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O Brasil ocupa uma posição de destaque no cenário mundial quando o assunto é café. Desde o século XIX, o país se consolidou como o maior produtor e exportador global do grão, papel que mantém até os dias de hoje. A história do café no Brasil está profundamente ligada ao desenvolvimento econômico, social e cultural do país. Além de impulsionar a economia nacional, o café tornou-se parte essencial da identidade brasileira, estando presente no dia a dia da população como um dos hábitos mais arraigados da cultura nacional.
O país não apenas consome grandes volumes, à medida que é o segundo maior consumidor do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, de acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC), mas também influencia tendências de mercado e inovação na produção, exportação e consumo. No entanto, o setor enfrenta desafios constantes, os quais podem ser observados com os altos preços nas prateleiras dos mercados, em que o quilo é encontrado a uma média de aproximadamente 50 reais. O café atingiu, portanto, uma máxima histórica, com aumento de 40% em seu valor de mercado, de acordo com dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A previsão fornecida pela ABIC é que o preço continue subindo até maio de 2025, quando começa a colheita da safra desse ano.
Alguns fatores explicam a disparada do preço do produto, tais como: aumento do consumo no Brasil e no mundo, aumento de gastos de produção e logística, desvalorização do real, cenário de instabilidade causado pela expectativa de uma safra ruim em 2025 e, especialmente, o impacto das mudanças climáticas e ambientais.
A crescente do consumo global do café é uma evidência clara, confirmada pela emergência de um novo mercado consumidor: o asiático, cujo consumo na China, por exemplo, aumentou em quase 150% na última década, de acordo com dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). O alargamento também pode ser percebido no Brasil. “Os números apontam que o consumo da bebida no Brasil entre novembro de 2023 e outubro de 2024 registrou um aumento de 1,11% em relação ao período anterior, considerando dados de novembro de 2022 a outubro de 2023”, afirma ABIC. Nessa perspectiva, torna-se evidente uma relação lógica de mercado, onde a procura é maior que a oferta, resultando, consequentemente, em um aumento do preço.
A manutenção de despesas logísticas é outro fator que influencia no valor final do café, uma vez que a tensão no Oriente Médio e conflitos na faixa de Gaza, influenciam nas rotas marítimas internacionais, as quais desempenham um papel crucial na distribuição global do produto. Portanto, a instabilidade na região demanda que navios façam desvios, prolongando o tempo de entrega e aumentando os custos logísticos.
Seria, então, a economia a principal preocupação da situação que enfrentamos? O cenário é ainda mais preocupante do que pagar 50 reais para tomar o cafezinho tão presente na rotina dos brasileiros. A principal causa do aumento do preço do produto está relacionada às mudanças climáticas, alertando sobre os impactos profundos e irreversíveis ocasionados por essas.
O impacto climático na produção cafeeira é percebido ao longo dos anos. Em 2021, a severa geada que atingiu o Brasil impactou diretamente a produção de café no país. O fenômeno atingiu estados produtores como Minas Gerais, São Paulo e Paraná, onde concentram algumas das maiores lavouras de café arábica do país, e causou danos severos aos cafezais, queimando folhas e ramos das plantas. A produção, consequentemente, teve uma baixa e não se recuperou no ano seguinte, 2022, de acordo com a ABIC, que prevê um período de dois anos para a recuperação das lavouras.
O El Niño de 2023, que resultou em altas temperaturas e longos períodos de estiagem, teve, também, um impacto significativo na produção no Brasil, gerando, mais uma vez, preocupação para o setor. Em 2024, não foi diferente. Não é surpresa para ninguém, ou pelo menos não deveria ser, que as alterações climáticas resultaram novamente em impactos no cultivo do café.
A seca intensa e temperaturas elevadas afetaram diretamente a produção do grão no Brasil e ao redor do mundo, como no Vietnã, segundo maior produtor, que também enfrenta dificuldades devido às mudanças climáticas. O cenário vigente em 2024, o qual possui implicações diretas no aumento do preço em 2025, corroborou em perdas significativas nas lavouras, uma vez que o café precisa de temperaturas amenas e chuvas regulares para se desenvolver, tanto em quantidade como em qualidade.
As altas temperaturas causam, portanto, danos significativos à produção cafeicultura, tendo em vista, por exemplo, que aumenta a perda de água pelas plantas e a desidratação dos cafeeiros. Além disso, cria-se um cenário favorável para a disseminação de pragas, como o bicho mineiro e cigarras. Essas condições, resultam na necessidade de um maior investimento para produção, seja para o controle de pragas ou irrigação.
A intensificação dos eventos climáticos e a frequência cada vez maior estão em concordância com as previsões científicas, que afirmam que o aquecimento global seria responsável pelo aumento das temperaturas médias do planeta e mudanças ambientais significativas, as quais já podem ser percebidas no dia a dia. De acordo com estudos e projeções do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a expectativa é que até 2100, ocorra um aumento da temperatura global média entre 1,8°C e 4°C. Esse aumento, por sua vez, resulta na perda de áreas de cultivo, que em um futuro próximo podem se tornar inutilizáveis.
A pergunta é: Como ficará o clima para as produções futuras? E até quando as mudanças climáticas serão ignoradas? Todo o cenário corrobora para um futuro sem “esperanças”, em que a natureza tende a não suportar o ritmo frenético das ações da sociedade e a falta de iniciativas e ações em prol da preservação ambiental. Pagar cinquenta reais para tomar o famoso cafezinho de todos os dias não acerta as contas com o meio ambiente, a nossa dívida é muito maior e, talvez, até mesmo irreversível.