Conheça o Entrelinhas, projeto de futsal feminino aberto para a comunidade

A iniciativa, coordenada pela professora Nívea Menezes, busca promover e utilizar o esporte como agente de transformação entre as mulheres
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A prática do esporte é essencial na vida de muitas pessoas, mas em algumas modalidades ainda podem existir preconceitos velados. Como exemplo, o futsal é uma modalidade esportiva que atrai muitas meninas e mulheres que sonham em jogar futebol, no entanto muitas enfrentam dificuldades de acesso, infraestrutura e estigmas. Para mudar essa realidade, a Escola Superior de Educação Física e Fisioterapia de Goiás (ESEFFEGO) desenvolve o projeto Entrelinhas, oferecendo aulas gratuitas de futsal feminino para a comunidade goianiense.

Observando o sonho de muitas meninas e mulheres, a professora Nívea Menezes comenta sobre o projeto de futsal chamado Entrelinhas, onde atua também como coordenadora. Nesta entrevista, ela conta sobre os objetivos, desafios e resultados do Entrelinhas, que busca fomentar a igualdade e bem-estar na prática do esporte.

Foto: reprodução instagram, entrelinhas_eseffego.

Lab Notícias: Como surgiu a ideia da criação do Entrelinhas e qual é o seu maior objetivo com o projeto?

Nívea Menezes: A ideia inicial do projeto foi trabalhar com estudantes do curso de Educação Física e da rede pública de ensino, porém, no decorrer dos anos, abrimos para a comunidade em geral. O objetivo maior sempre foi dar acesso às mulheres à prática do futsal, em um espaço público e de qualidade, com aulas que independem das experiências delas com a modalidade.

Lab Notícias: Quais são os principais desafios e dificuldades que você enfrenta para realizar esse projeto?

Nívea Menezes: Atualmente, devido à falta de uma sede própria para a ESEFFEGO, temos dificuldades de horários e espaço mais flexíveis para a realização das aulas. Infelizmente, o governo do Estado nos tirou do setor Leste Vila Nova e perdemos nossa autonomia em relação ao atendimento da parte esportiva desde 2018.

Lab Notícias: Como é a rotina de treinamento e acompanhamento das participantes do Entrelinhas?

Nívea Menezes: Nosso projeto não se configura como treinamento ‘ao pé da letra’, pois as aulas visam o ensino dos fundamentos, técnicos, táticos e regras da modalidade, sem a preocupação com resultados, mas sim com as mulheres participantes acessarem esse conhecimento. As aulas são ministradas, sob minha orientação, por alunos dos cursos de Educação Física da ESEFFEGO. Em 2023, as aulas ocorreram nas segundas e quintas-feiras no período noturno. Porém, em 2024, ainda vamos resolver, junto ao Centro de Excelência, a disponibilidade de horários.

Lab Notícias: Na sua opinião, quais são os benefícios e resultados que o projeto traz para as participantes e para a comunidade?

Nívea Menezes: Os benefícios são a acessibilidade a uma modalidade que historicamente é praticada pela hegemonia masculina, portanto, desmistifica a ideia de que somente homens possuem habilidades nessa prática, além de promover a interação entre meninas e mulheres da comunidade (acadêmicas, alunas da rede pública e comunidade em geral) que têm no projeto a convivência semanal a por meio do esporte. Além disso, beneficia também aos acadêmicos que exercitam a docência no processo de ensino-aprendizagem, garantindo uma experiência muito produtiva no que tange à sua formação profissional.

Lab Notícias: O futebol feminino chegou a ser proibido por decreto presidencial no Brasil durante cerca de 38 anos. Já o futsal feminino só começou a ser organizado pela Confederação Brasileira de Futsal a partir de 2001. Como você avalia o impacto e a relevância de projetos como o Entrelinhas para o desenvolvimento do futsal feminino no país?

Nívea Menezes: Penso que a Universidade pública ao garantir projetos desta natureza revela uma preocupação relevante com nosso passado recente, pois modalidades como o futsal e outras práticas esportivas que sempre tiveram presença garantida pelo público masculino, agora têm a chance de fomentar o ensino desses esportes para o público de feminino. Nesse sentido, vejo uma gradativa mudança de panorama, que sem dúvida, surge de iniciativas como o Entrelinhas, que na base incentivam as mulheres quererem participar e permanecer com o futsal, entendendo que é possível sim, aprender o futsal e ser uma praticante, tanto quanto outras modalidades esportivas.

Lab Notícias: Quais são os planos e metas para o futuro do projeto?

Nívea Menezes: Nosso projeto está em andamento desde 2015 e vem sendo reeditado desde então a partir de demandas e necessidades emergentes. Pretendemos continuar com o Entrelinhas e trazer um número cada vez maior de alunas da rede pública de Goiânia para o nosso convívio, proporcionando cada vez mais às mesmas um espaço de qualidade e de condições dignas para o aprendizado do futsal.

Lab Notícias: Como o futebol feminino pode contribuir para a promoção da igualdade de gênero, da diversidade e da inclusão social no esporte e na sociedade?

Nívea Menezes: Vejo o esporte, de maneira geral, como uma grande alusão às relações de poder na nossa sociedade. A disputa pela participação de mulheres em modalidades que têm uma predominância masculina já é um indicativo de que precisamos rever essas relações. Colocar em pauta a paridade de direitos para todos os gêneros se faz urgente, vejo que muito já mudou, mas ainda há muito que se fazer, tanto no esporte como em todas as esferas da nossa sociedade, no sentido da modificação das estruturas com mais árbitras, mais narradoras esportivas, mais comentaristas, dentro desses espaços, proporcionando visibilidade e promovendo a equidade de gênero. Penso ser imprescindível e inegociável todas essas ações para modificar a atual conjuntura e garantir uma real inclusão.

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