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A UFG, em especial o Campus Samambaia é uma área muito extensa e com inúmeros prédios e estabelecimentos. Com isso a acessibilidade e sinalizações deveriam ser recorrentes na universidade. Assim melhorando a locomoção e facilidade dos alunos dentro de sua área, principalmente para aqueles que realmente necessitam. Entretanto para Pedro Paulo Lemos, infelizmente não é bem assim e a UFG precisa melhorar na acessibilidade para PcDs.

Pedro, é um estudante do curso de Jornalismo da UFG, e também faz parte do Doutores da bola, programa da rádio universitário voltado para o jornalismo esportivo. Sendo um deficiente visual, a acessibilidade na UFG é extremamente importante para sua locomoção através do campus. Em entrevista com nossa equipe, Pedro Paulo nos falou um pouco das dificuldades enfrentadas no campus e como é para uma pessoa com deficiência hoje em dia na UFG.

LN: O que você acha da acessibilidade dentro da UFG?

Pedro Paulo: Então, bem pouca né, de forma geral é muito ruim a UFG em certo não esta preparada para pessoas com deficiência. Desde o campus, até hoje eu não consigo andar muito sozinho no campus. Tipo, se eu tenho aula no Labicom [prédio laboratorial da FIC (faculdade de informação e comunicação)] e eu estou no restaurante do campus, eu não sei como chegar lá. Isso porque não tem piso tátil, do nada tem buraco ou mata né, que você é engolido pela mata. Então a gente não consegue andar ali. Já dentro dos prédios é mais de boa e fácil de andar, o problema mesmo é entre os prédios, além de ser muito difícil a acessibilidade é muito longe.

Tem muita coisa para melhorar, principalmente dentro do campus Samambaia. No campus Universitário é ruim tambem, mas ainda assim é melhor, porque ele mais compacto ne, menorzinho então você consegue se virar. EU to pegando matérias de núcleo livre lá e as vezes ate me surpreendo com a diferença de acessibilidade de um lugar para o outro.

LN: Você já sofreu algum tipo de preconceito ou hostilidade dentro do campus ou da UFG?

Pedro Paulo: Sendo bem sincero com você, dentro do campus eu acredito que não. Se eu sofri alguma coisa assim aqui dentro sinceramente eu não lembro. Sempre tem um professor ou outro que as vezes não te conhece e faz algum comentariozinho ali, algum aluno e tal, mas isso é coisa muito individual sabe. Agora eu acho que quanto instituição mesmo e convivência no campus, não sofri nada que eu saiba, de verdade.

Eu sou um cara muito tranquilo quanto a isso tambem sabe, pra me incomodar hoje tem que ser alguma coisa muito grave. Porque, não vou falar que eu acostumei, mas eu aprendi a lidar com isso. Antigamente eu me ofendia, me irritava com coisa muita pequena relacionada a preconceito e esse tipo de coisa. Hoje em dia eu tento levar isso da melhor forma possível porque na minha cabeça é problema só pra mim sabe, me irritar e perder a cabeça com isso, então eu tento levar da melhor forma possível. Agora em questão de campus de verdade eu não lembro de nenhuma vez assim. Eu lembro no doutores que já aconteceu caso em estádio assim, mas nada ligado a UFG.

LN: Como é para você fazer parte do doutores e o fato de estar diariamente relacionado a cobertura de atividades esportivas?

Pedro Paulo: Desde antes de eu entrar na faculdade eu já sabia do projeto, logo que eu passei no SISU alguns veteranos já me mandaram mensagem falando do doutores, ai eu conheci o projeto e já quis entrar. Logo que eu comecei na faculdade eu já entrei no projeto, e eu acho que é um projeto que muda muito a vida de quem quer seguir na área de esporte. Porque você esta atuando como profissional, num ambiente profissional só que sendo estudante né. A partir do momento que você ta fazendo uma cobertura dentro do estádio, conversando com torcida, com jogador e com outros jornalistas, você é visto como um profissional.

Um jogador quando ele ta te dando entrevista ele não liga se você é estudante ou se é um profissional, ele vai te responder da mesma forma. A mesma forma é a torcida, se fizer algum comentário que ela não gosta, ela não ta nem ai pra quem é você e vai te criticar como imprensa. Existe muito a relação do estudante com relação a outros jornalistas, eles são mais compreensivos quanto a isso. Então assim eu acho que isso agrega muito pra mim, eu já trabalhava na área então talvez tenha um impacto menor pra quem nunca trabalhou. Porem é sensacional, o doutores é um divisor de águas da minha vida e minha carreira porque foi ele que abriu todas portas pra mim. Pra trabalhar com reportagem, fazer coisa com a Globo, com a Tv Anhanguera e me projetou pro mundo assim, então sou muito grato ao projeto e sem ele a UFG e os cursos de comunicação perderiam muito.

LN: Você acredita que as organizações atléticas incentivam a participação de todos no esporte e ou podem aumentar a inclusão nos esportes dentro do campus?

Pedro Paulo: Então, acredito que não, eu acredito que as atléticas não incentivam e não se importem com a participação de todos ou não. Isso eu falo pela minha experiência com a Tagarela, não sei como é a dos outros cursos, talvez seja diferente. Desde que entrei na faculdade me chamaram para participar, tanto que estou nos grupos de atletismo, futsal e de basquete da Tagarela. Porém não existe nada de competição [para PcDs], tanto que num jogo de futsal eu não sairia do banco em um jogo oficial, porque não vão trocar a bola por minha causa ou fazer alguma coisa para que eu possa jogar.

Enfim, isso é ruim. Até teve um caso que eu passei no inter, que eu treinei para a competição de atletismo com o pessoal da Taga e por fora com o pessoal que eu já treinava e três dias antes eu descobri que não teria nenhum tipo de competição paraolímpica, não teria como eu competir. Isso é ruim porque não é um coisa difícil, não é algo difícil de organizar. Nas categorias que eu corro que são 100 e 200 metros, é coisa de trinta segundos que você disponibiliza do tempo de competição para ter uma categoria a mais. Então acho que não custaria nada. Porém eu não culpo tanto as atléticas, acho que falta o conhecimento de que existem pessoas deficientes na UFG.

LN: Acharia legal a organização de praticas e competições paradesportivas dentro do campus?

Pedro Paulo: Eu não sei se uma competição paradesportiva hoje no campus atrairia muita gente porque não sei a quantidade de atletas que existem. Porem eu acho que nas competições que já existem, a criação de uma categoria, de algo nem que seja apenas para exibição, é muito importante. Por exemplo no inter, põe ali uma partida do futebol de cegos, uma categoria de atletismo ou natação, não vai dificultar e nem atrapalhar e nem demandar a criação de um novo campeonato. E a partir do momento que as categorias forem sendo conhecidas ai sim pensar num campeonato.

Eu acho que seria uma forma muito boa de inclusão, você vai ta incluindo e abrindo espaços para categorias que tão ali e precisam aparecer e as vezes sejam ate mais relevantes pro pais que as convencionais. Porque se a gente for ver o Brasil é potencia no quadro paraolímpico. Então acho que não custa nada a UFG como instituição e as atléticas começarem a pensar nisso. Inclusive me prometeram, a organização do inter, que ano que vem vai ter algo voltado pro publico deficiente, mas não faço ideia do que vai ser e estou no aguardo.

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