Harmonia em Movimento: A Influência Transformadora da Dança no Cotidiano

"A maior experiência de amor próprio nessa vida", afirma dançarina Cris Pontes
jan 24, 2024 , , ,
Tempo de leitura: 6 min

A dança foi uma das primeiras demonstrações expressivas do ser humano. Com surgimento na Pré-História, chama-se dança primitiva, pois foi criada de maneira espontânea, para celebrar um ritual específico de uma comunidade. Já nas civilizações antigas, a dança levava um caráter sagrado, utilizada no culto aos Deuses. Esse tipo de dança ainda é cultivado no Japão e na Índia. Ela conquistou seu espaço e sua função em cada parte do planeta, trazendo uma característica individual para cada sociedade. 

Elitismo na dança

Mesmo com sua diversidade, a dança em alguns lugares ainda é muito elitista. Segundo o Brasil de Fato, uma pesquisa feita em 2021 mapeou que cerca de 66% do mundo da dança são mulheres e 75% são pessoas brancas. 

A dança na vida adulta

Outrossim, o impasse da idade afeta diversas pessoas para começarem a praticar essa atividade física, muitas vezes por medo de julgamentos dentro e fora de sala de aula, o que era um sonho virou um trauma. Mesmo que seja um esporte aberto a todas as idades praticarem, ainda há um certo julgamento de quem deveria praticá-lo. Assim, em uma entrevista com uma dançarina há mais de 20 anos, Cris Pontes conta como é lidar com esse julgamento:

“Uma das coisas que mais impede a gente de ser feliz é o medo, o medo do julgamento, medo das críticas, né? Então medo é uma palavra pra mim muito horrível. Então eu sempre digo que pra mim, pelo menos, a maior experiência de amor próprio nessa vida foi a minha experiência, foi a experiência de me permitir fazer o que eu gosto, independente do que as pessoas pensam, do que as pessoas julgam sobre mim, porque me faz feliz, simplesmente porque me faz feliz, então eu acho que o meu conselho para essas pessoas seria esse assim, sabe? De não terem medo de serem julgadas, de terem a coragem de se permitir fazer aquilo que faz elas felizes.”

Imagem: (Cris Pontes)

A dança como terapia

Da saúde mental à expressão pessoal, a dança revela-se como um poderoso catalisador de transformação, desvendando os muitos modos pelos quais ela dança conosco, seja nas sombras do cotidiano ou nos holofotes da performance.

Cris comentou sobre como a dança influencia na sua forma de lidar com a vida: “A dança é a coisa que me faz mais feliz, é a atividade que me faz mais feliz na vida, né? E é a minha grande forma de me expressar para o mundo. Eu acho que a dança me ajuda a ser menos tímida, a dança me ajuda muito a me conectar às pessoas, a criar amizades, a ter contato comigo mesmo, sabe? Com os meus sentimentos, com as minhas emoções. Então, a dança me ajuda a me relacionar melhor comigo, me relacionar melhor com as pessoas também. Uma outra coisa que a dança me ajuda muito é tirar o foco do trabalho, né? O meu trabalho é um trabalho que, apesar de eu não ter uma especialidade tão estressante, eu tenho uma personalidade mais perfeccionista. Então, isso acabava me gerando sempre muitas preocupações em relação aos pacientes e muito estresse, né? Muito trabalho mental. O grande papel da dança foi me tirar da minha mente, me tirar do mental, sabe? E me trazer, me colocar em contato com o meu corpo. Então a vida fica muito mais leve, com muito menos estresse, quando o foco sai da minha mente e vai para o meu corpo e também para as minhas emoções.”

Dança inclusiva

A atividade física adaptada é utilizada como meio preventivo e terapêutico na área da saúde, a dança inclusiva não exclui os trabalhos terapêuticos, mas dá ênfase no processo artístico como resultado. A prática da dança pode trazer benefícios psicológicos, sociais e motorizados 

A dança em cadeira de rodas foi reconhecida oficialmente em 1993, pela European Paraolympic Committee (EUROPC). Já no Brasil, é uma atividade pouco explorada e recente, mas com um grande esforço para seu desenvolvimento. 

Em Brasília, existe um grupo de dança composto por cadeirantes que encontram sua vida através da arte, eles fazem apresentações ao redor da capital, compartilhando seu talento e sua história. O Street Cadeirante já se apresentou no SBT, com a cantora Lexa, no Capital Moto Week, no Luciano Hulk e muitos outros.

A CEO do projeto, Carla Maia conta: “Eu não conseguia achar um lugar para dançar. Não sabia o que dançar. Os professores ficavam sem saber o que fazer comigo. Aí eu fui no Miss Mundo Cadeirante, que eu fui selecionada para ser a Miss Brasil, lá na Polônia, em 2017. Aí lá eu tava felizona, sabe? Porque tinha dança, coreografia, e eu fiquei muito feliz. E quando eu voltei, eu falei, cara, vou me matricular, vou dançar de qualquer jeito. Aí me matriculei numa turma de andantes, morrendo de vergonha. Gostei muito. Tava gostando muito. E aí eu falei, poxa, se está me fazendo tão bem, por que não fazer uma turma de cadeirantes? E aí, depois disso, eu sugeri, né, na época eu fiz uma parceria com a academia e com o professor. E aí a gente começou a fazer essas aulas e eu já queria montar um grupo. Aí começamos a fazer a apresentação de grupo e foi muito bacana. As coisas foram acontecendo naturalmente.”

Imagem: (Acervo pessoal) Ensaio para apresentação no Capital Moto Week 2022

‘A dança mexe com a alma

Carla conta que gostava de dançar desde a infância, mas enfrentou desafios no meio do caminho que não fizeram ela desistir. “Era uma paixão que eu tinha antes de ficar cadeirante, e aí depois que eu fiquei cadeirante, essa paixão, eu fico meio adormecida, porque eu não acreditava que eu podia dançar com prazer igual eu dançava antes, e demorou um pouco, demorou, pra falar a verdade, uns 20 anos pra eu recobrar, retornar a ter prazer na dança. Ela é nossa, ela me trouxe, depois que eu comecei a dançar, desenvolvi novas amizades, novos propósitos, novas responsabilidades, e tudo isso impacta muito positivamente na minha vida. E o bem que a dança faz, a dança traz endorfina.

Definitivamente a dança consegue mudar vidas, trazer sentimentos a flor da pele. É muito mais que arte e entretenimento, a dança conecta pessoas, molda identidades, ela pode salvar a vida de alguém. No cenário globalizado atual, a dança não se perpetua tradições como se adapta às mudanças sociais, trazendo reflexões do cenário social do dia a dia. É uma forma de exercício tanto física quanto mental, tem um potencial transformador.

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