Ensino público em Goiás: Um panorama geral de como está a situação da educação gratuita

Os bons resultados em indicadores educacionais do governo são factuais, porém é preciso ver além disso para compreender as nuances da educação básica do estado.
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Alunos sentados em sala de aula escrevendo em seus cadernos
Escolas públicas goianas apresentam bons resultados (Foto: Câmara Municipal de Goiânia)

A educação é sempre uma importante pauta de avaliação para a sociedade. A depender de como um governo trata do assunto (como prioridade ou não) ele é considerado ótimo ou desastroso aos olhos do povo. 

Para muito além de avaliações governamentais, a educação é um dos pontos que rege o desenvolvimento de um país. A dignidade e o bem estar da população passa por um ensino de qualidade, no momento de formação dos cidadãos. Por isso deve ser tratada e discutida com a seriedade exigida.

O IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) foi criado no ano de 2007, com o objetivo de avaliar as escolas públicas do país. Desde a sua criação, o estado de Goiás sempre obteve uma nota acima do esperado e nunca sofreu uma regressão em relação à nota anterior. Os dados animadores trazem consigo evidências de um ensino, no mínimo, satisfatório.

No fim de 2023, a Controladoria-Geral do Estado de Goiás divulgou uma pesquisa que apontava o grau de felicidade nas escolas públicas. Foi realizada uma pesquisa com mais de 110 mil respostas, em mais de 700 escolas públicas goianas diferentes. O medidor usado foi o FIB (Felicidade Interna Bruta), que aborda 9 dimensões de felicidade: O bem-estar psicológico; uso do tempo; vitalidade comunitária; cultura; saúde; educação; meio ambiente; padrão de vida e boa governança. A pesquisa foi feita com base nas respostas de estudantes (cerca de 89%), equipe pedagógica, servidores administrativos, equipes gestoras e servidores das Coordenações Regionais de Educação (CREs).

Os dados apontam para um contentamento geral, entre os discentes, docentes, funcionários e demais profissionais que compõem o sistema educacional público. Além da evolução nas avaliações feitas para medir o desempenho e desenvolvimento. Porém, também é preciso levar em consideração as perspectivas pessoais de pessoas que estão envolvidas na área.

A EDUCAÇÃO NA VISÃO DE QUEM ENSINA

Laudson Ferreira, 44 anos, formado em Medicina Veterinária pela UFG e em Ciências Biológicas na UEG. Fez seu mestrado e doutorado em Ciências Biológicas na UFG, e já leciona há 24 anos. Com passagens pelo ensino público e privado, e atualmente professor do IFG no Câmpus Goiânia Oeste, Laudson falou um pouco com o Lab Notícias sobre as mudanças e evoluções do ensino base, a partir de sua perspectiva.

…O que eu observo no IFG, nesses últimos anos, é que nós temos passado por um período de grande estruturação da rede, dos institutos federais. Muitos câmpus foram criados, mas passamos por um período difícil recentemente com cortes de verba, porém sim, houve melhoras crescentes, investimentos em pesquisa e a perspectiva atual é bem esperançosa. Eu vejo que os estudantes têm passado nos nossos cursos, eles têm conseguido entrar no mercado de trabalho, sair do ensino médio e entrar na rede pública superior. Dessa forma, conseguindo dar prosseguimento nas suas carreiras acadêmicas e profissionais. Então quando você me fala que esses índices estão em processo crescente eu concordo que eles tragam a verdade. Nem só dos estudantes, mas também na parte dos profissionais” – disse Laudson, quando perguntado se os índices de desenvolvimento transpareciam a realidade em sala de aula.

Sede do Instituto Federal de Goiás, Câmpus Goiânia Oeste (Foto: IFG)

Na entrevista, Laudson também trouxe como a tecnologia interfere nas relações interpessoais e no modo de aprendizagem em sala de aula, com o passar dos anos. Ele disse que a tecnologia foi o maior aspecto de relevância do início de sua carreira até a atualidade. Destacando que, a facilitação por meio da internet e dos dispositivos eletrônicos ajudam a ministrar as aulas e também maior compreensão dos alunos.

Quando questionado sobre as mudanças que ocorreram na forma de ensinar, Laudson respondeu: “As pessoas mudaram ao longo do tempo. Os alunos, em termos pessoais mudaram, e consequentemente a maneira de ensinar mudou. A gente precisou mudar a linguagem, incorporar novas formas de falar. A humanidade como um todo começou a ver, os estudantes começaram a ver o mundo com outros olhares, um olhar mais crítico para o lado ambiental, social. Além do vocabulário, adotamos estratégias de ensino diferenciadas. O que não acompanhou o mesmo ritmo foram as matrizes curriculares. Se você me perguntar assim “Laudson é o que você ensina hoje é basicamente o que você ensinava no início?” Sim, apesar de ter acontecido muitas descobertas. A ciência não para, ela evolui constantemente, então novidades eu passei a incorporar nas minhas aulas. Mas tanto a parte pessoal, tecnológica, a linguagem isso foi mudando realmente ao longo do tempo, o que não foi acompanhado com esse mesmo ritmo realmente foram as matrizes curriculares, tanto na minha disciplina quanto em outras, acredito que ocorreu uma estagnada nesses últimos anos.” 

É fato que as evoluções aconteceram, porém, relatos como esse de profissionais da área demonstram a estagnação da educação básica em alguns pontos de extrema relevância. É necessário enxergar além dos dados divulgados e ter uma interpretação maior da situação analisada.

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