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A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica como idosas, nos países em desenvolvimento, as pessoas com 60 anos ou mais (60+). Segundo dados da ONU, o Brasil é a sexta nação com o maior número de pessoas idosas. O último Censo, realizado em 2022 pelo IBGE, informou que a população brasileira atingiu 203 milhões de pessoas, sendo que 32,1 milhões, equivalente a 15,8%, eram de pessoas idosas. O IBGE estimou que até 2040, os idosos deverão representar quase 25% dos brasileiros. O mesmo Instituto também apontou que o perfil do idoso mudou. Além da longevidade, o idoso está mais ativo e realiza mais atividades.

O Brasil tem várias leis que tratam das pessoas idosas. A principal delas é a Lei 8.842, de 1994, que instituiu a Política Nacional do Idoso, com a criação do Conselho Nacional do Idoso. O principal objetivo desta lei é assegurar os direitos sociais do idoso, com a criação de condições para a promoção da autonomia, integração e participação efetiva na sociedade. A Lei 10.741, de 2003, instituiu o Estatuto da Pessoa Idosa. O Art. 3º desta lei diz que é obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do poder público assegurar à pessoa idosa, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. A alínea IV do inciso 1º deste artigo enfatiza que ao idoso devem ser viabilizadas formas alternativas de participação, ocupação e convívio com as demais gerações. Como se vê, as IES têm muito trabalho pela frente para se adaptar e atender a essas leis.

Segundo o site Analisa UFG, a instituição possui 20.431 estudantes de graduação. Apenas 46 destes estudantes são alunos 60+, representando 0,22% do total dos alunos. Isso significa que a UFG deve desenvolver novas formas de fomentar o ingresso e permanência dos idosos. Por meio dos dados do Analisa UFG, verifica-se que a maioria dos alunos 60+ encontram-se na faixa de 60 a 70 anos de idade. A aluna mais idosa da graduação possui 78 anos. Destes alunos, 24 são homens e 22 são mulheres, sendo que 39% ingressaram na UFG via Sistema de Seleção Unificado (SISU).

Enquanto os cursos mais frequentados pelos jovens são a Agronomia, o Direito e a Medicina, os idosos possuem maior frequência nos cursos de Filosofia e História, demonstrando mais interesse pela área de humanas nesta fase da vida. O grau acadêmico de bacharelado é o mais procurado. Os alunos pardos, pretos e indígenas são maioria entre os alunos nesta faixa etária. Curiosamente, a maioria destes alunos estudam no período matutino.

Para atender às leis que protegem e incluem os idosos na sociedade, a UFG tem lançado campanhas específicas. O Projeto 60+ conectad@s foi lançado em fevereiro de 2021 pela Pró-reitora de Assuntos Estudantis da Universidade Federal de Goiás (Prae UFG). O projeto visava a inserção de estudantes idosos no mundo digital, uma das principais dificuldades dos idosos nos tempos modernos, ampliando o domínio e o interesse destes alunos pelas ferramentas digitais, de forma a diminuir a evasão.

Mais recentemente, celebrando o Dia Nacional e Internacional da Pessoa Idosa (01/10/2024), a Pró-reitoria de Pesquisa e Inovação lançou a campanha “UFG 60+ idade não define o que podemos realizar” para mostrar que a idade avançada não define a capacidade de uma pessoa em realizar, inspirar, demonstrar competência, disposição física e identificação com novas habilidades e tecnologias.

A Secretaria de Inclusão da UFG (SIN/UFG) participou de reunião que tratou do novo edital de monitoria e chamou a atenção para que sejam observadas as ações afirmativas de inclusão no momento da seleção de bolsistas monitores. Isso também está sendo pensado para a seleção de estagiários no âmbito da UFG. A secretaria considera que é necessário que esse público seja contemplado em todas as políticas afirmativas. Cabe lembrar, neste contexto, que o projeto de extensão UNATI (Universidade Aberta à Terceira Idade), que é oferecido pela PUC-GO, foi descontinuado na UFG. A UNATI existe em várias universidades brasileiras e propõe a educação continuada por meio de cursos e disciplinas à comunidade 60+.

O programa UFG Inclui, instituído em 2008, é o maior programa de inclusão da UFG. Inicialmente ele previa reserva de vagas em todos os cursos de graduação para candidatos negros, quilombolas, indígenas e pessoas com deficiência física, todos oriundos de escolas públicas. A revisão de 2023 incluiu os candidatos Trans (transexuais, transgêneros ou travestis) em situação de vulnerabilidade socioeconômica e que tenham cursado o ensino médio integralmente em escola pública, além de candidatos surdos no curso de Letras Libras. Somente em 2024, a SIN/UFG encaminhou uma proposta de inclusão de pessoas 60+, em situação de imigração forçada e ciganos no Programa UFG Inclui. Cabe lembrar que a UNB adotou, de forma exitosa, desde 2024/1, o ingresso de candidatos 60+ por meio de cota específica.

Como se vê, apesar das ações promovidas pela universidade, ainda são tímidas as iniciativas que promovam o ingresso, a diminuição da evasão e a conclusão de curso dos idosos. Neste sentido, para a profa. Luciana Dias, Secretária de Inclusão da UFG “a nossa universidade está lenta em atender esta demanda, uma vez que esta população já existe dentro da instituição e requer a efetivação de seus direitos. A UFG deve ser mais célere com projetos de curto prazo. Mais que projetos, a instituição deve ter políticas de inclusão.”

A inclusão dos alunos idosos, bem como de todos os demais alunos que fazem uso de cotas, deve pressupor o ingresso, a permanência e a garantia de êxito acadêmico. Para tanto, é necessário acompanhar o desempenho do aluno, uma vez que, sendo diferente, este aluno vai apresentar necessidades e demandas específicas. Como resultado desse processo o aluno deve ter um sentimento de pertencimento da universidade e do curso que está realizando. A instituição necessita acelerar o passo para atender este público que já está na faculdade e que, segundo os dados do IBGE, vai aumentar nos próximos anos.

A comunidade universitária da UFG vem acompanhando as mudanças e aprendendo a conviver com os idosos que, pouco a pouco, vêm ocupando as cadeiras das salas de aula.

O convívio com colegas 60+ pode ser uma experiência enriquecedora, que proporciona aprendizado e trocas de visões de mundo. No entanto, existem relatos de alunos idosos indicando preconceito por parte de alguns estudantes jovens. Em um destes relatos uma aluna 60+ percebeu que era excluída quando tinha que fazer trabalhos em grupo. Também acrescentou que no início do curso teve dificuldade com a informática, fato recorrente em pessoas idosas.

Professores com experiência de dar aulas para alunos idosos afirmam que do ponto de vista cognitivo, não existe diferença em termos de aprendizagem. No entanto, eles constatam diferença em termos de disponibilidade para o aprendizado, pois os alunos idosos acumulam outras atividades e compromissos familiares que a maioria dos alunos jovens ainda não possuem. Segundo esses professores, os alunos idosos são disciplinados e fazem um esforço que pode compensar as outras dificuldades, por exemplo, as relacionadas às novas tecnologias. Salientam, ainda, que a experiência de vida e o repertório que o aluno idoso traz para a sala de aula, enriquece as discussões.

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