A rave queer paulistana sob a lente de Pedro Pinho

O fotógrafo documenta a experiência de uma comunidade em espaços de celebração queer e faz das cenas noturnas a grande temática de seu trabalho
Tempo de leitura: 20 min
registro da festa mamba negra em são paulo pelo fotógrafo pedro pinho. há uma pessoa negra com a mão levantada e roupa de couro
Registro do Festival Batekoo, São Paulo (Foto: Pedro Pinho)

São Paulo é uma cidade sincrônica. Todos os dias, em média, circulam pela capital cerca de seis milhões de veículos. Os inúmeros carros, motos, ônibus e metrôs transportam, cotidianamente, os quase 13 milhões de habitantes que passam em torno de 2 horas e 30 minutos de seus dias em um automóvel. Diferentes destinos e diferentes histórias fazem com que essas pessoas, seguindo os seus próprios caminhos, se trombem na madrugada. Hora em que a maioria da cidade ainda dorme e o trânsito diminui. 

Enquanto pessoas engravatadas ainda estão em suas próprias residências, à espera do raiar do sol para fazer o que fazem todos os dias, é a vida noturna de São Paulo que mantém a cidade ativa. Jovens, de diferentes idades, se reúnem praticamente todas as semanas para compor uma comunidade, que muitas vezes marginalizada, encontra espaço para expressar livremente a própria identidade em um cenário industrial tecnológico de música eletrônica.

As raves paulistanas, nos cinzentos edifícios e galpões do centro da cidade, comandam a noite e prescrevem, principalmente, a necessidade de ir contra tudo o que a sociedade impõe. A cena underground torna-se um ambiente voltado para celebração da diversidade e consequentemente, espaço para acolhimento, identificação e engajamento político. Nesses cenários, moldam-se diferentes identidades que descobrem não somente a sintonização de batidas frenéticas, mas também uma narrativa de existência própria. 

É o caso de Pedro Pinho, homem negro e gay, que encontrou nas cenas noturnas de São Paulo o pertencimento que nunca obteve no conservadorismo de sua terra natal, marcado fortemente pela presença religiosa evangélica. Pinho, em São Paulo desde 2015, é fotógrafo e dedica grande parte da temática de seu trabalho para registrar as raves, que passaram a fazer parte de sua vida desde então. 

aqui está uma foto do entrevistado. Pedro Pinho é fotógrafo e dedica a grande temática de seu trabalho documentar as raves
Pedro Pinho (Fonte: Acervo Pessoal)

LN: Você já disse que nasceu no berço do conservadorismo brasileiro, sob muita influência do movimento evangélico. O que mudou no Pedro no momento em que ele se desfez dessas amarras?

Eu vim de uma família muito conservadora, muito religiosa, e isso era uma das partes do meu desejo de sair de Brasília, porque lá obviamente estava associado a todo esse círculo que eu tinha, um círculo profundamente religioso. Na época, e ainda hoje, acredito que exista um certo medo do movimento evangélico brasileiro das artes, e eu não acho que isso seja à toa, porque a arte é um campo de questionamento, de emancipação, de entendimento. 

Pelo menos, onde eu estava inserido no movimento evangélico, eu sentia que o queriam era o não questionamento, era seguir cegamente tudo que era imposto, então, eu ser fotógrafo era uma coisa meio proibida, o que eu acho muito louco hoje em dia que sou mais velho, mas na época eu era mais novinho e achava normal, normal que essas pessoas pudessem ter essas influências sobre mim. 

Naquele momento, eu não circulava entre artistas. Eu não sabia o que era o mundo da fotografia, o que era o mundo da moda… Mas o que era vendido pra mim, era que isso era um lugar depravado, um lugar de pecado, um lugar que deveria ser evitado ao máximo. E eu acabei fazendo o oposto quando fui ficando mais velho, porque querendo ou não, as decisões vão caindo nos nossos ombros e, eu vi que quem teria que lidar com isso pelo resto da vida seria eu. 

São Paulo foi um lugar em que eu pude, pela primeira vez, me distanciar do meu meio e ir atrás das minhas paixões, eu não conhecia ninguém aqui, eu cheguei realmente sem nenhum conhecido e, a partir daí eu consegui ir crescendo e amadurecendo na direção do que eu queria pra mim.

LN: O que a fotografia significa para você hoje?

Que louco isso… Porque foto é algo que eu faço há muito tempo, eu fotografo antes de isso ser minha profissão, tanto que hoje em dia ela ocupa um lugar diferente do que já ocupou na minha vida. Eu sempre fotografei e na época que eu comecei a fotografar, quando eu tinha uns 13/14 anos, estava me formando no ensino fundamental. Eu me lembro que aquilo me bateu de uma maneira… Eu fiquei ´Eu nunca mais vou ver essas pessoas. Minha vida está mudando e eu estou crescendo`. 

Então, eu comecei a fotografar como um dispositivo de memória, como eu acho que a maioria das pessoas, antigamente, fotografavam. O que eu acho sutil, porque hoje em dia fotografamos quase como uma extensão da vida. Eu não sei mais se a memória é o dispositivo primário do porque pegamos nosso celular e apontamos para fotografar algo. 

Crescendo, comecei a tratar a fotografia como uma expressão artística, e aí já me interessava muito mais criar uma coisa do que documentar algo, que é algo que durante minha carreira sempre oscilei bastante. Eu tenho momentos da minha carreira documentais, fotojornalísticos e momentos mais artísticos, tudo a ver com essa documentação crua. Então, acredito que a foto para mim tenha começado como memória e foi se tornando uma expressão artística.

Hoje em dia, estou bem mais interessado em como eu posso dizer algo com a fotografia do que como posso, pessoalmente, me lembrar de algo.

outro registro da festa mamba negra em são paulo, por pedro pinho. agora com dois homens se beijando
Mamba Negra, São Paulo (Foto: Pedro Pinho)

LN: Como você faz seus registros? Tem alguma preferência por equipamento?

Eu acho legal você ter feito essa pergunta, porque acredito que tenha uma máxima que a gente fala para estudantes de fotografia ou para pessoas mais novas, do tipo: ‘Não importa seu equipamento, o que importa é seu olhar’. E eu concordo, mas as pessoas ficam só nisso. 

Quando eu era mais novo eu sentia falta de uma explicação. Ninguém fala de equipamento nunca. Eu pensava: ‘Tenho certeza que existem algumas coisas que fazem sim diferença se você está usando para um meio ou para outro’. 

Eu sou uma pessoa que não lida, ou até bem recentemente, nunca lidei com equipamentos caros. Sempre fui meio ‘se vira’… Eu tenho a mesma câmera digital desde que eu cheguei em São Paulo, em 2015, e nunca troquei. Trocar de câmera é muito caro, e hoje em dia, até posso, mas até muito recentemente, eu nunca pude. Comprei uma câmera usada, quando cheguei aqui, de um dos fotógrafos que eu era assistente. Essa câmera é uma Nikon D750, que é um dos equipamentos de entrada para o mundo profissional. Eu amo ela, mas ela não é muito boa. 

Desde que eu estudei no Texas, eu comecei a ter contato com fotografia analógica, câmera de filme. E hoje em dia, boa parte do meu trabalho é feito de forma analógica, então eu ainda lido com todos esses processos. Eu acho o meio analógico mais fácil de habitar, de obter resultados incríveis. O digital, querendo ou não, acho bem mais difícil de se chegar num resultado diferente, porque nossos celulares vão fazer uma foto boa e, me interessa muito mais captar e conseguir fazer uma foto diferente. E hoje, nessa época em que estamos, em que tudo já foi fotografado extensivamente, eu acho importante buscarmos jeitos diferentes de fotografar, não importa que jeito seja.

essa foto foi tirada por pedro pinho em belo horizonte e nela temos uma mulher de casaco vermelho com o braço levantado em pose
MASTERplano, Belo Horizonte (Foto: Pedro Pinho)

LN: A palavra “rave” tem um significado diferente para você. Pode me explicar um pouco sobre isso?

É a grande temática do meu trabalho. Eu faço muita coisa, trabalho com moda e publicidade também. Quando me mudei para São Paulo, era uma época em que as raves estavam crescendo muito, e crescendo de um jeito específico. Havia muita ideia de ocupar a cidade, de repensar a cidade, então, as raves aconteciam em lugares públicos, sem ingresso. Era como uma praça em algum centro abandonado de São Paulo, lugares em que hoje em dia, o nível de violência cresceu muito e, talvez, hoje, não conseguíssemos fazer. 

Aquilo foi de outro mundo para mim, porque Brasília é uma cidade planejada, desenhada e colocada num papel por alguém. E tudo isso me sufocava um pouco, para mim era completamente opressivo essa ideia de tudo ser planejado, onde daqui você vai pra lá e de lá você vai pra cá. Quando eu cheguei em São Paulo, a ideia desse bando de gente louca, pegar uma praça às 4 horas da manhã de uma quinta-feira, no centro, lugar comercial de gente engravatada e fazer uma rave, era a coisa mais interessante que eu já tinha visto. 

A rave, querendo ou não, surge num contexto muito tecnológico, tem luzes e sons que representam a tecnologia, o techno surge, com ideais industriais. E me interessava mesclar essa modernidade com o antigo, que é o analógico. A partir daí, isso virou minha obsessão e foi onde eu pude aprender a ser fotógrafo. Por exemplo, como vou abordar as pessoas? Era uma coisa que antes das raves, eu não fazia. Tinha pânico. Eu nunca ia tirar foto de alguém que eu não conhecia, nunca fui de fazer isso. Então, como habitar aquele espaço de uma forma que eu conseguisse apontar uma câmera para uma pessoa sem isso ser opressivo? Foram coisas que fui aprendendo. 

Assim como, me certificar que esses movimentos culturais vão ter traço, legado, história. É uma coisa que acontece, passa cinco anos, e já mudou. E sempre me preocupou muito pensar se daqui 10 anos alguém iria saber que isso existia, porque tudo que está à margem do ideal do capital, tudo que não é uma coisa lucrativa de uma grande empresa, cai no esquecimento muito fácil. Então, para mim, foi a coisa mais interessante que eu comecei a fotografar e que eu não me cansava. Todo fim de semana eu fazia isso a noite inteira.

pedro pinho fotografou o dj pepo fernandez em são paulo
Pepo Fernandez, São Paulo (Foto: Pedro Pinho)

LN: As festas como a Mamba Negra1 e o Festival Batekoo2 também são carregadas de muito significado político e social. Como é para você registrar esses momentos?

Aqui em São Paulo, isso virou uma identidade. Eu sinto que aqui temos um nicho muito específico, que eu não sei se é presente em outros lugares do país. Não que eu ache que o Sudeste é o centro, tem muita coisa legal acontecendo em vários outros lugares, mas aqui existe uma coisa da rave, da festa, ser sua vida e, num processo quase ritualístico, acaba virando uma comunidade, um jeito de viver da cidade. É ali que estão todas suas relações. Como se, à noite, você existisse ali e, durante o dia, fosse para o seu trabalho para conseguir a manutenção da sua vida. 

Então, vai fazendo sentido que todas as nossas discussões políticas aconteçam ali. Vira um campo para a prática e questionamento de quase tudo. Eu acho, que em 2015, por exemplo, isso era muito mais forte. Era algo muito mais proibido, de guerrilha, muito mais à margem da sociedade. E isso era até parte do que me interessava, você convivia com pessoas que eram completamente diferentes de você. 

Hoje em dia, cresceu muito e, óbvio, que agentes culturais vão se interessar e vão falar ‘Pô, dá pra ganhar dinheiro ali’. E eu não acho isso errado, as pessoas que organizavam essas festas precisam ganhar suas vidas. Então, a gente teve que ir se associando a coisas que cresceram muito, e aí vai envolvendo dinheiro. Hoje em dia eu sinto que isso se perdeu um pouco, não completamente, várias batalhas ainda são travadas ali. Até porque São Paulo virou uma cidade muito mais difícil, por isso para continuar existindo em São Paulo, a rave teve que se institucionalizar diante do capital, e isso deu dinheiro para muita gente. 

Mas eu ainda acho que em comparação com várias outras coisas, a gente consegue pensar em novas maneiras de existir. Eu acabei de fazer o Festival da Batekoo e, realmente, aquilo é muito diferente de qualquer outro festival. Existe ali uma comunidade, uma identificação, uma possibilidade de ver futuros para pessoas que nunca tiveram isso. Ainda acho que são lugares em que a gente pode fazer muita coisa diferente. E é por isso que ainda estou neles.

o guitarrista entropia faz parte da banda teto preto. pedro pinho também fez esse registro na mamba negra
Entropia Live em Mamba Negra, São Paulo (Foto: Pedro Pinho)

LN: Esses lugares, muitas vezes, são os únicos em que as pessoas se sentem confortáveis para expressar sua identidade. Frequentar esses lugares te influenciou de alguma forma enquanto pessoa e enquanto artista? 

Com certeza, completamente. Quando eu era adolescente, era a época da moda no Brasil e hoje eu percebo como era enfiado goela abaixo um ideal eurocêntrico, de ideais de beleza, de vida, de cultura, que não passava por nenhuma celebração de quem éramos. Um apagamento total para a gente tentar parecer como uma marca qualquer de Paris, que eu acho que essa nova geração tá acabando com isso de uma maneira muito legal.
No final do Festival da Batekoo, nós tivemos o show da Liniker em que ela tava falando: ‘Pô, eu me mudei para São Paulo e a Batekoo era o primeiro lugar que eu ia [sic]. Eu fui de público para headliner de um festival para não sei quantas mil pessoas’. Então, eu acho isso muito bonito e acho muito bonito fazer parte disso. Então meu papel é só de documentar isso, de garantir que daqui 15 anos a gente vai lembrar disso.

LN: Como que você diferencia as fotos de editoriais para as fotos das cenas noturnas nas raves?

Quando eu estou fazendo uma rave ou um festival, é mais ou menos jornalístico. Mas eu acho que eu mudei um pouco isso na minha prática, porque se você olhar minhas fotos, elas são um pouco… doidas. Eu quebro várias regras, em que se eu fosse fazer fotojornalismo, eu não poderia. E eu quebro essas regras conscientemente para fazer algo um pouco mais artístico, porque acredito que esses lugares são ótimos berços de expressão.

Antigamente, só existiam as revistas. Era o único lugar em que você poderia fazer uma coisa mais criativa. Hoje em dia, querendo ou não, revistas servem aos interesses de muitas pessoas, então, quando eu estou fazendo uma revista é muito mais um trabalho, no sentido clássico da coisa. Eu estou prestando um serviço ali. 

Quando estou fazendo essas outras coisas, eu me sinto um pouco mais independente. Absolutamente ninguém me diz o que eu tenho que fazer ou como eu tenho que fazer, eu tenho liberdade total. Quanto a revista, mais ou menos… é mais meu trabalho de dia, do tipo prestação de serviço, apesar de que ainda seja criativo, claro. Mas é menos do que se imagina.

A revista oferece contato com coisas que muitas vezes você não teria. Vai lançar um livro da Vogue, que eu fotografei a Gaby Amarantos, que eu sempre quis fotografar. Então, é uma troca. Eu presto um serviço para a Vogue e em troca, eu fotografo uma pessoa que eu sempre quis, em um estúdio. E do ponto de vista da fotografia mesmo, a revista é um lugar que você vai aprender a ter contato com técnicas de estúdio. Uma tocha de estúdio, aquele flash que fica no tripé, custa em média R$35.000,00… Eu uso umas seis para fazer uma revista. Então, eu mesmo nunca vou ter essas tochas, mas a revista proporciona esse tipo de aprendizado.

foto de um editorial para a vogue brasil feito por pedro pinho. nele, vemos três mulheres com roupas diferentes e coloridas
Vogue Brasil (Foto: Pedro Pinho)

LN: Existe algum tema que você ainda gostaria de explorar na fotografia?

Não, no sentido de que não sei ainda que tema é esse… Mas eu acredito que a vida seja o tema, eu fotografar a rave foi uma coisa que aconteceu, era uma coisa que eu pertencia. E onde eu vou exercer minha fotografia? Onde eu pertenço, isso é onde vai ser mais genuíno. Mas eu acho sim que os temas vão mudando porque você vai, naturalmente, fotografar melhor onde você está, não necessariamente um lugar físico, onde você está de forma ampla. Eu sinto, cada vez mais, que estou fechando um processo com a rave. Até porque a rave que eu fotografava não existe mais tanto assim, mas eu sei que isso vai continuar mudando pelo resto da minha vida. Os temas vão mudando. 

LN: Acho interessante você falar sobre exercer a fotografia no que te pertence. Queria saber sua opinião sobre o limite do fotografar perante o que não lhe é conhecido ou vivenciado.

A gente vem, historicamente, da fotografia como uma maneira de apropriação violenta de narrativas. Foto já foi usada por colonizadores, para chegar no país e fotografar os ‘selvagens’. Os termos da fotografia em inglês são termos de armas, ‘shoot’3. Hoje em dia, existia uma ideia geral, não vou dizer que isso acontece sempre, que você deve primar para que uma pessoa que tenha a ver com aquilo, fotografe.

A Elle4, por exemplo, quando vai fazer um editorial em Salvador, procura fotógrafos que são de lá. E isso faz muito mais sentido do que chamar uma pessoa que não tem nada a ver com aquilo. Ao mesmo tempo, isso é proibido? Não, mas a tendência de você fotografar isso de forma ruim é muito maior. Eu vou chegar na Bahia e vou exotizar a Bahia, porque não vou ter um olhar bom com relação àquilo. 

Dito isso, a fotografia não é apenas literal. Isso é uma das coisas mais relevantes hoje, porque por muito tempo só existiu fotógrafo branco, cis, hétero no Brasil. Ao mesmo tempo, temos o direito de imaginar. Então, não necessariamente, é proibido uma pessoa fotografar aquilo que não lhe pertence. O trabalho vai dizer se você teve a capacidade de se colocar, de enxergar.

A Claudia Andujar5 fotografava a comunidade dos povos originários, dos povos indígenas. E não necessariamente ela estava lá, ela não nasceu ali e não estava fotografando a realidade dela. Porém, ela passou a vida inteira fazendo isso e lutando pelas questões dessas pessoas, então você vê que não é uma coisa rasa. O veredito dessas questões é sempre debatível olhando para o trabalho

Ainda assim, vivemos em uma realidade em que é muito mais fácil para um homem branco ser um fotógrafo do que para qualquer outra pessoa. Eu sempre vou me interessar mais por trabalhos de pessoas que falem de realidades próximas delas.

LN: Isso parece entrar em um debate que também vemos no jornalismo, o da ética. Para você, onde a ética entra na fotografia?

Como meu trabalho é muito mais artístico, essa questão ética do ato de fotografar é um pouco mais simples, geralmente estou fotografando pessoas que querem ser fotografadas, então não preciso passar por muitos questionamentos. A ética para mim é a veracidade do que estou fazendo, e aqui estamos falando de coisas mais subjetivas. A questão ética entra, pra mim, justamente na nossa existência diante do capital. 

Agora, por exemplo, quando eu vou contratar uma pessoa, quanto eu pago pra ela? Eu só contrato homens? Aqui as questões éticas me são mais pulsantes. Eu sou um homem. Se eu estou trabalhando somente para eu existir no mundo da fotografia, eu não estou colaborando muito para as coisas. Há muito tempo que todas as minhas equipes são compostas majoritariarmente por pessoas negras. Então para mim, a ética está mais presente aqui do que numa questão subjetiva.

LN: O que você espera para o futuro e o que pretende alcançar com seu trabalho?

Antigamente, um fotógrafo tinha um estúdio que empregava e assinava a carteira de cinco pessoas. Hoje em dia, com a sucatização dos empregos no país, eu vou pro estúdio e contrato as pessoas por apenas um dia. Eu gostaria muito de ter um negócio maior, no sentido que eu conseguisse mesmo empregar pessoas. Ter pessoas que trabalhem comigo sempre. Eu tenho pessoas que trabalham, frequentemente, comigo. Mas ainda não consigo ter uma empresa de fotografia grande o bastante para eu dar oportunidade do jeito que eu gostaria. 

Eu gostaria, também, de ver mais galerias de fotografia. Temos algumas clássicas, que representam os fotógrafos gigantescos. Mas eu amaria ter uma galeria, no futuro, e poder lidar com fotos que não sejam só as minhas.

fotografia feita por pedro pinho em são paulo, na chamada festa selvagem. é possível ver diveros corpos em movimento
Festa Selvagem, São Paulo (Foto: Pedro Pinho)

Para acompanhar o trabalho de Pedro Pinho e ver mais fotografias, acesse o seu Instagram: https://www.instagram.com/pdrpinho/

  1. Mamba Negra é uma das festas mais importantes e consolidadas de São Paulo. O espaço underground procura, desde 2013, acessar a pluralidade ao proporcionar um ambiente diverso e inclusivo. ↩︎
  2. A Batekoo foi criada em 2014, em Salvador, e migrou para diversas outras capitais brasileiras. Sua principal proposta é a criação de um ambiente voltado para a comunidade negra e LGBTQIA+ das periferias. ↩︎
  3. Shoot” vem do inglês “atirar” ou “tiro” e faz referência ao ato de fotografar, o clique em uma câmera. ↩︎
  4. A Elle é uma revista de âmbito mundial focada em moda, beleza, saúde e entretenimento. ↩︎
  5. Claudia Andujar nasceu na Suíça, em 1931, e estabeleceu-se posteriormente no Brasil, onde deu início a sua carreira de fotógrafa. Claudia é uma fotógrafa ativista e dedicou seu trabalho para as causas indígenas, como a tradição e modo de vida dos povos Yanomami. ↩︎

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