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Esses dias peguei um uber para a casa do meu namorado e o carro parou no semáforo do cruzamento da avenida Universitária com a rua Bolívia, um dos mais movimentados de Anápolis. Como de costume, para os dias sem chuva, estava instalada no canteiro central uma pequena exposição de itens à venda: bolas coloridas, cavalinhos infláveis, sacos de lixo com rótulos diferentes daqueles que encontramos no supermercado… Muito plástico debaixo do sol quente. Calor também pareciam sentir os tapetes felpudos pendurados em varais que iam de uma palmeira a outra, ao lado das toalhas dos presidenciáveis.
As toalhas! Lembrei de verificar como estavam naquele dia: Não tinha Lula, havia quatro bolsonaros e algumas bandeiras nacionais que com “ordem e progresso” queriam dizer, muito isentas, “meu partido é o Brasil” – essas eram uma novidade. O motorista comentou: “É… Pelo jeito, Bolsonaro vai ganhar mesmo!” num tom que poderia ser ou não de lamento. Havia pouca coisa no ar para pegar… A música era a da rádio; a conversa era curta e imparcial; como os jornais, ele tinha medo de dar opinião contrária à do freguês. Ousei: “Você acha? Por que?”
“Eu passo por aqui quase todo dia e já tem um bom tempo que não vejo a cara do Lula, além disso tem os carros adesivados, também não vejo do Lula.” Respondi automaticamente: “Mas as pesquisas dizem o contrário…” Ele interrompeu: “Aaah mas não dá para confiar nessas pesquisas não, Eles pagam para aparecer no topo!” Fiquei quieto. Como se diz para uma pessoa que a realidade é real sem fazê-la cair de sono com metodologias e cálculos estatísticos quando existe a obviedade simples das toalhas? Visíveis como a cor do céu?
Em algum ponto no último ano a ideia de secar-se após o banho com a imagem de um político passou a soar como uma forma perfeitamente não sexual de expressar o próprio posicionamento – quantos sustos já devem ter levado os fãs do capitão com o rosto dele os encarando, autoritariamente, através de um quarto bagunçado! – Mas, além disso, as toalhas também se tornaram uma forma de termômetro das intenções de voto: quem não está na toalha, não está com o povo. Quem não é visto não é lembrado.
Para o meu uber não havia estatística ou notícia, ele acompanhava frequentemente o Datatoalha e a partir de uma seleção de dez peças de tecido adivinhava os rumos do país. Como muita gente faz com política ou com a vida, ele guardava areia em um potinho de azeitonas e julgava conhecer todas as praias do mundo. Por fazer assim, pensava também que todos os demais faziam igual — inclusive as misteriosas pessoas que inventam números para as pesquisas de intenção de voto nas quais ele não acreditava.