Cultura do cancelamento: quando a busca por justiça instantânea ameaça a liberdade de expressão e o diálogo

Cancelamento do Tirulipa na Farofa da Gkay nos leva a refletir sobre os limites impostos, mesmo em ambientes onde “tudo pode”
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BRUNO JOSE GOULART DARUGNA

Cancelamento do Tirulipa na Farofa da Gkay nos leva a refletir sobre os limites impostos, mesmo em ambientes onde “tudo pode”.

A cultura do cancelamento tem se tornado cada vez mais presente na sociedade atual. O cancelamento, que pode ser definido como a prática de boicotar ou deixar de apoiar uma pessoa ou empresa que tenha cometido algum tipo de comportamento considerado ofensivo ou inapropriado, tem se tornado uma forma de justiça instantânea e um meio para a busca de uma sociedade mais justa e igualitária. No entanto, essa prática pode acabar indo longe demais e gerando efeitos negativos.

Um exemplo recente dessa cultura do cancelamento aconteceu na festa Farofa da Gkay, em dezembro de 2022. Durante o evento, o humorista Tirulipa fez uma brincadeira considerada ofensiva por muitas pessoas, onde puxou o laço do biquini da atriz e cantora Nicole Louise, durante uma simulação da “banheira do Gugu”, em que os participantes competiam procurando sabonetes em uma banheira. O momento era de descontração e todos pareciam estar confortáveis com o ambiente. Contudo, o ocorrido foi classificado como assédio, gerando uma grande repercussão nas redes sociais, o que o levou a ser alvo de cancelamento por parte de vários internautas e, até mesmo, expulso da festa.

No caso da Farofa da Gkay, há também a questão da enorme liberdade proposta pela festa. Inclusive há um espaço chamado “Dark Room”, onde as pessoas vão para trocar carícias mais íntimas, beijar e, até mesmo, fazer sexo. O evento, que é conhecido por ser uma celebração da diversidade e da liberdade, foi criticado por internautas que viram na brincadeira do Tirulipa uma quebra dessa liberdade.

Algumas perguntas deixo aqui: Em um ambiente tão permissivo, até onde vai a liberdade? Não teria a proposta da festa, de grande liberdade e descontração, propiciado tal atitude? E o cancelamento e expulsão do Tirulipa, também não teria sido um gesto radical? No entanto, é importante lembrar que a liberdade não é absoluta e deve ser exercida com responsabilidade e respeito ao próximo.

O problema com a cultura do cancelamento é que muitas vezes ela não permite o diálogo e a reflexão, mas apenas a imposição de ideias e comportamentos. Isso pode levar à perda da liberdade de expressão e ao surgimento de uma cultura do medo, na qual as pessoas acabam se policiando excessivamente para não serem canceladas.

É fundamental que a cultura do cancelamento seja exercida de forma consciente e responsável, sem ferir o direito à liberdade de expressão e ao diálogo. O cancelamento pode ser uma forma de pressionar para mudanças positivas, mas é preciso lembrar que as pessoas também têm o direito de errar e aprender com seus erros. O importante é que haja espaço para a reflexão e a mudança, sem cair em extremismos que prejudicam a todos.

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