‘É uma sensação de pertencimento a algo maior’ diz presidente de atlética universitária

Luana Viezzer fala um pouco de como é fazer parte de uma atlética universitária e os bastidores dessas organizações
Tempo de leitura: 9 min

Nós sabemos que todo universitário gosta de uma boa festa, já virou tradição na Universidade Federal de Goiás todos os anos ser divulgado o calendário das festas universitárias, organizadas pelas atléticas dos cursos da instituição.

Porém se engana quem acredita que as atléticas sobrevivem apenas de festas. É realizado muito trabalho por parte das pessoas que compõe essas organizações. Luana Viezzer, 20 anos, é estudante de Relações Públicas do 6º período e é presidente da Tagarela, atlética dos cursos de comunicação da UFG, e conversou conosco falando sobre como funcionam as atléticas universitárias.

Luanna Viezzer é presidente da Tagarela
Luana é presidente da Tagarela e falou um pouco de como é a vivência na atlética (Foto: Tagarela)

Como é fazer parte de uma atlética universitária?

Fazer parte de uma atlética universitária, é uma sensação de pertencimento a algo maior. Não só de pertencimento a algo maior, é ajudar a fazer coisas que vão ajudar outras pessoas, mas também ser ajudado. Eu vim pra Goiânia em 2022, e logo em seguida eu já entrei na atlética. Se torna uma família, principalmente para quem é de fora, é uma porta de entrada para amizades na faculdade.

Como funciona a organização de uma atlética? Quantas pessoas, em média, fazem parte?

A organização varia muito de atlética para atlética. A Tagarela hoje tem 31 pessoas. Já teve época que teve mais, teve época que teve menos. Existem atléticas que tem 40 pessoas, tem atlética que tem 10, tem atlética que tem 20, isso muda muito de acordo com o curso. A Tagarela, por exemplo, é uma atlética unificada, tem seis cursos, consequentemente, tem mais pessoas que querem entrar na atlética do que uma de um curso como a Pedagogia, por exemplo, que vai ter menos pessoas. Isso não dá para responder exato, mas na Tagarela, que eu faço parte, são em média 30 pessoas.

Quais as maiores dificuldades encontradas para realização de eventos, produção de produtos e divulgação nas mídias sociais?

A maior dificuldade para realizar eventos e produtos é saber gerir muito bem os relacionamentos com os fornecedores, ter uma organização, de fato, efetiva. Porque as coisas não podem ficar para trás, perder coisas na planilha, deixar passar as coisas, é uma dificuldade muito grande em tudo, para as coisas não passarem batido. Na realização de um evento e na produção de produtos, a gente precisa conseguir alinhar tudo dentro da diretoria, junto com a parte externa. Esse relacionamento dentro da atlética, às vezes, é um tanto quanto complicado de você conseguir organizar tanto o que é feito dentro com o que vai ser feito fora. Hoje, o que eu posso falar, englobando tudo, é que o cenário universitário está muito diferente. Em 2022, quando a gente voltou da pandemia, as pessoas estavam ensandecidas em atlética, em produto, em evento, em rolê. Agora, em 2023, isso diminuiu um pouco. Acaba que se torna uma dificuldade nossa agora, na hora de pensar em planejamento, como cativar o público de novo? É uma dificuldade muito grande que a gente encontra hoje em dia.

Como é feito o planejamento? É anual, semestral, mensal?

O planejamento de uma atlética é muito complexo. Existem vários momentos dela durante o ano e existem várias diretorias. O que a gente pode fazer enquanto gestão, um exemplo, eu e a minha VP (Vice-Presidente) assumimos agora, nós vamos fazer o planejamento do que a gente quer para Tagarela, em relação a metas, “esse ano a gente quer fazer tal coisa, quer fazer isso, quer fazer aquilo, até tal mês, isso precisa estar pronto”. Isso é um panorama geral. Já metas específicas, depende muito. Nós dividimos em relação a importância das coisas. Por exemplo, o esportivo, ano passado, a gente tinha a meta de rodar treinos todas as semanas até o Inter (maior evento esportivo da UFG) e ficar em quinto lugar, além de outra meta. São metas grandes, metas a longo prazo. A gente bateu duas metas e não conseguimos ficar em quinto lugar. E também existiam metas menores, como, “esse mês eu preciso que rode a natação”, então eu colocava como meta do mês de abril rodar a natação. “Esse mês eu preciso de um número X de amistosos”, virava uma meta menor. No esportivo, nós costumamos fazer planejamento do mês, só que também tem planejamento semanal. É um planejamento muito fluido, vai de acordo com o tamanho. Já produtos, é um planejamento muito maior. Começa em dezembro, para a coleção do Inter, que vai ser lançada no final de fevereiro, para conseguirmos entregar no prazo. Agora no marketing, normalmente a gente tem um planejamento semanal, porém também tem um planejamento semestral, porque sabemos também que determinada época tem que lançar a “Caloucom” (Evento da atlética Tagarela), por exemplo. Basicamente, nós temos diferentes tipos de planejamentos, é muito fluido.

Luana na Caloucom, um dos principais eventos anuais da Tagarela, em 2023 (Foto: Tagarela)

Impacto na vida pessoal

Como você acredita que a atlética te ajudou na vida universitária, sendo você uma pessoa que veio de outro Estado para estudar em Goiânia?

A atlética virou a minha rotina. Os meus rolês de final de semana, os lugares que vou, são com as pessoas da atlética. Eu moro com uma pessoa que eu conheci através da atlética. Os meus melhores amigos eu conheci na atlética. Tudo quando penso na minha graduação, eu penso na atlética. Me ajudou muito a não ficar sozinha. Eu, realmente, criei uma rede de apoio, que sei que posso contar com as pessoas.

Essa vivência pode te ajudar a ingressar no mercado de trabalho?

Eu fui contratada por uma multinacional, a Kraft Heinz, e por incrível que pareça, na minha entrevista, eu só falei da Tagarela. Disse do planejamento, o que eu faço e como funciona uma atlética. Simplesmente por estar eu numa organização desse tamanho, igual a Tagarela, eu consegui um emprego. Eu tenho certeza que foi por causa disso, porque não tem outro motivo. Eu só falei disso na entrevista. A Duda, mora comigo e fazia parte da atlética, ela começou na Tagarela como DA (Direção de Arte), e ela não sabia fazer arte na época que entrou. Ela sabia o básico. Hoje a Duda é CLT na Alego (Assembleia Legislativa do Estado de Goiás). E ela aprendeu o que sabe, começando na Tagarela, foi aprendendo na Tagarela. A Tagarela ajuda muitas pessoas, abre muitas portas. Networking é uma coisa muito importante, você conhece muita gente na atlética, é realmente um espaço para a entrada do mercado de trabalho, principalmente por conta de indicações, ter contatos com pessoas, fornecedores, você ter contato com os processos. É muito importante, realmente ajuda a ingressar no mercado de trabalho.

Qual a principal vantagem e desvantagem de ser membro de uma atlética?

As amizades feitas. Acho que bati muito na tecla das minhas amizades na entrevista até agora. Mas, realmente essa vivência te aproxima de pessoas que você não iria se aproximar, se não fizesse parte da organização. Não que isso seja ruim, mas sei que se não tivesse entrado no Centro Acadêmico, Empresa Júnior, Atlética, não teria conhecido tantas pessoas na faculdade. E isso é muito legal. E a principal desvantagem é o estresse. É muito legal, você vai para o rolê, você vai estar lá com a camiseta escrita com seu nome, você conhece as pessoas, as pessoas te conhecem, enfim, toda a parte legal. Mas existe a parte de aprender a lidar com pessoas diferentes. Aprender a lidar com crises. A Tagarela já teve muitas crises de gestão de imagem e essas coisas mexem com o seu emocional. Gera um desgaste, querendo ou não, porque tem muitas partes boas, mas você trabalha na atlética, você fala com o fornecedor, faz orçamento, faz planilha, faz baixa de financeiro, contrata o técnico, dá feedback para a atleta, marca a quadra, faz arte até não sei que horas da manhã, porque teve uma demanda urgente. Às vezes essas coisas são estressantes. Acredito que a parte boa fica acima das partes ruins, mas a desvantagem é que é muito desgastante.

Você já ouviu comentários maldosos, preconceituosos por fazer parte da atlética? Se sim, isso é comum? Como lidar e o que dizer para essas pessoas com esse tipo de pensamento?

Nunca falaram diretamente para mim, mas eu já ouvi em alguns lugares, acredito que existe essa visão de que a atlética é uma baderna, é festa e tudo mais. Com certeza tem essa parte, mas a forma de lidar com esses comentários não é respondendo na mesma moeda, com respostas agressivas. A forma de combatermos isso é mostrando as funções sociais de uma atlética. Como por exemplo, o esporte. O que o esporte proporciona na vida das pessoas, além de qualidade de vida, saúde, melhora de saúde mental, sentimento de pertencimento. Por que o esporte de uma atlética é importante? A bateria, por que uma bateria é importante? Quais os benefícios da bateria na vida de uma pessoa, de que forma uma pessoa é impactada com isso? Projetos sociais à parte, igual nós temos o projeto Ninho, que arrecada alimento, para ajudar às pessoas que precisam. A gente usa o nosso tamanho enquanto instituição para poder ajudar outras pessoas. Ou projetos de incentivo ao ensino, como o TagaTalks, foi um projeto que fizemos esse ano, de trazer pessoas que saíram da faculdade recentemente, e estão no mercado de trabalho. Aqui na FIC (Faculdade de Informação e Comunicação), por exemplo, nós não temos congressos, palestras, para ter esse tipo de contato com pessoas que já estão no mercado. É muito academicista. Eu acho que a forma de lidar com isso é mostrando para as pessoas outros sentidos da atlética. periodo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *