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Lia Machado é uma jovem cantora goiana. Em 2019 um vídeo da artista viralizou no Twitter, chegando a 179 mil visualizações. Em 2020, Lia lançou seu primeiro clipe no Youtube, com a mesma música intitulada “Cidade Apagada”.
Luanna Marques: Você tem algum familiar ou alguém próximo que também canta?
Lia Machado: Profissionalmente não. Mas eu tenho uma prima que canta lindamente, faz participação nos meus shows. Ela foi uma referência dentro da minha família, a gente pegava o violão, tocava e cantava juntas.
Como e quando você começou a cantar? Como surgiu essa vontade de viver de música?
Canto desde que me entendo por gente, brinco que desde que um violão coube no meu colo eu estava ali. Me apresentava na escolinha quando pequena, cantava nos almoços de família. Tudo começou quando fui à praia pela primeira vez. A casa em que fiquei era em cima de um barzinho e tinha uma moça cantando e gostei muito. Sempre tive brilho nos olhos pelo microfone, por poder levar um som gostoso para as pessoas.
Qual foi sua reação com o alcance que a prévia de Cidade Apagada teve no Twitter?
Foi o primeiro vídeo que postei cantando em uma rede social. Sempre fui uma pessoa muito vergonhosa, foi uma barreira que fui quebrando com o tempo. O vídeo é do primeiro show que fiz. Decidi postar no Twitter e deixei o celular de lado. Quando abri, já estava uma coisa surreal. Fiquei sem entender, mas foi muito bom. Tive ótimos feedbacks, minha música começou a rodar na cidade.
Conta um pouco sobre a história de Cidade Apagada.
Sou uma pessoa que gosta muito de altura. Uma vez, eu estava no apartamento de um amigo, fui no terraço, depois desci para buscar algo no apê. Quando abri a porta do apartamento, a sacada estava toda iluminada com a luz da cidade. Peguei uma folha e comecei a escrever, me veio várias ideias na hora, juntei várias coisas de vários momentos da minha vida. Escrevi a música, no outro dia peguei meu violão, fui mudando algumas coisas, cantei a música e fiquei muito feliz com o resultado. É uma música pela qual tenho muito carinho.
Como foi lançar sua primeira música no Youtube e Spotify?
Me senti muito chique. Posso falar que tenho uma música lançada, antes eu falava que cantava e tinha somente aúdios de Whatsapp. Agora, você consegue colocar minha música no story do Instagram, escuta no Spotify, tem clipe no Youtube. Soltei para o mundo. Foi uma realização muito grande, uma emoção.
Você acompanha os artistas de Goiânia?
Sim, e gosto muito de todos os estilos, do rap ao sertanejo. Sou uma grande admiradora. Acredito que a cena goiana tem que se abraçar mais, tem pessoas incríveis que podem ter contato com outras pessoas incríveis e passar isso adiante.
O que não falta nas suas playlists?
Eu escuto de tudo. Escuto muito a galera de Goiânia, sou fã e me inspiro neles. De modo geral, escuto muita música brasileira, gosto de rap acústico. Cynthia Luz, Buda, Froid, Xamã, Delacruz, Zarastruta. E falando daqui de Goiânia, curto 7 copas, Nairo, PKN.
Qual a parte mais difícil de viver de arte?
Viver de arte é muito incerto. Com a pandemia, por exemplo, a galera que vivia de shows em barzinhos ficou sem ter para onde correr. O processo de fazer seu sonho virar algo rentável e que você consiga pagar suas contas é muito incerto.
O que é arte para você?
Arte é o que toca, o que te faz pensar além do que você vê ou escuta, arte é o que te causa sensações, sentimentos, não é um conceito único.
Quais são suas maiores dificuldades enquanto artista?
Sendo sincera, sou muito grata a todas as oportunidades que eu tenho e reconheço um certo privilégio para tudo isso. Tenho uma boa condição financeira, pude comprar meu equipamento, correr atrás de fazer os meus shows, tive oportunidade de conhecer bons estúdios e sei que isso não é acessível a todos.
Além de cantar, o que você gosta de fazer no tempo livre?
Gosto de tocar violão, compor, praticar atividade física, qualquer coisa que libere endorfina. Gosto de ficar com minha família, escutar música [risos], gosto de ler.
Como é sua rotina?
Faço faculdade de Publicidade e Propaganda e trabalho no escritório de marketing do mesmo estúdio que sou artista. Tenho meus ensaios, minhas produções, composições, busco praticar alguma atividade física, me alimentar bem e tento ter um tempo para ficar com os amigos e a família.
Como concilia seu trabalho atual com a música?
Já tive mais dificuldade. Trabalhar hoje em dia está muito melhor para mim porque eu trabalho no escritório de marketing da produtora em que sou artista. Mas já trabalhei em café shopping, em um açaí. Teve uma época em que ia para a faculdade na parte da manhã, trabalhava das 15h às 01:00 da manhã e ia para o estúdio depois de sair do trabalho. Muitas vezes ia para a faculdade no outro dia virada, sem dormir.
Qual o papel da internet para você enquanto artista?
Com toda certeza a internet me ajudou muito, é um facilitador. Comecei há pouco tempo e muito por conta do vídeo do Twitter que viralizou. Hoje em dia, posto minhas músicas e tem uma repercussão bacana. Conheci pessoas que vieram de longe só para me ver tocar, conheci gente da música pela internet, meu produtor, por exemplo, conheci pela internet. Ele viu um vídeo meu e foi procurar meu Instagram.
Qual foi o impacto da pandemia no seu trabalho?
Impactou 100%. Um pouquinho antes da pandemia, comprei equipamento de som para conseguir organizar shows melhores, estava com vários shows contratados. Tinha muitas expectativas para o ano de 2020. Mas consegui aproveitar para produzir e hoje estou com um EP completo feito na pandemia. Então deu certo por essa questão de conseguir até um tempo a mais devido as coisas terem sido por home office.
Você já se apresentou algumas vezes na cidade, qual é a sensação?
A sensação é a melhor do mundo. Parece que nasci para fazer aquilo. Sou muito feliz no palco. Sempre tive muita vergonha, então fico nervosa, pode ser o milésimo show. Sinto aquele frio na barriga. É lindo ver o público cantar, saber que alguém saiu de casa para te prestigiar. Fiquei muito agoniada na pandemia pela falta de shows.
Conta um pouco sobre o processo de produção de uma música.
Minhas músicas saem de papeizinhos, do bloco de notas do celular, de uma ideia no banheiro da faculdade, onde pego um violão e crio algo em cima. Hoje tenho parceria com um produtor que abraça as minhas ideias, mostro algumas referências e a gente quebra a cabeça juntos até dar certo. Às vezes, demora dias, meses mexendo na música até pensar “É isso! Não tem como não ser isso.”
O que sua família acha sobre você cantar?
Minha família me apoia muito. Meus pais vão aos shows, ajudam, estão sempre presentes com palavras e gestos. Acreditaram em mim até quando eu não acreditava. Esse apoio é essencial. Meus amigos também sempre me ajudaram muito, às vezes o público do meu show era meus amigos reunidos e eles cantavam as músicas, faziam a festa.
Conta um pouco sobre suas inspirações na hora de compor.
Relacionamentos, pessoas. Componho pensando em tudo, às vezes escrevo a partir de coisas imaginárias, a vida me inspira, conhecer histórias me inspira. Compor é amplo, contanto que você coloque sua verdade naquilo.
Quais suas metas enquanto cantora/artista?
As maiores possíveis. Não me vejo fazendo outra coisa, fico feliz com a reação das pessoas com o som que estou fazendo. Quero crescer muito, ver o máximo de pessoas de coração aberto me escutando cantar.