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Fundado por um trio de amigos que visa romper as fronteiras da literatura e torná-la mais acessível, avançam mais um passo e lançam um podcast

Imagem: Reprodução/Instagram — @calhamacogoiania

Quando se trata de literatura, há quem diga que não gosta de ler e, por outro lado, há quem seja apaixonado por livros. Mas existe um consenso dos benefícios da leitura, pois com o hábito é possível aprimorar a escrita, aumentar o vocabulário, o leitor consegue ter contato com as diferenças do mundo, melhorar a memória visual e fotográfica.

Tendo em vista a importância desse hábito que vem ficando de lado cada dia mais com os avanços da tecnologia, o trio de amigos Denise da Costa auxiliar administrativa de 37 anos, Sara Helena designer gráfica de 33 anos e o Fernando Aquino jornalista e psicologo com 33 anos, fundaram o clube de literatura em abril de 2018 com a principal ideia de desmistificar a leitura e mostrar que ela pode ser acessível. 

A equipe do LabNotícias entrou em contato com os fundadores do projeto para entender como tudo começou.

LN: De quem surgiu a ideia inicial e qual foi o primeiro livro?

Sara Helena: Comecei a trabalhar na escola de inglês onde a Denise ainda trabalha, e assim que entrei para lá, acho que uma das primeiras palavras que a Denise me perguntou foi se eu lia e aí, a gente começou a conversar sobre isso. Ela me indicando vários livros e eu lendo tudo que ela me indicava, comprando os livros e tudo mais. Aí um belo dia ela saiu para o almoço, nesse intervalo ela lia. Nisso escutou alguma coisa no YouTube, sobre indicação, de criar um clube de livro. E quando voltou para a recepção e falou “Vamos montar um clube do livro?”, falei vamos! Chegamos no Marcos e falamos “A gente vai montar um clube do livro”. E já fiquei toda empolgada. Como sou designer gráfico já falei vou fazer a logo. Criamos um Instagram. E foi assim que começou com nós três em abril de 2018. Só a gente. O primeiro livro foi O Assassinato No Expresso Oriente da Agatha Christie e o encontro foi no Evoé.

LN: E o que vocês tinham em mente que não queriam no clube?

Sara Helena: Falei assim, não quero que seja chato. Porque a primeira menção que a gente tem quando a gente fala de clube de livro é uma galera velha, sentado numa cadeira de corda em casa, tomando chá e falando sobre livro, não quero que seja assim. Eu não quero que seja essa vibe. Então a gente tentava achar lugares para visitar, não só ler o livro, mas conhecer lugares em Goiânia. A gente foi em muitos cafés, em muitos lugares, saíamos para comer, conversar com a leitura. E com isso a gente tentava atrair o máximo de jovens possíveis que a gente conseguia. Ficou assim por um tempo, de lá para cá. Entrou e saiu muita gente.

O ápice de membros do clube

LN: Qual foi o ápice de pessoas no clube?

Denise da Costa: Acho que o ápice da participação do clube foi a pandemia. Com a pandemia a gente deixou de ter encontros presenciais para ter encontros somente online e ao invés de um livro por mês, a gente passou a ler dois livros ao mês. Tínhamos encontros quinzenais e assim, com assiduidade incrível. A gente manteve um ritmo de leitura muito bom, com muitas pessoas participando. Ficamos mais de um ano fazendo assim e foi o que nos ajudou a passar pelo pior período, pelo confinamento, se é que a gente pode dizer que teve. Foi pela parte mais dramática da pandemia. O Clube de Leitura ajudou bastante a gente e consolidou algumas amizades de pessoas que permanecem no clube até hoje.

LN: E hoje em dia como ficaram os encontros?

Denise da Costa: A gente mantém os encontros online. Após a pandemia, quando a vida voltou ao normal, a gente manteve os encontros presenciais, intercalando com os encontros online. Então, porque acabou que temos integrantes que não moram mais em Goiás, que não moram nem mais no Brasil, mas que continuam interagindo com a gente através do WhatsApp e participam de reuniões quando tem a oportunidade das reuniões online também. É uma forma de manter contato com quem passou pela história do Calhamaço.

LN: Qual o principal objetivo do clube?

Denise da Costa: É sair da zona de conforto, conhecer lugares interessantes e falar sobre livro nesses lugares interessantes, mas conhecer pessoas novas, pessoas diferentes e leitores que no geral não tem muito com quem trocar as suas experiências, não tem muito a quem recomendar aquele livro que fica na sua cabeça o mês inteiro e você fica louco para ter alguém que leia também para poder falar sobre. Então essa é a ideia, eu acabei encontrando muita coisa boa nessas indicações e eu acabei saindo muito da zona de conforto e principalmente, e conheci pessoas que hoje eu já não consigo me imaginar sem. Os encontros viraram algo a mais do que só ler um livro ou só ir para um lugar legal. É sobre estar com as pessoas e estar com as pessoas que gostam de ler, sendo um hobby que hoje no Brasil ainda é pouquíssimo falado e existe até uma certa discriminação com relação ao ser leitor. 

LN: Na opinião de vocês, qual a principal importância da leitura na vida dos jovens?

Sara Helena: É que, na verdade, estamos vindo de uma questão onde as pessoas não conseguem interpretar posts na internet porque não tem capacidade interpretativa, discernimento para fazer uma interpretação de texto, para entender um contexto, sabe? Então, isso diferencia o leitor, você consegue discernir um discurso, o que a pessoa quis dizer. É isso que torna o leitor diferente, não é sobre ser mais inteligente ou sobre intelectualidade, você não precisa ler só clássicos para ser leitor. A leitura não precisa ser elitizada. Você pode ler como forma de entretenimento. Você pode ler o livro mais bobo, ao final, vai te deixar com alguma coisa, Ele não precisa ter uma lição de moral. Ele não precisa te dar um ensinamento, mas ele vai te tocar de alguma forma. Acho que esse é o papel do livro, sim.

O podcast

LN: Quando a ideia do podcast se tornou real para vocês?

Fernando Aquino: A ideia do podcast é criar conversa sobre livro, queremos debater em uma mesa, como se estivéssemos em uma mesa de bar, sabe aquelas mesas que tem o símbolo da Skol? Exatamente. A gente quer falar disso de uma forma simples, porque o nosso objetivo é democratizar a leitura. A gente acha que a leitura é um formato muito bom para você criar asas. Só que a gente ficou muito preso em tipos de formatos específicos ou nichos específicos. Então queremos estar lá para falar de tudo, do que gostamos, do que não gostamos. O objetivo do podcast é falar abertamente. E trazermos pessoas que têm visões de mundo diferentes para criar conversas mais legais. 

Participações

LN: E caso alguém tenha se interessado, como pode fazer parte?

Denise da Costa: As pessoas nos encontram pelo Instagram do calhamaço, tentamos alcançar o máximo de pessoas possíveis através das hashtags literárias e no geral as pessoas entram em contato conosco através do Instagram, assim, já adicionamos elas no grupo de WhatsApp e a partir daí ela participa de todas as discussões e conversas do clube.

Sara Helena: E assim, é super democrático em todos os sentidos. A gente coloca em votação os lugares que a gente quer ir, todo mundo vota, escolhe, dá as opiniões. Os livros, do mesmo jeito. Todo mundo dá sua própria opinião, indicação, e colocamos em votação. Por mais que tenha a gente que fundou, a gente não se considera líder. Todo mundo manda. Democracia total.

Fernando Alquino: O que acho mais massa é o nosso tempo, os outros clubes do livro duram pouco tempo e estamos transpondo essa barreira, e não pensamos em parar. Aconteceu totalmente despretensiosamente, somos sem fins lucrativos. Estamos aqui unidos pelo gostar de leitura, e o nosso principal ingrediente é a democracia: todo mundo consegue escolher. O que você quer ler, como você quer ler, enfim, a liberdade. Então é isso, o Clube do Livro é um refúgio que tenho, do dia pesado, do meu dia a dia. É massa. 

Caso queira fazer parte do Calhamaço Clube do livro basta acessar o link abaixo: 

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