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Daniel Mynssen
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Imagem gerada por Inteligência Artificial

O barulho veio antes do impacto. Um estrondo seco, de coisa que não devia se chocar, de rotina que não devia se quebrar. Depois, tudo parou. O trânsito, os compromissos, a pressa. Naquele segundo suspenso entre o susto e a dor, só uma coisa me veio à cabeça: eu estou cansado. Mas não era só do acidente. Era de tudo. Da correria para a faculdade, das mensagens acumuladas do trabalho, da agenda que nunca fecha, dos problemas que surgem antes que os antigos se resolvam. Da sensação de que viver virou um checklist infinito, onde descanso é um item sempre adiado.

Fiquei ali, com a cabeça pesada, tentando entender o que vinha primeiro: a burocracia ou o conserto, a dor ou o alívio de ter um motivo legítimo para parar. Engraçado como a gente só percebe o peso quando desaba. Como precisa de um freio brusco, literal ou figurado, para notar que já vinha no limite. Porque, no fundo, o cansaço não chega de repente. Ele se instala aos poucos, como uma lâmpada piscando até apagar de vez.

Mais tarde, quando tudo acalmou e a adrenalina baixou, a reflexão veio. Por que precisei de um acidente para perceber o óbvio? Por que, mesmo tão exausto, nunca parei antes? E mais do que isso: o que significa, hoje em dia, descansar?

Descansar virou um conceito vago. Não se trata mais de simplesmente parar. Parar, aliás, virou sinônimo de fracasso. Se não estamos correndo atrás de algo, estamos ficando para trás. Se não estamos aprendendo uma nova habilidade, estamos desperdiçando tempo. Se não estamos respondendo mensagens ou produzindo algo, estamos sendo negligentes. E aí, quando tentamos relaxar, nos jogamos nas redes sociais (o que, ironicamente, só nos cansa ainda mais).

Porque não basta estar presente, tem que registrar. Não basta se divertir, tem que compartilhar. Não basta ter um tempo livre, tem que usá-lo de forma “produtiva”. As redes sociais transformaram o descanso em mais uma tarefa. Aquilo que um dia foi refúgio virou um ciclo de exaustão. Você entra para relaxar e sai sentindo que deveria estar fazendo mais. A vida dos outros, editada e otimizada, é um lembrete constante de que a sua não parece suficiente.

E assim seguimos, sem saber mais o que é parar de verdade. Até que algo maior nos obrigue. Até que um acidente, uma doença ou um colapso físico nos force a perceber o que insistimos em ignorar. No dia seguinte, seguimos em frente. Chamamos o seguro, remarcamos os compromissos, voltamos para a rotina. Mas talvez, só talvez, a gente aprenda a frear antes que a vida freie por nós. A perceber que não é fraqueza precisar parar. Porque, no fim das contas, uma hora a gente cansa, e tudo bem. O problema é quando só percebe isso depois do impacto.

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