‘Para mim a internet não vai substituir a rádio. Porque a rádio é uma cultura’, comenta Helton Fabiano

Para comentar sobre os desafios de rádios do interior, convidamos Helton Fabiano, Locutor e Apresentador da Rádio regional Sul da Bahia
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A rádio é um veículo midiático responsável por levar informação e entretenimento a diferentes locais do País e nos mais remotos. Em 07 de Setembro de 2022, a rádio completou 100 anos de veiculação, juntamente com o Bicentenário da Independência do Brasil. O primeiro conteúdo a ser veiculado foi o pronunciamento do então Presidente da República, Epitácio Pessoa. Desde então a rádio vem evoluindo, se tornando FM, garantindo um maior alcance e se espalhando pelo Brasil, transportando informação e comunicação.

Inúmeras rádios comerciais e independentes foram criadas pelo interior do País. Cidades do interior viram seu avanço e a chegada de emissoras de rádios em suas regiões, e hoje ainda são bastante presentes nestes locais. Para comentar sobre este assunto, o LabNotícias convidou o Locutor e Apresentador do RádioJornal Tribuna da Tarde, na rádio regional Sul da Bahia: Helton Fabiano.

Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal do Entrevistado

LabNotícias (LN): Bom, para começarmos Helton, quais as principais diferenças entre as rádios em grandes capitais e as rádios locais do interior?

Helton Fabiano: Para mim existem várias diferenças entre as rádios do interior e as rádios da capital, a principal delas é estrutural. Quando eu digo estrutural me refiro a tudo, no caso, na parte financeira, há uma diferença enorme, gritante. Há uma diferença também da capacidade, diferença de material e também na forma de se trabalhar.

A locução numa rádio de cidade grande é muito mais dinâmica, mais para frente, mais rápida do que numa cidade do interior. Justamente pelo fato da cidade grande ser correria o tempo todo, o povo tá pilhado e elétrico sempre. Na cidade do interior as coisas são bem mais calmas, então há uma diferença, da forma de se relacionar com o público – embora, eu acho que a rádio do interior ela lhe proporciona uma intimidade maior com o público.

LN: Helton, você citou referente a dinâmica da rádio do interior. E quanto aos desafios que as rádios tem no alcance de transmissão?

Helton Fabiano: Aqui na rádio que eu trabalhava nós nunca tivemos tanto problema com relação ao alcance, porque temos uma serra e o nosso transmissor fica no topo da Serra. Então a gente conseguia atingir 70 municípios e alcançamos também algumas cidades do Estado de Minas Gerais. Porém, considerando outras rádios do interior de cidades vizinhas, o alcance é um problema porque geralmente são só 8 km ou 9 km, sendo no máximo 20 quilômetros.

É um alcance restrito somente a dentro da própria cidade, há rádios que eu conheço aqui de outros municípios que são só entre elas. Contudo algumas outras também, como algumas de Itabuna e de Ilhéus, elas já conseguem chegar aqui. Não chega na mesma qualidade, contudo conseguem chegar aqui.

LN: Para você, qual a importância da rádio como plataforma de denúncia para a população do interior?

Helton Fabiano: A rádio é de extrema importância, pois nesse sentido ela dá voz à população, todo mundo tem acesso à rádio, todo mundo pode entrar em contato com a rádio. Mas nem todo mundo tem acesso aos políticos, aqueles que representam à nossa cidade e nem todos gostam de chegar até eles, de ir a uma sessão numa câmara e reclamar publicamente. Então, a rádio proporciona ao cidadão poder fazer sua crítica, sua reclamação, poder reclamar de uma rua que está esburacada, de um serviço que está sendo prestado com deficiência, e de tantas outras demandas. E é claro também, assim como poder elogiar algum trabalho que esteja sendo feito. Então o principal de tudo isso, é a rádio proporcionar ao cidadão ter uma voz.

LN: Você comentou que trabalha com a música também. Então de que forma as rádios podem servir como plataforma para a visibilidade de artistas locais?

Helton Fabiano: Na época em que eu trabalhei como locutor de programa musical a internet para nós, eu acho que na maioria dos interiores não eram como é agora. Não tinha tanta facilidade de se utilizar, era uma época de discada ainda, na rádio que eu trabalhava era discada e as pessoas não tinham smartphones. A grande maioria ainda não tinha smartphone, eu acho que era mais para grandes capitais e fora do Brasil e não tinham todas essas redes sociais.

Eu me lembro que tinha começado naquela época o Orkut, então as rádios eram de extrema importância para os artistas locais poderem divulgar os seus trabalhos. A gente tinha um critério na rádio que a gente trabalhava, a gente ouvia, avaliava a qualidade do material, porque não poderia colocar um material de qualquer jeito. E aí o material, passando pela avaliação de qualidade, a gente jogava no ar.

Se não passasse, a gente retornava para o músico que pediu, pedindo para ele fazer uma gravação nova com uma qualidade melhor, para a gente poder tocar, porque naquela qualidade não ficaria legal. Então assim, a gente conseguiu ajudar muitos artistas, muitos aqui fizeram até sucesso regional e conseguiram ser contratados pela Som Livre. Então a gente conseguiu ajudar muitos artistas dessa forma.

LN: Você comentou sobre a internet na rádio e uma certa dificuldade que se tinha antigamente. Hoje como está essa realidade no seu jornal? Percebe-se essa mudança da internet em rádios do interior?

Helton Fabiano: Sim, com certeza a internet ela veio para somar, algumas pessoas dizem que a internet está tomando o lugar da Rádio.

Para mim a rádio vai sempre existir, a internet não vai substituir a rádio. Porque a rádio é uma cultura, ela não é meramente um objeto, é uma cultura e uma cultura que não vai acabar.

Helton Fabiano, Locutor e Apresentador.

Exemplo: A maioria das pessoas quando viajam, digamos que de 100 pessoas, 90 ligam o rádio e não põe o pen drive ou uma música no celular. É claro que obviamente que com a chegada da internet os programas musicais perderam espaço, porque você tem qualquer música, em qualquer horário no seu aparelho celular. Entretanto vários programas jornalísticos da rádio ganharam uma maior audiência e uma maior participação, porque tem o WhatsApp e as pessoas podem enviar denúncias, perguntas, tanto via mensagem, quanto áudios. As pessoas gostam de ouvir seus áudios sendo veiculados na rádio, então a internet ajudou muito mesmo neste quesito.

Foto: Reprodução/Pixabay

LN: Sobre essa questão da internet e a rádio: a Rádio foi pioneira na circulação da informação e na comunicação, porém hoje vemos que vêm perdendo espaço nas grandes capitais. Como está a Rádio no Interior: ela vem perdendo espaço ou ainda continua relevante na circulação de informação?

Helton Fabiano: Sim, eu concordo que vem perdendo espaço devido a velocidade e globalização da internet. Uma informação na internet, seja ela verdadeira ou falsa, em poucos minutos tá rodando o mundo, então ela chega muito mais rapidamente a mais pessoas, o que na rádio há uma certa restrição. Ou seja, se você pega uma rádio que alcança em 70 municípios, você circula uma informação e ela só vai circular nesses 70 municípios; agora se você lança na internet e as outras pessoas compartilham e compartilham, ela vai chegar no mundo inteiro. Logo é fato, e é com todo a razão que a rádio tem perdido o espaço na questão da informação e propaganda, tanto na capital quanto no interior. Porém no interior ainda de uma maneira menos drástica do que na capital, embora também aconteça.

Mas você pode perguntar: a rádio hoje ela não está ultrapassada? Ela não é mais para os idosos e tal? Os jovens não dão muita importância para rádio? Não, porque eu conheço muito jovens, muitas pessoas que não leem um jornal pela internet, não assistem TV e nem o jornal, contudo todas as vezes que entram nos seus carros ligam a rádio e ouvem notícias pela rádio. Então vai muito da comodidade do que te atende e em qual horário.

LN: Você acabou citando a Televisão e um problema que temos é que geralmente os canais de TVs do Interior afiliadas à Capital de cada estado acabam retransmitindo conteúdos da Capital. Na rádio também temos essa característica ou a produção tem matérias locais e independentes?

Helton Fabiano: Algumas rádios sim, tem essa retransmissão de produções afiliadas à Capital. Nós temos aqui a rede Bahia, que é uma rede de TV e de rádio também. Agora não são todas, tem as rádios independentes de empresários e as rádios comunitárias que não são afiliadas.

LN: Bom Helton, como comentamos anteriormente, nos últimos anos cresceu o número de pessoas que se informam pela internet, e com isso surgiu a Fake News. O jornalismo tem trabalhado em defesa de explicar o óbvio e combater notícias falsas. Como a rádio participa desse processo de defesa e combate de Fake News?

Helton Fabiano: Isso é interessante você citar, porque no meu programa eu sempre alertava muitos ouvintes que nem tudo que se vê ou se ouve na internet é verdade. E que muitas vezes eles pegavam esse conteúdo e passavam para a gente, e a gente não veiculava nenhum conteúdo retirado da internet que a gente não tivesse certeza da veracidade dos fatos.

Então a gente alertava muito aos ouvintes quanto ao cuidado que deveria se ter ao consumir notícias na internet, porque nem tudo que se vê na internet era de uma procedência real. Portanto, que pesquisassem antes, que procurassem saber com antecedência, principalmente no período eleitoral, para não comprar como verdade tudo que é vendido na internet.

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