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Ana Paula Ferreira
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Acordo cedo, o celular, berrando ao lado da cama, indica 5h50 da manhã. Uma segunda-feira e Duas semanas, separam o fim do semestre. No dia anterior, arrumei meus horários da semana, devido a impregnação contagiante de ânimo que tive, após rolar o feed das redes sociais e encontrar conteúdos motivacionais. Lembro-me perfeitamente da frase que me deu o ápice de dopamina que precisava para agir naquele domingo de preguiça. “A segunda começa no domingo”.

Sentando metodicamente na minha cadeira de estudos, dentro da biblioteca municipal Cora Coralina, abro a agenda e me desanimo. Constato, aquela dose cavalar de motivação havia se esvaído, não durara ao menos 24 horas e eu tinha muitas atividades a serem cumpridas ao longo daquele dia. Levanto os olhos e aprecio o silêncio externo e a imensidão de livros que dentro de si jorram histórias. Penso, “Por que não?”. Pego um livro, da prateleira de autoajuda. Nada pode me ferir. Título forte, começo a lê-lo e me perco entre suas páginas. Os ensinamentos sobre autossabotagem e dicas de como vencer a procrastinação, em 10 simples passos, me contagia. Voltei ao mundo real com o alarme avisando que já era hora de cumprir outra tarefa, e eu nem sequer tinha feito a primeira. Tinham se passado impressionantes 2 horas. 

Mais uma dose de ânimo e parto para as tarefas. Estava indo bem, juro, mas a notificação de mensagens no grupo que tinha com algumas amigas soou. Era só uma olhadinha. E pronto: mais 1 hora se foi, a conversa fora concluída mas as  tarefas não.  

A bibliotecária, uma senhora idosa, com seus setenta e cinco anos, vinha a passos lentos e silenciosos me avisar que o expediente já estava se encerrando, eu tinha exatos vinte minutos para recolher meus pertences e ir embora. Me assustei, não tinha se passado tanto tempo assim, tinha? Olhei pelas janelas e o sol já estava se despedindo do palco.

Em casa, ao pegar novamente minha agenda, vi que metade das atividades tinham sido concluídas. Pensei, “mereço mais uma dose de ânimo”. Dito e feito, mais outra hora gasta rolando o feed das redes sociais. Carga abastecida, voltei às atividades. Pouco tempo depois o sono já se fazia presente. 

O dia se findou, o semestre mais perto do fim. Não consegui resolver todas as tarefas propostas. A procrastinação, sempre presente, tem os afazeres se entrelaçando nela. Os conteúdos motivadores das redes sociais, não necessariamente nos fazem menos procrastinadores. Cada vez mais esse vício camuflado, se revela. Precisamos de doses cada vez maiores para a eficácia pretendida. Mas como tudo é mais sistematizado hoje, é mais compreensível, mascará-la, chamando-a de doses diárias e frequentes de motivação. Entre compromissos e momentos de procrastinação, o semestre vai passando, e a vida também. 

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