- Dia de cão - 26 de fevereiro de 2025
- Com “medo de amar”, mas sem medo de criar, Selena Gomez retoma sua carreira musical - 24 de fevereiro de 2025
- Nike e Skims, de Kim Kardashian, anunciam parceria inusitada - 20 de fevereiro de 2025
Acordei antes do despertador tocar, talvez pela manhã quente ou pelo pressentimento ruim que acordou comigo, independente disso, me levantei, me arrumei e me preparei para mais um dia de labuta ou de luta, como dizem os otimistas. Embora eu seja como diz Choice, um MC que conheci, “daqueles que acreditam que pensar sobre a vitória vai fazer com que você vença”, tá cada dia mais difícil manter isso como verdade. Um mundo onde o dinheiro vale mais que tudo, um governo boçal, com broncos súditos, onde pessoas como eu não se enquadram.
Uma manhã cinza, mas quente. Um dia sem cor. Com um pressentimento ruim e pensamentos fulos, foi assim que cheguei no trampo. Era nove da manhã e o metrô da grande São Paulo fervilhava, hoje era dia de manifestação, mas quem me dera fosse pelos meus irmãos. Coloquei minha “batida” e comecei o trabalho do dia, a meta de hoje era sair vivo, sobreviver ao ninho de cobras, é assim que eu via o metrô cheio de adeptos do Presidente.
Rimei na batida do meu flow. Foram horas, de som, de cochichos e de caretas. Mais um dia no metrô, sobrevivi aos “manifestantes” que estavam no protesto, sobrevivi a tudo, exceto, à supervisora da estação, que avisou aos guardas sobre minha atividade, confesso que, às vezes, sonho em ser escoltado até a saída, de um show, do meu show! Mas ser escoltado até a saída do metrô, como um cachorro corrido, definitivamente não tem o mesmo gosto. Ainda que por sem razão nenhuma, mesmo com a galera curtindo a arte, ainda que com a consciência limpa, o “pré-conceito’’ me precede, essa é a vida de um artista de rua.
Nem adianta dizer que se eu soubesse que seria assim eu nem viria, porque eu sabia! Minha mãe sempre me dizia, que Deus sempre está presente, assim a intuição não mente, a gente sempre sente. Ao voltar pra casa, vazio na alma, a frustração é grande, mas a fé segue no peito constante: a favela vai vencer, eu vou vencer. Só preciso viver esses dias de cão primeiro.
Acordei, antes do despertador tocar.