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O filme Entre Montanhas, mais recente aposta da Apple TV+ com lançamento em fevereiro de 2025, é uma proposta cinematográfica ousada que mistura romance, ação e suspense em uma narrativa surpreendente à medida que nos desafia a repensar os limites narrativos dos gêneros tradicionais.
Dirigido por Scott Derrickson, nome de destaque no terror, e com roteiro de Zach Dean, o longa possui um enredo original, com uma direção que aposta no equilíbrio entre momentos de ação vertiginosa com pausas introspectivas e quase poéticas. O público é conduzido a uma jornada por um desfiladeiro carregado de mistérios, cujo ambiente de isolamento é a chave para construir tensão e aprofundar a psicologia de seus personagens.
A trama acompanha os agentes Drasa (Anya Taylor-Joy) e Levi (Miles Teller), incumbidos de vigiar uma fenda rochosa isolada, que abriga criaturas desconhecidas e de origem obscura, chamadas de Homens Ocos. Em uma metáfora construída pelos próprios personagens: “o desfiladeiro é entrada para o inferno e nós estamos de guarda no portão”. Partindo de uma configuração, simultaneamente claustrofóbica e expansiva, os personagens encontram-se isolados em torres de guarda situadas em lados opostos do abismo, criando assim uma narrativa dual, onde o isolamento físico potencializa a tensão emocional e o mistério que envolve o “inimigo” oculto nas profundezas.
O cenário, que por si só carrega a imponência do desfiladeiro e torna-se um protagonista silencioso, simboliza a barreira entre o dever profissional e a vulnerabilidade humana, obrigando Drasa e Levi a manter uma comunicação à distância, mesmo que expressamente proibida. O roteiro trabalha, então, habilidosamente com o tempo e a construção dos personagens, cuja complexidade e vulnerabilidade é revelada aos poucos, em especial através da tensão que surge, permitindo que o elo entre eles evolua para uma conexão emocional intensa.
Essa dinâmica cria um jogo de espelhos entre isolamento e proximidade, forçando os personagens e o espectador a questionar os limites do que é aceitável em meio a circunstâncias extremas e acrescenta ao filme uma profundidade psicológica, rara em narrativas de ação, ao explorar as emoções humanas que surgem em meio às situações extremas.
Visualmente, Entre Montanhas impressiona com uma cinematografia que aproveita ao máximo a vastidão e o perigo que emana do desfiladeiro. A ambientação, sombria e quase palpável, reforça o sentimento de claustrofobia e urgência que permeia cada cena. Derrickson consegue expressar essa atmosfera que oscila entre o belo e o inquietante, em especial ao levar o espectador a agonia e a torcida pelos protagonistas, quando diante da perda de controle da situação, Drasa e Levi são forçados a descer pelo desfiladeiro, onde precisam pensar em uma estratégia para escapar do perigo e enfrentar a ameaça oculta nas profundezas envoltas pela névoa e escuridão, em uma corrida contra a morte.
O segredo por trás do desfiladeiro é descoberto e a situação é ainda mais sombria do que imaginavam. Levi, registra, por meio de um ensinamento de Buda, que “três coisas não podem ficar escondidas por muito tempo: o sol, a lua e a verdade” e uma decisão pode mudar tudo e revelar o verdadeiro inimigo.
Entre Montanhas impressiona por se arriscar ao misturar gêneros, resultando em um longa que vai além de um simples filme de ação ou terror. A forma como transforma o isolamento e o ambiente hostil em metáforas poderosas, refletindo não só os conflitos internos dos personagens, mas também a complexidade das conexões humanas em meio às adversidades, é um elemento de destaque, e proporciona ao público uma experiência cinematográfica que, ao mesmo tempo, instiga, emociona e surpreende. Para os amantes de narrativas que fogem do convencional é, sem dúvida, uma aposta ousada e instigante no panorama atual do cinema.