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Faltando pouco menos de sete meses para as eleições para presidente, deputados federais e estaduais, além do senado, os embates e formação de verdadeiros exércitos nas redes sociais preocupam especialistas. Está dada a largada para a corrida que definirá o futuro do Brasil para os próximos quatro anos. E a ligação desta corrida com a internet é constante, afinal de contas, a internet é uma realidade em oito de dez casas brasileiras, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
E toda essa rede de pessoas conectadas deve ser observada atentamente. Afinal de contas, 80% dos lares estão em rede, ou seja, conectados de forma instantânea com o mundo via internet. Mas você deve estar se perguntando? sim, as pessoas estão conectadas, mas será que essa conexão tem algum impacto direto no resultado das eleições? Nossa reportagem foi atrás desta resposta e ao longo deste texto você descobrirá o que está por trás deste universo chamado internet.
A internet como Palco Político
Você possivelmente deve acompanhar as notícias pela internet, ou até mesmo, seguir um determinado candidato em alguma das diversas redes sociais. A internet é o ambiente de muitos acontecimentos na atualidade, prova disso é que o Brasil é o terceiro país do mundo que mais utiliza redes sociais no mundo, fica atrás somente das Filipinas e da Colômbia, de acordo com a We Are Social, agência global que estuda as redes sociais. Em média, o brasileiro permanece conectado todos os dias cerca de 3 horas e 42 minutos. Importante destacar aqui que conforme estudiosos da psicologia, o tempo ideal de conexão nas redes é de no máximo 30 minutos por dia, ou seja, as pessoas estão conectadas de forma desenfreada, mas vamos ao assunto das redes sociais e a política brasileira.
E como vários políticos utilizam-se das redes para propagar e difundir as suas ideologias, a reportagem conversou com o cientista Político e especialista em marketing político e digital Rodrigo Brum, para falar sobre este terreno arenoso chamado internet e redes sociais. Para ele, é importante destacar que a rede mundial de computadores não é um local isolado, mas palco de muitos fatos, e que necessita de atividade diária.
É essencial ter uma constância no ambiente digital. Afinal, os seguidores passam a esperar por aquele momento. Com isso é possível atrair mais engajamento e dar maior visibilidade ao perfil. A estratégia digital deve ser avaliada de acordo com o perfil de cada candidato. Por exemplo, tem políticos que são mais engajados no Twitter, outros no Instagram, para isso, é sempre importante ter pesquisas em mãos, que avaliam o público-alvo, o tema principal da campanha, a persona e linguagem e principais redes sociais a ser utilizada por cada candidato.
Com a utilização das redes como local de disseminar e divulgar bandeiras, a moderação e a análise do que é exposto deve ser utilizado por todos os seguidores que acompanham os candidatos, e claro, observar as mudanças já que o ambiente das redes muda o tempo todo, como destaca o especialista.
Muitos candidatos “compram seguidores”, logo não é possível converter com exatidão o sucesso nas redes sociais com êxito nas urnas. Mas é claro que, ainda mais depois da pandemia, a presença digital é essencial para o crescimento de qualquer candidato, mas ainda não é maior fatia do bolo. A presença digital hoje pelo candidato é necessária, porém, só isso não basta, é preciso aliar as redes sociais com as demais estratégias de campanhas.
Em uma pesquisa realizada em um perfil do Instagram com 1.723 seguidores, foi questionado se as redes sociais têm o poder de mudar o resultado das eleições. 98% dos seguidores acreditam que sim, as redes podem mudar o rumo do país pelos próximos quatro anos.
A reportagem identificou os presidenciáveis brasileiros com o maior número de intenção de votos de acordo com a última pesquisa Data Folha, divulgada em 24 de Março e constatou que mesmo com maior engajamento do que o seu principal concorrente, Jair Messias Bolsonaro (PL) perderia o primeiro turno com 34% das intenções de voto.
Já o candidato que venceria o pleito seria o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com intenção de votos de 56%. Vale destacar que a pesquisa entrevistou 2.556 eleitores em 181 cidades brasileiras, com percentual de erro de 2% para mais ou para menos.
O gráfico acima representa a quantidade de seguidores que cada candidato possui na rede social Instagram, a reportagem retirou o nome do ex-juiz Sérgio Moro, uma vez que o candidato que representaria a legenda do União Brasil foi substituída por Luciano Bívar. Consideramos então os demais com maior número de intenção de votos.
O ódio nas redes sociais disfarçado de ideologia política
Agora que a reportagem esmiuçou a quantidade de seguidores, as intenções de voto, os caminhos que os dois maiores rivais da disputa para as eleições de Outubro, vamos abrir a caixa de pandora para lhe mostrar um outro lado, sombrio, severo, com disseminação de ódio gratuito que muitas vezes parece distante dos usuários, mas que na verdade está há alguns cliques.
As eleições acontecem no dia 02 de Outubro, mas verdadeiros exércitos tem sido montados de forma planejada e organizado para levantar votos para determinados candidatos. A nossa reportagem de forma anônima entrou em dois grupos denominados “de extrema direita” e “de extrema esquerda” para acompanhar diariamente como é feito a distribuição de conteúdo e as convocações para ações em defesa ou ataque de determinados políticos ou ideologias partidárias.
Por motivo de segurança, não nos identificamos ao adentrar estes grupos, o perfil deste repórter que vós escreve se manteve de forma anônima para evitar qualquer tipo de retaliação.
Grupo Bolsonaro 1 – Rede Social: Whatsapp
No grupo 1 (com 227 usuários) os disparos de mensagens começam logo cedo, por volta de 07h00 da manhã, são mensagens de Bom dia, e claro, informações de como será a agenda daquele dia. Essa agenda divulgada previamente informa ações que estão acontecendo pela cidade de Goiânia, como por exemplo, adesivaço em locais espalhados pela cidade. Em seguida, é definido o assunto do dia. Em determinados dias, a quantidade de mensagens se torna impossível de ser acompanhadas. Estes dias são costumeiramente quando o Presidente está com algum dissabor com determinado assunto ou pauta.
As pautas são definidas de acordo com o que está sendo votado no dia, se a Câmara de Deputados ou Senado está votando ou debatendo algum projeto que não seja da ideologia bolsonarista (Termo utilizado para definir apoiadores do Presidente Jair Bolsonaro) centenas de mensagens são enviadas atacando os relatores dos projetos. As mensagens jamais teriam como entrar nesta reportagem, são palavras de baixo calão, xingamentos, ataques pessoais aos parlamentares, citando pessoas da família dos deputados e senadores.
Foi identificado que as publicações feitas no grupo não batem com as publicações realizadas pela imprensa tradicional, ela chega de forma distorcida. Elementos como o título e o lead jornalístico (Parte inicial do texto onde é identificado o quê, quando , onde como e porquê) são retirados de forma proposital, e no lugar, manchetes opinativas a respeito do tema tratado adiante.
Links são enviados com áudios durante todo o dia pedindo para que a mensagem seja compartilhada com o maior número de pessoas, o objetivo é que as mensagens circulem pelo máximo de aparelhos possíveis. Analisamos a constância com que estas notícias eram publicadas diariamente, cerca de 35 a 40 notícias por dia. Um leitor de algum veículo de comunicação não consegue ler essa quantidade de informação em um dia apenas, uma vez que textos jornalísticos possuem em sua estrutura informações detalhadas do que está sendo noticiado. E claro, como o preço da rede é a temporalidade, o intuito ali não é a divulgação do fato, mas a replicação instantânea da mensagem.
É acionado de forma instantânea correntes de WhatsApp, por meio de vídeos, sem fontes confiáveis, ausência total de chegarem junto aos órgãos. A opinião domina de forma impressionante o debate dentro do grupo. E engana-se quem pensa que os próprios apoiadores do Bolsonaro não se digladiam entre-si. Durante a estada no grupo 1 a equipe de reportagem presenciou de forma virtual embates envolvendo assuntos como falta de segurança pública e condenação de policias. Notadamente, este grupo é formado por policiais militares da ativa e reformados.
Grupo Socialista 2 – Rede Social: Whatsapp
No grupo 2 (Com 40 usuários), nomeado de forma ilustrativa como Grupo Socialista 2, as mensagens também começam cedo, por volta de 6h50 da manhã, todos os dias. O tom das conversas é diferente do grupo 1. Discurso moderado, diálogos menos inflamado e pautas que envolvem o universo dos direitos humanos e justiça social. Na análise de conteúdo desta reportagem, foi levantado durante os 20 dias de permanência no grupo foi possível verificar que o tom sempre é definido de acordo com o que o noticiário coloca em foco. Assuntos como fome, inflação, desigualdades sociais, reformas tributárias e econômicas em geral definem os assuntos diariamente.
Os debates são realizados por volta de 20h00 da noite todos os dias. Neste horário é iniciado discussões de como foi o dia em Brasília, Rio e São Paulo. Nossa equipe de reportagem percebeu que o tom moderado do grupo é definido de acordo com os organizadores do grupo. Caso algum participante do grupo ofenda ou não apresente direito de reposta para qualquer pessoa do grupo que inicie alguma discussão sofre da sua exclusão na rede social.
O grupo socialista é organizado, com regras, normas e diretrizes identificada. A cada vez que algum participante novo entra no grupo, as normas são reenviadas, uma espécie de aviso. Importante destacar que cotidianamente o grupo é alvo de ataques digitais. Estes ataques são com imagens pornográficas, xingamentos e disseminação de conteúdo ofensivo.
Não foi difícil para a reportagem adentrar os dois grupos, tal procedimento foi possível em uma das aulas de laboratório integrado e a escolha em determinar qual grupo foi definida de acordo com os radicalismos identificados nas diretrizes dos grupos.
A reportagem optou por entrar em grupos assumidamente radicais para medir a proporção do que é disseminados nas redes, o tipo de conteúdo e qual a narrativa direcionada para cada campo ideológico. Confira um conteúdo a partir de relatos de leitores do site para mostrar qual a opinião das pessoas diante do que é visto ou publicado nas redes, e claro, respondendo a pergunta central desta reportagem.
Afinal de contas, as redes sociais podem mudar a opinião das pessoas e gerar o voto em determinado candidato? Ao longo desta reportagem, mostramos que sim.
Neste conteúdo, o jornalista e especialista em marketing digital Felipe D’estefani, conta um pouco de como gerir corretamente as imagens no ambiente das redes. Confira o vídeo na íntegra abaixo.
A jornalista e escritora Patrícia Campos Melo publicou em 2020 pela Companhia das Letras a obra “A máquina do ódio – notas de uma repórter sobre fake news e violência digital“, narrando a violência sofrida devido a uma série de reportagens publicadas na Folha de São Paulo, tradicional veículo de comunicação da imprensa brasileira. Ataques por perfis de pessoas identificadas e não identificadas as redes sociais da jornalista, além de ameaças de violência contra o próprio filho de 7 anos de idade foram alguns dos motivos pela qual a repórter decidiu desativar os seus perfis nas redes.
A conexão é uma realidade para a maioria da população mundial, mas a moderação e o bom uso das redes deve ser um dos pilares que sustente o ambiente virtual. É importante sempre manter um canal de diálogo com os seguidores, prezando pela transparência e confiabilidade, o seguidor e possível eleitor precisa confiar na imagem de “bom político” criada pelo candidato, afirma Rodrigo Brum.
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- Escrita por Sinval Lopes e Raiane Silva, em 05/05/2022 às 21h52