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O número de denúncias na Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180 – aumentou em 34,1% no ano de 2024 no estado de Goiás. Ao todo, foram mais de 18 mil atendimentos, uma média de quase 50 denúncias por dia. Dentro dessas ligações, quase duas mil vítimas relatam que são violentadas diariamente.
Cresce também o número de medidas protetivas concedidas. Em 2024, quase 60 ordens judiciais foram autorizadas diariamente no Estado. Segundo a Polícia Militar de Goiás (PMGO), 214.327 medidas protetivas estão em acompanhamento.
Apesar do aumento desses dados, o número de mulheres assassinadas por violência doméstica e familiar ou menosprezo à mulher não teve reduções no ano de 2024 em Goiás. No dia 31 de janeiro de 2025, o governo do Estado anunciou os índices criminais do ano anterior e relatou que 56 mulheres foram vítimas do crime de feminicídio, mesmo número de 2023.
Em quanto tempo uma medida protetiva tem efeito? Para Ariane Martins, ela durou uma semana. A mulher já tinha relatado em suas redes sociais que foi vítima de agressão do ex-namorado e conseguiu a medida de proteção contra Rafael Moura. Na semana seguinte à que Ariane conseguiu a ordem judicial contra o homem, ele assassinou a estudante com mais de 30 facadas em Piracanjuba.
Qual é a distância segura para uma mulher se sentir protegida do seu agressor? As medidas de afastamento variam entre 100 metros e chegam até dois quilômetros, mas, para Regiane Pires, 300 metros não foram o suficiente. A empresária estava em processo de divórcio com Edney Pereira e tinha uma ordem judicial contra o homem. Durante uma discussão, Edney agrediu a vítima e matou Regiane com três tiros em Anápolis.
É possível ficar tranquila sabendo que o seu agressor está sendo monitorado por uma tornozeleira eletrônica? Infelizmente, Gracielle Borges não está viva para dizer que sim. A cabeleireira foi morta pelo ex-companheiro que a atropelou e esfaqueou, em Aparecida de Goiânia. O homem usava tornozeleira eletrônica e rompeu o equipamento antes de cometer o crime. A Delegacia Geral de Administração Penitenciária tentou contatar Gracielle depois da quebra da tornozeleira, mas quem atendeu o telefone foi um homem dizendo que ela tinha sido esfaqueada.
Quantas Arianes, Regianes, Gracielles terão que morrer para que os serviços de proteção às mulheres mantenham elas em segurança? A página da PMGO fala de um aumento de 161% de medidas protetivas graças a ações especiais realizadas pela polícia, mas não ressalta que mesmo com o aumento expressivo, não houve redução do número de mulheres vítimas de feminicídio de 2023 para 2024.
Tornozeleiras eletrônicas e medidas de proteção se tornaram falsos sentimentos de segurança para mulheres. Maria da Penha sobreviveu a duas tentativas de morte e só viu seu agressor ser preso 19 anos depois de deixá-la paraplégica. Atualmente, o nome de Maria da Penha é uma lei brasileira, que garante a vida de milhares de mulheres, vítimas de agressões dentro de casa. Mas a falta de outras medidas de proteção cavam valas que enterram mulheres abraçadas a um boletim de ocorrência que não conseguiu evitar mais um feminicídio.