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Segundo dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), no terceiro trimestre de 2023, foram registradas mais de 8,3 milhões de pessoas que não possuem uma ocupação no Brasil. Dentro destes, 3,5 milhões são desalentados – aqueles que gostariam de trabalhar, mas desistiram de procurar emprego por frustração ou o pensamento de que não conseguiriam encontrar -.
De acordo com o Ministério do Trabalho e do Emprego, em relatório publicado no primeiro semestre de 2023, cerca de 5,2 milhões da população desempregada no Brasil era composta por jovens de 14 a 24 anos. Estes números tornam-se ainda mais alarmantes quando apontam para os fatos de que 66% destas pessoas são pretos e pardos e, 52%, mulheres.
Os dados acerca da empregabilidade de jovens no Brasil revelam um grande problema estrutural com o qual o país tem lidado e, aparentemente, continuará lidando nos próximos anos. A pandemia do vírus da Covid-19 também afetou profundamente neste quesito, reduzindo a quantidade de vagas de emprego ofertadas e, consequentemente, agravando o desemprego no país.
O Lab Notícias (LN) conversou com Erika Monteiro, coordenadora educacional da Renapsi, uma Organização da Sociedade Civil (OSC)1 que visa auxiliar jovens em sua entrada no mercado de trabalho através do Programa de Aprendizagem, para esclarecer algumas dúvidas acerca desta temática. Acompanhe a seguir:
Erika, tendo em vista as altas taxas de desemprego entre os jovens, em sua opinião, o que se faz necessário para a mudança desse cenário?
Para combater as altas taxas de desemprego entre os jovens, faz-se necessário uma maior divulgação e fiscalização das políticas públicas de incentivo à inclusão do primeiro emprego, como a Lei da Aprendizagem (Lei 10.097/2000) que estabelece regras, direitos e deveres para a contatação de jovens aprendizes, com idade entre 14 e 24 anos por empresas de médio e grande porte de qualquer segmento do mercado de trabalho. O contrato de trabalho pode durar até dois anos e, durante esse período, o jovem é capacitado na instituição formadora e na empresa, combinando formação teórica e prática, permitindo que o jovem saia desta experiência em condições de ser efetivado e/ou buscar novas oportunidades, com competências profissionais desenvolvidas.
Em seu exercício, ao trabalhar numa empresa que oferece oportunidade de emprego para diversos jovens, qual o principal obstáculo observado que leva jovens a desistirem de uma vaga?
São diversos os motivos que levam o jovem a desistir de uma vaga de aprendizagem, em Goiânia e Região Metropolitana um os principais motivos é a logística, a distância da residência ou escola do jovem em relação a empresa, pois este jovem em sua grande maioria está no ensino regular e o tempo de deslocamento dificulta sua chegada ao local da prática profissional em tempo hábil. No interior, o jovem da zona rural também enfrenta a mesma situação. Outro motivo é a dificuldade em conciliar estudo do ensino regular e programa de aprendizagem, com aumento na implantação das escolas públicas por tempo integral. O salário também é um impeditivo, por ser abaixo do que muitos almejam, principalmente quando buscamos jovens maiores de idade. Estes jovens muitas vezes preferem a informalidade e subemprego, na ilusão de melhor remuneração, mas não se atentam na perca de oportunidade do desenvolvimento profissional.
Quais setores oferecem mais oportunidades de emprego para os jovens e quais estão enfrentando maior escassez de vagas?
Na instituição que represento, as instituições que mais contratam são indústria, serviços e comércio. E as que menos contratam são transportes e agricultura.
Como a pandemia de COVID-19 afetou a taxa de desemprego entre os jovens brasileiros? Houve uma diminuição ou aumento considerável da busca por vagas de emprego?
A Lei da Aprendizagem é por natureza uma lei de cotas, com a pandemia de COVID-19 muitas empresas reduziram seu quadro de colaboradores e faturamento, o que acarretou a diminuição da cota nas respectivas instituições, afetando o volume de vagas para aprendizagem.
Qual o impacto das habilidades inadequadas ou da falta de qualificação na inserção dos jovens no mercado de trabalho?
O mercado de trabalho busca profissionais com conhecimento, habilidades e atitudes que possam contribuir com o desenvolvimento das organizações. São fundamentais conhecimentos básicos sobre ferramentas de informática, como elaborar um bom e-mail e planilhas eletrônicas, hoje o jovem sabe muito bem lidar com a informática para entretenimento, mas não sabe utilizar o celular e computador de maneira profissional. Também são necessárias habilidade de comunicação, gestão do tempo e questionar propositivamente em busca de soluções, tendo atitudes proativas, colaborativas, de pensamento crítico e criativo. Todos estes conhecimentos, habilidades e atitudes são desenvolvidas na capacitação obrigatória, que é ofertada durante todo o contrato do jovem como aprendiz.
De acordo com dados do IBGE, o desemprego no Brasil assola 5,2 milhões de jovens com idades entre 14 e 24 anos e, a principal camada social afetada são mulheres e pessoas pretas e pardas. Existe algum projeto da empresa que tente, de certa forma, abranger mais estas pessoas na inserção ao mercado de trabalho?
A Lei da Aprendizagem por natureza é uma lei de inclusão para todos os jovens de 14 a 24 anos ao primeiro emprego. A Renapsi, instituição que represento, prioriza em seus processos seletivos a inclusão de jovens vulneráveis, abrangendo naturalmente mulheres e pessoas pretas e pardas. Exemplo disto é o programa Aprendiz do Futuro em parceria com o Governo do Estado de Goiás, que atende preferencialmente jovens de 14 a 16 anos inscritos nos programas sociais do Governo Federal, com CAD Único. Neste programa temos jovens declaradamente pretos, quilombola e indígenas.
- “As Organizações da Sociedade Civil – OSC são entidades sem fins lucrativos que objetivam cooperar com o Estado no atendimento ao interesse público, visando produzir transformações mediante a promoção de direitos sociais, conscientização socioambiental e combate à exclusão social, sobretudo no atendimento às pessoas em situação de vulnerabilidade (os mais frágeis da sociedade).”, segundo definição do GOV. ↩︎