SAG-AFTRA”. Duncan rebateu a afirmação, informando que “se você acha que isso é uma ‘proposta revolucionária’, sugiro que pense novamente”.

Esse caso teria sido um dos motivadores principais para a greve da SAG-AFTRA se juntar a WGA. Os dois sindicatos demonstram preocupação com a falta de controle sobre essa nova tecnologia, visto que ela poderia ser utilizada para os rostos dos atores – como informou Duncan – e para alterações em roteiros, cujos ganhos não seriam repassados para os roteiristas.

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