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Adan Neto
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Bad Bunny
Bad Bunny no clipe da faixa “TURiSTA” (Foto: Instagram/ @badbunnypr)

No último mês, o cantor porto-riquenho Bad Bunny lançou seu sexto álbum de estúdio “DeBÍ TiRAR MáS FOToS”. O projeto audiovisual conta com 16 faixas inéditas e vídeo clipes que retratam a cultura de Porto Rico, explorando narrativas, gêneros musicais e ícones representativos de sua terra natal. 

Desde 2022, Benito é considerado uma das principais vozes da geração devido a sua contribuição sonora e o trabalho de resgate de narrativas da cultura latino-caribenha. Sua música tornou-se relevante por apresentar ritmos energéticos, composições autorais e retratar o reggaeton em sua mais pura essência. 

Bad Bunny iniciou sua carreira em 2016 quando a música latina ainda estava em um processo de aceitação no cenário internacional. Porém, um ano depois, em 2017, o gênero ganhou destaque com o hit Despacito de Luis Fonsi e Daddy Yankee. 

O estrelato de Benito foi com seu quinto projeto, o álbum Un Verano Sin Ti. Com recordes que o colocou na disputa pelo charts ao lado de fenômenos norte-americanos, como Taylor Swift e Drake, a música latina se consagrou e ressoou pelo globo, posicionando o projeto como o álbum mais escutado da história do Spotify. 

DeBÍ TiRAR MáS FOToS apresenta um resgate da cultura porto-riquenha por meio de gêneros e ritmos musicais influentes na sonoridade latino-caribenha. Jíbaro, salsa, reggaeton e sonoridades afro-americanas dão o tom da produção, que teve seu início marcado com o lançamento de um curta-metragem dirigido pelo próprio artista e por Arí Suaréz. 

O filme segue a história de um idoso porto-riquenho que, ao revisitar sua juventude, enfrenta dificuldades para se conectar com o Porto Rico atual, que está cada vez mais moldado pela influência dos Estados Unidos. Esta será a trama central de sua nova obra, explorando o choque entre a memória cultural e as mudanças sociais do país. 

O contexto histórico de Porto Rico é marcado por interferências imperialistas, tanto espanhola quanto americana. As letras de Bad Bunny questionam as desigualdades sociais locais e a situação de “quintal dos Estados Unidos” devido sua posição de território, que é basicamente uma questão colonial, cujo status é defendido, até hoje, pelo presidente americano Donald Trump. 

A faixa que mais representa a essência do álbum  é “LO QUE LE PASÓ A HAWAii”. No refrão, Bad Bunny canta: “Quieren quitarme el río y también la playa. Quieren el barrio mío y que tus hijos se vayan. No, no suelte’ la bandera ni olvide’ el lelolai. Que no quiero que hagan contigo lo que le pasó a Hawái”. Ao citar o Havaí, o cantor critica a transformação do arquipélago em um playground turístico, bem como questiona a atual marginalização da cultura Maoli, que é utilizada como instrumento para divertir os norte-americanos durante as férias e tem seu “apagamento cultural” motivado pela política imperialista americana.

O videoclipe da faixa “TURiSTA”- canção que utiliza metáfora ao comparar o fim de um relacionamento à relação do turista com o local visitado-, o cantor interpreta um faxineiro limpando um airbnb completamente bagunçado enquanto canta a frase: “En mi vida, fuiste turista. Tú solo viste lo mejor de mí y no lo que yo sufría.”. Bad Bunny, neste caso, retoma ao apagamento da cultura local e sua utilização para fins lucrativos e recreativos dos estrangeiros, já que a ilha sofre, cada vez mais, com os impactos socioambientais devido ao turismo. 

Outro exemplo ilustre está na escolha do mascote: o sapo concho, que é uma espécie endêmica de Porto Rico que sofre com a devastação ambiental local devido à chegada de uma nova espécie invasora, neste caso, americana. 

A latinidade é mais do que apenas ter nascido em uma região específica do globo, é uma junção de traços culturais e modos de viver que une todos: desde o inóspito deserto mexicano até as geleiras da Patagônia. Qualquer latino-americano que escutar o álbum irá se identificar com pelo menos alguma letra ou ritmo. O sentimento de união vem desde a capa do disco: duas cadeiras de plástico em um jardim, já que em diversos momentos de nossas vidas, nos deparamos com ocasiões sociais que foram concebidas no objeto, tornando não somente um marco identitário cultural, como também de representatividade de costumes, tradições e histórias. 

Por mais que a narrativa crítica seja explícita no álbum, o artista dá espaço às outras abordagens musicais, que revelam a versatilidade de DeBÍ TiRAR MáS FOToS. O projeto conta com um valor político e uma curadoria estética impactante que demonstra, em detalhes, o cotidiano latino-caribenho. Afinal, assuntos de “gente grande” e música podem ser grandes aliados. E Benito escancara isso.

Bad Bunny
Capa do álbum DeBÍ TiRAR MáS FOToS (Foto: Instagram/ @badbunnypr)

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