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A Faculdade de Informação e Comunicação da UFG é composta por cinco cursos: Jornalismo, Relações Públicas, Publicidade e Propaganda, Gestão da Informação e Biblioteconomia. No dia 19 de outubro, os centros acadêmicos (CA) convocaram os estudantes para um ato unificado no Pátio das Humanidades, localizado no Campus Samambaia, para apresentar as principais reivindicações dos estudantes em relação aos cursos da FIC. A mobilização contou com a participação das entidades gerais União Nacional dos Estudantes (UNE) e a Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG).
Dentre as reivindicações apresentadas na assembleia, os alunos cobram por melhorias na estrutura e nos equipamentos da FIC, políticas de permanência voltadas para alunos de baixa renda, contratação de professores, manutenção das linhas de ônibus que atendem o Campus e outras. Uma reivindicação antiga, também voltou a ser discutida após novas mudanças na Rádio Universitária. No momento, é o único laboratório prático dos estudantes do curso de jornalismo. A mudança na linha editorial da rádio não agradou alunos e professores dos laboratórios orientados que vêem o espaço conquistado anos atrás, como crucial no exercício da prática jornalística e lutam para continuar tendo acesso na programação com produções laboratoriais. Para além disso, os estudantes reivindicam sua permanência do uso do streaming 1, principal streaming da Universitária, após a mudança de frequência de AM para FM.
Conversamos com o Igor Barreto, estudante de jornalismo na UFG desde 2016, que faz parte do movimento estudantil desde o início da sua graduação, com a gestão do Lucas Fortuna. Atualmente, compõe o Centro Acadêmico gestão Consuelo Nasser [CA de Jornalismo], e faz parte do movimento por uma Universidade Popular.
Quais têm sido os impactos nos cursos oferecidos na FIC e de que maneira tem afetado a qualidade da educação e a experiência dos estudantes?
Igor Barreto: São questões que já vêm acontecendo no Brasil, é um processo longo, continuado, tá? Que vem desde ali do movimento aos ataques às políticas de cotas. Então, a universidade vem sofrendo um desmanche, no papel que ela tem. A universidade surge com o papel, principalmente os cursos como direito, humanas, de formar a intelectualidade do país, né? E com o tempo, com essas políticas mais neoliberais que vieram depois da redemocratização, a gente vê as Universidades Federais perdendo esse espaço de criação e produção do conhecimento, e de transformação do trabalho em um trabalho mais técnico sob a lógica do capitalismo. Então, essa questão vem de um contexto maior. Só que quando chega no curso de Jornalismo, o impacto disso é muito grande, porque quando a gente está lidando com a comunicação, a gente lida com equipamentos, com meios, com tecnologias que estão o tempo inteiro se transformando.
A universidade perde a oportunidade nisso, cada vez que um desses espaços é retirado, cada vez que um desmonte acontece, quando falta professores, quando não tem bolsas para iniciação científica, acontece quando faltam bolsas de monitorias, e bolsas de estágios. Acontece, inclusive, quando o nosso estágio obrigatório tem que ser dentro da UFG e tem que ser gratuito. A gente depende, no caso, agora falo por mim, falo pelo centro acadêmico, e falo pelo movimento por uma Universidade Popular, que é um movimento do qual eu faço parte. A gente defende que todos os estudantes que queiram ter acesso a todo o universo que a universidade pode ser, a gente depende que esses estudantes tenham acesso e que isso chegue mais à sociedade. Para isso, precisa existir condições reais, e essas condições reais, passam por investimentos.
Na assembleia do último dia 19, foi votado e os alunos presentes no ato, aprovaram a entrega da carta de reivindicação na Reitoria que foi entregue no dia seguinte, 20 de outubro. Diante disso, vocês tiveram algum retorno da Reitora sobre as demandas cobradas?
Igor Barreto: A resposta da Reitoria foi, basicamente, tirar a responsabilidade sobre as questões que estavam sendo colocadas e jogar essa responsabilidade para cima da direção, para cima da coordenação do curso e em alguns momentos, para cima dos próprios movimentos estudantis que estavam cobrando as questões. Mas assim, não teve nada de concreto, que fizesse a gente ter uma perspectiva de resolução dos problemas. Ficamos em uma posição muito defensiva da Reitoria e ainda acreditamos que o momento é de continuar a mobilização porque a Reitoria não ouviu as reivindicações e se preocupou mais em se defender.
No primeiro semestre de 2023 ocorreu também uma situação similar em que o corpo docente e discentes da FIC presenciaram e se mobilizaram contra o racismo institucional. Com intervalo de menos de 3 meses, dois casos envolvendo professoras cotistas aprovadas em concurso público, onde foram barradas de assumirem o cargo por candidatos não-cotistas que se movimentaram para que as professoras não assumissem o posto. Indo, dessa forma, contra a lei de cotas (Lei nº 12.990, de 2014) que garante a efetivação de 20% para professores negros e pardos em concurso público. Como você observa e analisa o posicionamento da coordenação do curso e direção da FIC já que isso perpassa por eles também, tendo em vista, que outras manifestações estão acontecendo, inclusive por professores?
Igor Barreto: No primeiro caso, eu tive oportunidade de acompanhar um pouco mais de perto. O que aconteceu foi que saiu um concurso para substituição da professora Ana Carolina Temer, para Audiovisual e pela forma como a UFG tinha se organizado, coincidiu em ser uma vaga para cotas. A Lei de Cotas diz que é 20% e as universidades usaram por muito tempo o hábito de ignorar completamente a lei de cotas porque, basicamente, saí concurso para um, dois ou três professores no máximo de uma vez. Então, ficava sempre nessa coisa de fazer ampla concorrência até que se decidiu que faria uma porcentagem do total dos concursos que abrisse na universidade no ano para cotas. Coincidiu de cair na FIC e a professora [cotista aprovada] foi a Gabriela Marques, professora de Jornalismo. Ela não ficou em primeiro lugar no concurso, mas como ela era a pessoa que tinha passado por todo processo de heteroidentificação, e era a pessoa que realmente cumpria os requisitos do edital, tinha que ser empossada. O professor, que ficou em primeiro lugar, entrou com um processo para derrubar [a convocação] e tomar posse no lugar dela. Teve uma comoção na FIC pela forma como a gestão reagiu diante da situação. Teve toda essa movimentação, a Gabriela conseguiu tomar posse, e depois teve o outro caso da professora de Relações Públicas e nos dois casos, o que chamou a atenção realmente, não é que a gestão da FIC tenha culpa sozinha pelas coisas que aconteceram, mas que a direção pouco se esforçou para tentar resolver a situação e essa é uma coisa que estamos percebendo há algum tempo. Mas é uma direção que fica muito inerte em muitas situações e precisa da pressão das pessoas para fazer alguma coisa e em alguns momentos reage mal a essa pressão.
NOTA DA REDAÇÃO: A UFG foi uma das pioneiras na criação de uma metodologia que respeita a reserva de cotas raciais. De acordo com dados do Instituto Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), entre 2014 a 2017, apenas 3,18% do total das vagas foram destinadas às cotas raciais nos concursos públicos para docentes universitários no país. Em 2017, após mudança na interpretação da Lei, deferida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) as Universidades brasileiras, se adequaram e asseguraram o direito.
Tendo em vista que um caso como esse esteja ocorrendo dentro da FIC, você acha que isso tem interferência na formação do corpo docente e na atual falta de professores, sabendo que os editais são insuficientes para contratação de novos docentes?
Igor Barreto: Com certeza, porque, vamos pensar: por exemplo, se uma professora deseja fazer uma pesquisa sobre uma tecnologia que está sendo usada, como ela vai fazer isso se ela está sobrecarregada, cobrindo a falta de outros professores? E isso é algo complicado, esse processo de formação continuada que os professores precisam ter. Essa limitação de professores, limita, também, os professores que estão vinculados à Pós-Graduação, porque é na Pós-Graduação que vão ser formados nossos professores de fato, e as linhas de pesquisa acabam sendo limitadas porque tem menos profissionais, menos pensadores e menos pesquisadores ligados a esses programas. Então, fica bem complicado fazer uma pesquisa mais inovadora, e ter esse processo realmente funcionando bem para o pessoal que forma no curso e vai para a Pós-Graduação. Mas é desanimador, eu entrei no curso querendo seguir carreira acadêmica e hoje, isso não passa na minha cabeça. Não existe a possibilidade de querer isso.
As mobilizações feitas têm tido o apoio do corpo docente da FIC? Quais os próximos passos dos centros acadêmicos agora?
Igor Barreto: Não dá pra dizer que tem participação dos professores porque são mobilizações feitas por estudantes. Têm professores que vêm acompanhando, que conversam com a gente. No curso de jornalismo, a gente tem o professor Niltinho que conversa muito, mas não tem participação dos professores, mas tem apoio. Os próximos passos, continua bem incerto, mas é claro que como essa mobilização extrapola muito o centro acadêmico, essa é uma decisão que não vai ser tomada pelos 5 centros acadêmicos da FIC. A gente vai fazer uma reunião com os CAs o mais breve possível para podermos fazer uma reunião com os estudantes dos cursos a respeito das mobilizações que a gente fez até o momento e o que é possível a gente fazer nos próximos passos. A mobilização deve continuar, ela precisa continuar e a gente está tendo um avanço significativo no sentido de organização, de alcançar outros lugares e pessoas, de chamar atenção, mas precisa avançar para termos as mudanças efetivas que a gente procura.
Quais atitudes imediatas e posicionamento da Reitora que vocês dos 5 centros acadêmicos esperam que ela decida em relação aos problemas apresentados na FIC?
Igor Barreto: Eu não consegui estar presente nessa reunião com a Reitoria, porque estava envolvido em outra questão relacionada ao meu trabalho e eu não poderia faltar. Mas pelos relatos que eu recebi até agora e também pela própria postura da Reitoria em outros momentos, a gente tem percebido que o mais provável é que se a gente não continuar a pressão, vai continuar tudo como está. Propostas reais não saíram, não chegou nada que pudéssemos falar: “isso aqui pode ajudar a resolver um dos problemas que a gente enfrenta no momento”. Até onde eu sei, não existe nada concreto com relação a isso. E a mesma coisa em relação à Rádio, que está um pouco mais encaminhada, estamos conseguindo dialogar direto com a direção da Rádio e a Solange [coordenadora do curso], na reunião que tivemos com ela e com a diretoria da Rádio, a Solange se colocou em uma posição de defesa da pauta dos estudantes, e isso é uma surpresa muito boa pra gente. Mas é isso: se por um lado a Solange está defendendo a nossa pauta, por outro lado, a Angelita [Reitora da UFG] está surpreendendo negativamente porque não está colocando a devida atenção em relação à Faculdade de Informação e Comunicação. Então, o que a gente espera mesmo é isso, que continue a pressão para que a Reitoria defina pelo menos medidas para resolver essas questões.
NOTA DA REDAÇÃO: Na reunião com a Reitora e direção da FIC, no dia 25 de outubro, a Reitora Angelita Pereira disse: “Desconheço a falta de professores na Faculdade de Informação e Comunicação”, mas assumiu o compromisso junto com o diretor da FIC, Daniel Christino e a coordenação do curso de Jornalismo de fazer uma análise e buscar soluções para as reivindicações feitas pelos estudantes.