- Sob a sombra das árvores, o peso da vida - 26 de fevereiro de 2025
- ‘Jantar Secreto’: O thriller nacional que provoca, choca e faz refletir - 24 de fevereiro de 2025
- PUC-Rio aposta em IA para curar feridas - 20 de fevereiro de 2025

Aviso: Esta resenha pode conter spoilers.
Nos últimos anos, o thriller nacional conquistou espaço no mercado editorial, e Raphael Montes se consolidou como um dos principais nomes do gênero. Seu livro Jantar Secreto, publicado em 2016, ganhou um novo fôlego nos últimos tempos graças ao BookTok, onde leitores compartilham reações chocadas e discussões sobre a trama.
Raphael Montes é conhecido por seu estilo narrativo afiado, que mistura suspense, violência e crítica social. Formado em Direito, começou sua carreira literária com 16 anos, com o livro Suicidas (2012), thriller psicológico que chamou atenção pelo enredo sombrio e pela construção narrativa engenhosa. Em seguida, vieram sucessos como Dias Perfeitos (2014), O Vilarejo (2015) e Uma Mulher no Escuro (2019), consolidando seu nome no cenário nacional e internacional. Além da literatura, Montes também se destaca como roteirista, sendo um dos criadores da série Bom Dia, Verônica (Netflix), baseada no livro homônimo escrito em parceria com Ilana Casoy.
O livro acompanha Dante, um jovem do interior que se muda para o Rio de Janeiro com três amigos para estudar e tentar uma vida melhor. No entanto, a realidade na cidade grande não é fácil, e eles logo se veem afundados em dificuldades financeiras. A solução encontrada é drástica: organizar jantares clandestinos para uma elite disposta a pagar fortunas por pratos exóticos. O problema? O prato principal é carne humana.
O enredo se desenrola a partir dessa premissa provocativa e mergulha o leitor em um universo de dilemas morais, corrupção, violência e hipocrisia social. Raphael Montes constrói a narrativa de forma progressiva, envolvendo o leitor em um misto de fascinação e repulsa. A trama, que começa com um tom quase cômico, vai se tornando cada vez mais sombria e angustiante, ao revelar camadas profundas sobre o que o dinheiro e o desespero podem fazer com as pessoas.
O grande mérito de Jantar Secreto está na sua crítica social. Apesar de ser um thriller, o livro dialoga diretamente com a desigualdade, o elitismo e a decadência moral da sociedade, diferentemente de seu primeiro livro Suicidas, que é mais choque pelo choque ao não abordar temas sociais relevantes. Montes retrata uma elite disposta a tudo pelo prazer e pelo status, enquanto os protagonistas, domados pelo dinheiro, cruzam limites éticos inimagináveis. Essa dualidade entre vítimas e vilões é um dos pontos mais interessantes da história, tornando impossível enxergar os personagens de maneira totalmente maniqueísta, isto é, vilões completamente maus e heróis totalmente bons. Se é que dá para dizer que há mocinhos e vilões neste livro.
“Comida não tem nada a ver com razão. Muito menos com consciência. Por que você come carne de vaca, por exemplo? Ou melhor, por que raspou o prato de rosbife? Porque foi criado assim! É uma realidade cotidiana! A carne satisfaz, tem sabor e aparência agradáveis. Logo, comemos! O que tem de errado nisso? Absolutamente nada. Com um pouquinho de esforço, em duas gerações comer carne humana vai ser como devorar ovos e bacon pela manhã.”
A escrita do autor é fluida e viciante, com capítulos curtos que prendem o leitor. Além disso, seu humor ácido torna a leitura ainda mais impactante, contrastando com a brutalidade dos acontecimentos. Em comparação com seus livros anteriores, Jantar Secreto se destaca pelo tom satírico e pela forma como transforma o horror em um espelho da realidade social.
Com um final impactante e cenas que desafiam qualquer estômago sensível, Jantar Secreto é uma leitura recomendada para quem gosta de thrillers psicológicos e histórias provocativas. Seu sucesso no BookTok reforça sua capacidade de prender o público e gerar discussões, tornando-se uma das obras mais memoráveis do autor.