Resenha | Tudo o que Respira, uma mensagem sobre unidade e empatia

Documentário traz reflexões frente aos problemas socioambientais em Nova Délhi
Tempo de leitura: 4 min
Ana Paula Ferreira
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Foto em destaque: Divulgação | HBO

Diretor Shaunak Sen by Reuters | Ben Makori

Documentário indiano, que se destaca em meio aos de mesmo gênero produzidos no eixo norte-americano. Lançado ao final de 2022, a produção registra a luta de dois irmãos mulçumanos, Nadeen Shehzad e Mohammad Saud, para salvar o Milhafre preto, ave de rapina, que sofre com a poluição do ar de Nova Délhi. Em meio às dificuldades que enfrentam para salvar os milhafres, também são registrados as crescentes tensões sociais deflagradas no país.

É dirigido por Shaunak Sen, diretor indiano, especialista em documentários. Outro trabalho de Sen, Cidades do Sono, lançado em 2015, evoca as tensões sociais da Índia, mais especificamente em Nova Délhi. Através de suas lentes, o cineasta busca, em ambos os documentários, dar voz àqueles que são marginalizados, na capital do maior país do mundo, em número de habitantes. Muito do sucesso do filme é atrelado ao boca a boca. Foi indicado ao Oscar de Melhor Documentário Longa-Metragem e vencedor do Prêmio Golden Eye de melhor documentário, na 75ª Edição do Festival de Cannes.

Por ser uma produção indiana, e aquém do mote de produção, Europa-Estados Unidos, Tudo o que respira, chegou às plataformas de streaming no início de 2023, mesmo sendo lançado mundialmente no ano anterior, em 2022. O filme teve pouca adesão pelo grande público, se compararmos a visibilidade e adesão de David Attenborough e Nosso Planeta, documentário dentro do eixo de produção já conhecido e bem aceito. Mesmo tendo mais dificuldades de chegar a públicos de outros continentes, o filme alcançou incríveis 99% de aprovação no Rotten Tomatoes e nota 7,0/10 no IMDb. 

Cena de “Tudo o que respira”

O filme com uma temática envolvente e honesta a respeito da realidade que assola Nova Délhi, atualmente, registra problemas sociais e de cunho ambiental. A insalubridade mostra-se presente ao longo de toda a trama, bem como a sutil mensagem de unidade que prevalece em meio às dificuldades que surgem. Apesar de alguns problemas técnicos de filmagens que podem passar despercebidos pelos menos criteriosos, Tudo o que respira é uma boa opção para entendermos que somente focar nos sintomas não dirimi o problema, apenas o suaviza.

Com uma abordagem social, o filme é carregado de frases de impacto que traz, a quem está assistindo, reflexões a respeito da reação em cadeia que as ações humanas geram tanto para os animais quanto para os próprios seres humanos. Outro aspecto abordado, se faz presente na luta dos irmãos em conseguir financiamento para melhorar as condições de resgate e cuidados com as aves.

Um hospital improvisado no porão da casa onde moram, usado para tratar as aves de rapina, em condições precárias chama a atenção. Os poucos recursos que dispõem, são usados para o resgate dos milhafres pretos. Mais ao final da trama, os irmãos conseguem o financiamento para investir em melhorias, porém a realidade difícil e de deterioração que a cidade enfrenta vai de encontro a esse avanço dos irmãos, devido às dificuldades para chegar à casa dos irmãos, onde o hospital está instalado.

Pôster promocional

Tudo o que respira é um filme que retrata situações emergenciais regionais. Contudo, a essência das lutas que registra, pode ser replicada aos variados problemas ao redor do mundo. A trama, ao suscitar a unicidade como uma ferramenta de combate aos problemas sociais e ambientais, coloca à prova o ditado “para mudar o mundo, devemos mudar a nós mesmos”. Sem o reconhecimento do problema, empatia e unicidade, como o próprio documentário mostra, o problema nunca deixará de existir.

A experiência de assistir ao documentário, e a própria história registrada, se assemelham a uma ida à farmácia. De nada adianta, irmos à farmácia e consultar o farmacêutico sobre o melhor remédio para as feridas espalhadas pelo corpo e colocarmos um band-aid, sem tratá-las antes. Combater os sintomas não resolverá o problema. Essa mensagem, é sintetizada pelo diretor, Shaunak Sen, na última cena do documentário, onde um dos irmãos vai aos Estados Unidos em busca de melhorias técnicas no cuidado com os milhafres, porém a falta de recursos básicos em Nova Délhi, ainda se faz presente.

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