Porque a sociedade ainda é preconceituosa

Porque atos de preconceito ainda são comuns nos tempos de hoje
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Entrevista com a Presidente da Comissão da Diversidade Sexual e de Gênero da OAB Goiás, Debora Camargo.

Wagner Lima: Porque até hoje nós vivemos o preconceito e homofobia?

Debora Camargo: Acredito que eu seja a pessoa certa para responder essa pergunta, eu sou advogada e psicóloga, eu acredito que existem alguns motivos para que nós sejamos pessoas preconceituosas, mas talvez o principal motivo, por incrível que pareça e que lamentavelmente nós aprendemos a ser preconceituosos. Isso significa que somos ensinados a ter preconceito, ninguém nasce sendo preconceituoso isso é algo que tem que ficar enraizado na cabeça das pessoas, isso é aprendido no dia a dia, isso é difundido no dia a dia isso é ensinado sistematicamente reiteradamente no dia a dia. Isso começa infelizmente desde muito cedo tá, e acaba se tornando um comportamento social. De tempos em tempos infelizmente politicamente por exemplo, nós temos vieses ideológicos que reiteram esse comportamento preconceituoso, o que eu quero dizer com isso, que aumentam que dogmatizam, porque literalmente reforçam esse comportamento preconceituoso socialmente falando, e ai o ódio prevalece a raiva prevalece e se nos puxarmos na nossa memória a uns dez anos atrás, e eu não estou aqui dizendo que não existia preconceito, mas eu estou aqui dizendo que essa manifestação odiosa como ela tem acontecido nos últimos anos né, ela não estava acontecendo de maneira tão violenta e agressiva como tem acontecido hoje e não estava acontecendo de maneira tão explicita e cada vez mais esdrúxula, porque nós nos desumanizamos, porque nós estamos perdendo o olhar de humanidade para o outro sabe, isso é muito triste independente do outro existir de maneira diferente ele é um ser humano eu acho que o principio básico de convivência social tem que ser esse né, então ninguém tá querendo impor uma regra de conduta para ninguém. 

Wagner Lima: Eu tenho a impressão de que ao longo do nosso processo político nos obtivemos pessoas com o poder político capaz de dar voz e poder a esse discurso contrário. Nós tivemos recentemente duas figuras políticas no Brasil que são trans, e estas pessoas muito influentes, e são políticos. O acesso dessas duas pessoas no universo político que é muito preconceituoso tem trazido mais força para o movimento. 

Debora Camargo: É importante, certamente que sim, eu só queria deixar claro que para essas duas pessoas chegar lá, quantas barreiras precisaram ser vencidas. O que eu quero dizer é, vamos fazer uma comparação muito básica tá, para concorrer com o todo, leva-se em consideração que essas duas pessoas que chegaram lá, são acima da média do acima da média entende, as portas não se abrem para essas pessoas porque elas são boas, as portas se abrem para essas pessoas porque elas são níveis de excelência da excelência certo, então é esse nível social que é exigido de nós para que nós possamos firmar socialmente e termos protagonismo social a nível de sermos reconhecidos pela sociedade. Acredite a sociedade não nos aceita porque ela quer, a sociedade nos aceita porque é simplesmente impossível não nos aceitar, porque o nível de excelência é tão superior que é assim que infelizmente funciona. Nós estamos falando aqui no caso pra denominar pelo que eu compreendi de Erica Hilton e Duda Salabert. 

Wagner Lima: Você em algum momento já pensou em ser político ou ocupar um cargo público que discutisse sobre isso?

Debora Camargo: Nunca me fizeram uma proposta, mas super aceitaria o desafio porque eu acredito que essas possibilidades elas precisam de pessoas que realmente queiram fazer e tenham condições de entregar e principalmente de pessoas que queiram movimentar para que o resultado aconteça mais do que criticar, o que você está disposto a contribuir para melhorar, porque a bem da verdade é muito difícil gerir tudo isso, eu sei que enquanto população do lado de cá é fácil apontar o dedo pro gestor e cobrar, mas também é muito difícil está do lado de lá e gerir toda essa máquina, e é muito mais difícil ainda construir política pública para uma diversidade gigantesca é necessário um hall especifico é necessário boa vontade e construir política  pública para esse público especificamente é difícil porque, porque é necessário que você conheça especificamente essa população. 

Wagner Lima: Quais são os tipos de procura das pessoas tem, como que são esses acessos, chega a ser preocupante?

Debora Camargo: São desafios diários eu acho que primeira coisa eu costumo dizer que existe uma diferença muito grande entre sobreviver e existir , eu preciso específicar para que as pessoas entendam que para uma grande parcela da populaçao LGBT, nos estamos travando uma batalha pra que essas pessoas sobrevivam. O direito de existir e um direito do norte, e uma conquista e algo que nos estamos tentando garantir ou seja e uma batalha para a sobrevivência. Quando essas pessoas chegam até mim, elas chegam com os direitos violados e direitos fundamentais e a minha forma de enfrentamento são todas as possíveis, a nível administrativo, a nível criminal todos possíveis. 

Wagner Lima: O movimento as vezes insiste em ações que parecem desfavorecer essa luta. No seu ponto de vista existe algumas pessoas batendo cabeça?

Debora Camargo: A primeira coisa que eu quero que as pessoas compreenda e que dentro da adversidade não precisa existir consenso, porque na cabeça da grande maioria das pessoas o raciocínio feito é aquele raciocínio cartográfico, existe o norte sul leste e oeste não, existe uma complexidade de coisas entende. A outra questão é agente se faz agente se constrói na diferença, e nem sempre divergir significa brigar eu acho que essa é a grande questão, nós podemos divergir, a uma diferença entre discutir e divergir. Então talvez seria necessário para alguns entes do movimento modular o discurso. Porque no meio do nosso diálogo nós somos atravessados o tempo inteiro por redes sociais, internet, mídia tudo isso vira incógnitas que vão colocando dentro de um caldeirão. Então é necessário um processo de amadurecimento que leva tempo e requer paciência. Eu acredito que chegará o momento em que tudo isso será apaziguado porque as discussões elas vão se elevando na hierarquia e nos vamos chegando nos conselhos e ministérios, aí nos vamos chegando e conseguindo fazer discursões mais robustas e produzidas e eficazes. Então eu entendo que tudo isso é importante até esse processo de discussão barata. 

Wagner Lima: Na sua visão a sua comissão é uma das mais importantes da OAB?

Debora Camargo: Todas as comissões da ordem são importantes óbvio, mas eu acredito que as comissões que tratam de direitos fundamentais de direitos humanos, igualdade racial a comissão de diversidade religiosa, comissão de diversidade sexual e gênero todas essas comissões que tratam dos princípios fundamentais são comissões caríssimas porque tratam do estado democrático de direito. No que diz respeito a pessoalidade do ser humano a comissão de diversidade sexual e gênero da OAB trata de algo fundante da personalidade do ser humano, eu digo isso porque as pessoas tem visão equivocada do termo sexualidade, a sexualidade equilibra todo seu exercício de pessoa , tem mais a ver com você do que com o outro, como você se compreende como você se enxerga como você se v. A sexualidade é muito mais ampla do que essa ideia equivocada que pessoa tem de que ela é algo direcionado e exclusivamente para outro, e a sua construção de identidade. Se você não constrói identidade você sequer se reconhece como pessoa, se você não se reconhece como pessoa você não tem direito aí você vai no código civil artigo primeiro. 

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