Euripedes Jonathan Cavalcante Brito, mais conhecido como Jonathan Cavalcante, tem 28 anos e é jornalista e radialista que trabalha na Rádio São Francisco FM, em Anápolis, há 7 anos. Atua como repórter, apresentador, operador de áudio e editor de site.
O jornalista, formado na Uni Araguaia (Goiânia), que também é radialista e repórter policial, já recebeu diversos prêmios como reconhecimento por seu trabalho que busca atender as necessidades de seus ouvintes e levar somente informações verídicas ao público, evitando a propagação de Fake News. Além disso, em 2020, foi um dos repórteres que fez a cobertura da operação de repatriação de brasileiros em Wuhan (China), em 2020, na Base Aérea de Anápolis-GO.

O que te motivou a seguir a carreira de jornalista, especialmente na área do rádio, e quem são suas inspirações?
A minha trajetória na comunicação começou desde criança, porque meu pai, o Brito, é radialista. Desde os primeiros anos de vida, eu frequentava as rádios de Anápolis onde ele trabalhava. Muitas vezes eu o acompanhava nos programas, que eram musicais, principalmente à noite. Com o tempo, fui aprendendo a operar a mesa de som e o computador.
Quando eu era pequeno, ainda tinha dificuldade para falar, era gago, mas fui me desenvolvendo. Já adolescente, comecei a assumir a mesa de áudio em programas religiosos. Depois disso, fui evoluindo para a gravação de comerciais.
Ao terminar o ensino médio, fiquei em dúvida entre educação física e jornalismo. Como não havia curso de jornalismo em Anápolis, fui estudar em Goiânia. Trabalhava em uma ótica e, no segundo ano, prestei vestibular na PUC (Pontifícia Universidade Católica) e Uni Araguaia e consegui passar.
No sexto período, comecei a trabalhar como freelancer na rádio São Francisco, cobrindo jogos de futebol. Depois, surgiu uma vaga no jornalismo da emissora, que era AM na época, e me consolidei lá. Já estou há sete anos na mesma rádio.
Essa trajetória veio muito do meu histórico familiar. Meu pai e meu tio Carlos Cândido, que faleceu, me incentivaram muito. Aprendi muito com eles, especialmente com meu pai, com quem convivo desde sempre. Escolhi essa profissão porque gosto e tenho paixão pela comunicação e pelo rádio.

E o que mais te encanta ou o que você mais gosta, no trabalho como radialista?
Então Cibelly, uma das coisas que eu mais gosto, é fazer um trabalho que vem de berço, um trabalho com propósito, especialmente quando envolve a interação com o público. Saber que posso usar a comunicação para o bem, para ajudar pessoas — mesmo aquelas que estão a quilômetros de distância — é algo que me motiva muito. No rádio, criamos uma intimidade com o ouvinte. Mesmo falando para muitos, a mensagem chega de forma pessoal. Nosso programa, por exemplo, atinge cerca de 100 mil ouvintes e alcança 85 municípios.
É gratificante saber que as pessoas confiam no nosso trabalho, que pedem ajuda por meio da rádio — seja uma troca de lâmpada ou uma situação mais delicada. A relação se torna quase familiar. Gosto de acolher, de usar uma linguagem próxima, de responder no WhatsApp, de reconhecer quem nos procura. Não é só pela recompensa material, mas pelo reconhecimento e pela certeza de que estou cumprindo meu papel.
Num cenário repleto de desafios, como as fake news e a desinformação, acredito que podemos — e devemos — usar nossos meios, seja rádio, TV ou redes sociais, para comunicar a verdade. Dormir em paz, com a consciência de que dei o meu melhor, é o que me inspira.
Para quem está começando na comunicação, acredito que essa mensagem precisa ser passada: ter propósito é essencial. Mesmo lidando com temas delicados como a política, é possível fazer uma comunicação honesta, porque isso é a essência do jornalismo. No meu trabalho como radialista, quando alguém me reconhece e diz que acompanha meu programa, faço questão de anotar o nome para mandar um alô, porque o público do rádio é fiel — muitos dizem que “se saiu na rádio, eu acredito”.
Essa confiança nos dá uma enorme responsabilidade. Por isso, também valorizo levar notícias positivas ao ar. Mesmo diante de tantas tragédias, precisamos também comunicar aquilo que alivia o coração. Isso também é jornalismo.
Agora, me conta um pouco sobre como é sua rotina de produção e apresentação no rádio e, na sua opinião, quais são as principais habilidades que um profissional precisa ter para atuar bem nessa área?
Na minha opinião, independentemente da área dentro do jornalismo ou da publicidade, o que um profissional precisa ter é dedicação. Não dá pra fazer um trabalho pela metade. Eu costumo ir até 50%, mantendo um certo limite pra não me esgotar fisicamente e mentalmente. Mas acredito que a dedicação é o diferencial pra se destacar.
Minha rotina começa às cinco da manhã. Tomo um café rápido e passo na delegacia porque também sou repórter policial. Coleto informações do plantão e chego na rádio por volta das 6h. O jornal começa às 6h20 e vai até as 9h, de segunda a sábado. Eu apresento e também opero a mesa de áudio, junto com o comentarista Newton Rodrigues. A gente passa pelas manchetes, previsão do tempo, destaques do esporte, ocorrências policiais e a participação dos ouvintes.
Depois do jornal, começo a produção do programa do dia seguinte ou vou cobrir reportagens agendadas e factuais, como coletivas. Às vezes não dá nem tempo de almoçar direito. Também produzo conteúdos para o site da rádio e redes sociais — escrevo, edito e publico. Gravo áudios, vídeos, tiro fotos… hoje o repórter tem que ser multimídia.
Cada dia é diferente. Saio de casa sem saber o que vou encontrar. Já precisei cobrir alagamentos de chinelo, por exemplo. E por isso volto a dizer: é preciso dedicação. Mas também é importante cuidar da saúde, dormir bem, se alimentar direito, porque ninguém é insubstituível.
Cada um vai se encaixar na área em que tem mais afinidade: alguns preferem polícia, outros política, cultura ou entretenimento. Mas, seja qual for, a dedicação é essencial.
Pegando esse gancho que você citou, sobre se organizar para também fazer esse trabalho nas redes sociais, você acredita que o rádio ainda tem força na era digital? Como ele se reinventa?
Então Cibelly, na minha opinião, o rádio continua sendo um meio forte porque soube se adaptar às novas tecnologias. Antes, ele era limitado à transmissão por ondas sonoras, mas hoje está presente também no YouTube, Instagram e outras plataformas digitais. Eu mesma já gravei entrevistas no estúdio e publiquei trechos em vídeo nas redes sociais, o que amplia muito o alcance. Já fiz promoções que começaram no rádio e se integraram ao Instagram e ao site, unindo o tradicional ao moderno. A tecnologia melhorou muito a qualidade das transmissões, com ferramentas como WhatsApp, Skype e Telegram, permitindo entrevistas até com pessoas fora do país. O rádio se reinventa constantemente, e mesmo diante de apagões ou crises, ele se mantém firme, informando em tempo real. Ele está presente em todos os lugares: em casa, no carro, no trabalho, pela internet. Por isso, acredito que o rádio, assim como a TV e o impresso, vai continuar existindo, sempre se atualizando.
E aproveitando que você mencionou que ocorrem esses apagões e crises, eu gostaria de saber se você também já passou por alguma situação difícil e delicada no ar, e como lidou com ela?
Então, o período mais delicado foi na época da COVID, né? Porque teve muita restrição, a gente teve que se adaptar, usar máscara, reduzir equipe. E o rádio teve um papel muito importante nesse tempo, porque a informação era essencial — avisar sobre vacinação, prevenção e tudo mais. Não dava pra parar.
No ar, acontecem vários imprevistos. Às vezes o computador trava, ou o canal da mesa dá problema no meio do programa. Teve vez que um ouvinte mandou áudio com coisa que não podia, e se a gente não escuta antes, acaba indo pro ar. Já aconteceu também de eu estar entrevistando um borracheiro ao vivo, e no meio da fala ele começou a dizer em quem votaria. Aí tirei o microfone e segui o jogo com naturalidade.
Teve uma época que fiquei sem voz, e mesmo com vontade de falar, tinha que lidar com essa limitação. Essas coisas ensinam, dão bagagem. Porque o rádio é isso — é você, o microfone e o improviso. Muita gente da TV veio do rádio justamente por causa dessa vivência intensa e imediata que ele traz.
E agora, também para falarmos de coisas boas, quais foram os momentos mais marcantes da sua carreira até agora? Te acompanhando, vi que recentemente recebeu um prêmio de Radialista Mais Lembrado de Anápolis. Esse é considerado um dos melhores momentos ou tem algum outro acontecimento ainda mais marcante?
Já tive a oportunidade de receber algumas premiações na câmara e também através de pesquisas de opinião pública. Esse é o segundo prêmio que recebo como o repórter e radialista mais lembrado da cidade, mesmo estando ainda no início da minha carreira — estou chegando no sétimo ano atuando como repórter. Comecei na Rádio São Francisco, mas também passei por outros veículos, inclusive digitais, em Goiânia.
Fico muito feliz com esse reconhecimento, mas também sei que isso aumenta a minha responsabilidade. Quando você sobe um degrau, é natural que as pessoas passem a te observar mais de perto. E algo que aprendi desde criança com meu pai é que a humildade cabe em qualquer lugar. Ser premiado não significa ser melhor que os outros. O importante é entender que tem espaço pra todo mundo — quem se dedica, se destaca.
Um dos momentos mais marcantes da minha trajetória foi cobrir a chegada dos repatriados de Wuhan, na China, em 2020, no início da pandemia. Nem a rádio sabia — fui por conta própria, de madrugada, até a base aérea de Anápolis, entrei no ônibus com jornalistas do Brasil inteiro. Ali percebi como a dedicação realmente faz diferença.
E o mais bonito é que, além dessas grandes coberturas, momentos simples também marcam. Como a senhora que saiu de casa só pra ir até a rádio me conhecer e pedir um alô. Tudo isso tem um valor enorme.
A gente precisa saber aproveitar esses momentos com consciência, com fé, com humildade. Porque não é sobre ser melhor que os outros — é sobre crescer com propósito, com Deus no comando, sempre lembrando da importância da nossa saúde, do nosso ambiente e da nossa espiritualidade.

Na sua opinião, quais são os maiores desafios do jornalismo hoje? E como você enxerga o futuro da profissão, especialmente para quem está começando agora?
Um dos maiores desafios que enfrento como comunicador, tanto como receptor quanto emissor de informações, é a ingerência política. Me preocupa ver pessoas tentando se infiltrar no jornalismo para tirar vantagem, e infelizmente alguns colegas acabam virando marionetes, manipulados por interesses, muitas vezes ligados à política. Isso me incomoda, especialmente ao observar certas situações aqui na Câmara Municipal de Anápolis. Mas não podemos desanimar. O jornalismo é o quarto poder e incomoda justamente por sua força. Por isso, sigo firme, buscando sempre uma comunicação responsável, com ética, compromisso e transparência.
Sobre o futuro da profissão, especialmente para quem está começando agora, vejo um caminho promissor, apesar dos desafios. É um processo de maturação, que exige paciência e educação. As novas tecnologias, como a inteligência artificial, podem ser grandes aliadas — desde que usadas como ferramentas, não como muletas. Não é só pedir para ela fazer tudo. É preciso ter conteúdo. A IA pode ajudar na revisão de texto, edição de áudio, entre outras coisas, mas quem está começando precisa aprender a usá-la com equilíbrio, para realmente agregar valor ao seu trabalho.
E qual legado você gostaria de deixar como profissional da comunicação?
Meu legado… acho que é mostrar que o esforço e a dedicação valem a pena. Eu fui um rapaz gago, tive dificuldades na infância, mas nunca sofri bloqueio da minha família. Minha mãe, meu pai, todos sempre estiveram comigo. É um legado de que vale a pena correr atrás dos nossos sonhos e objetivos.
Na comunicação, quero que as pessoas lembrem que eu era amigo, parceiro, alguém que buscava sempre a melhor forma de comunicar — seja uma notícia trágica ou inusitada. Que a minha mensagem pudesse chegar ao maior número de pessoas possível. Talvez nem todos gostassem do meu jeito, da minha abordagem ou opinião, mas se eu conseguisse plantar uma sementinha no coração de quem me ouviu ou leu, isso já me deixaria feliz.
Também quero deixar esse exemplo para os meus filhos — que eles possam olhar pra mim e ver um espelho de profissionalismo. Mesmo que escolham outros caminhos, que vejam em mim um pai dedicado, um bom profissional, e queiram seguir esse exemplo, assim como eu me espelhei no meu pai. Esse seria um legado bonito de deixar pra minha família.