Transtorno Bipolar é a segunda causa de suicídios no país

Entenda os panoramas do transtorno mental que acomete 2% da população brasileira, segundo Associação Brasileira de Familiares,Amigos e Portadores de Transtorno Afetivos, ABRATA.
Tempo de leitura: 9 min

Diversos filmes, músicas e séries tentam abordar a questão da bipolaridade em seus enredos, mas, afinal, o que é o Transtorno Bipolar? 

A série Modern Love, da Amazon Prime, no terceiro episódio, retrata o dia a dia da personagem Lexi, a qual é acometida com bipolaridade.  Interpretada por Anne Hathaway, foi um grande sucesso para o debate da doença mental. O episódio, além da maestria da atuação de Hathaway, transmite os desafios enfrentados por pessoas acometidas pelo Transtorno Bipolar, bem como as principais características dos quadros de humor. 

O Transtorno de Humor, o Transtorno Bipolar é uma doença médica com fatores determinantes genéticos[…] Essa doença produz um processo inflamatório do cérebro, e praticamente em todo o corpo. A partir dessas alterações, as quais são genéticas neurormonais estruturais,o indivíduo passa a ter alterações de comportamento, das emoções, da energia e do pensamento, isso levando a uma disfuncionalidade.”, afirma o Presidente do Conselho Científico da ABRATA, médico, Volnei Costa, sobre o Transtorno.

A doença, em dados estatísticos, afeta 2% da população brasileira, segundo o Conselho Científico da, ABRATA. Assim como atinge 140 milhões de pessoas no mundo até 2019. ”É relativamente frequente na população. Dados oficiais ,quando a gente usa alguns critérios, indicam que 1 em cada 50 pessoas ,ou 1 em cada 25 ,na população geral, pode apresentar o Transtorno[…] Mas ao modificar alguns critérios diagnósticos, esse número pode ser bem maior! Possibilitando a identificação de mais casos.”, comenta o Conselho.

imagem que retrata dados quantitativos sobre o Transtorno Bipolar

dados quantitativos que realizam analogias aos dados de Transtorno Bipolar no Brasil

dados que ilustram a quantidade de bipolares no mundo

Tipos de bipolaridade:

O quadro da bipolaridade possui dois tipos:  o tipo 1 de episódios de depressão e  episódios de mania explícitos.

“Existem dois tipos de bipolaridade, a do tipo 1 em que se tem quadros de depressão, mas tem muitos quadros de mania, em que a pessoa fala demais, tem uma energia enorme, pode dormir pouco e mesmo assim acordar com disposição, fazendo com que a pessoa queira abraçar o mundo[…] isso realmente faz com que a atividade cerebral da pessoa fique super estimulada e muitas vezes após o quadro de mania, se não for tratado adequadamente, ela pode se transformar em um episódio depressivo .”,discorre a Vice-presidente da ABRATA, membra voluntária da associação e bipolar, Marta Axthelm.

E a tipo 2, com hipomania, comum em mulheres, o qual caracteriza-se em manifestações de sintomas mais sutis quando comparado à mania, porém com episódios depressivos mais frequentes e acentuados.  O tipo 2, que é o meu caso, você não tem uma mania, você tem uma hipomania! É uma mania mais ‘leve’, e muitos e muitos quartos de depressão.”, continua Marta Axthelm.

Assim, o Transtorno Bipolar é caracterizado pela variação dos dois polos de humor: Mania (ou hipomania) e Depressão. Os polos antagônicos instauram empecilhos na qualidade de vida do bipolar, posto que as formas de manifestação dos quadros são intensas. 

texto de mania e depressão

DIAGNÓSTICO & PRECISÃO

O diagnóstico do transtorno demanda precisão e análises, uma vez que parte de princípios investigativos do histórico do paciente, conversas com pessoas próximas e meses de consultas com especialistas da área. 

” O diagnóstico é clínico, depende de várias entrevistas com um profissional. É através dessas entrevistas que se identifica na história do indivíduo os elementos que façam sugestão do Transtorno Bipolar […] O manual padronizado para o diagnóstico é o Diagnóstico Manual e Estatístico, ele é um livro americano e referência no mundo todo para diagnóstico e psiquiatria. Então, quando você conversa com o indivíduo, é preciso considerar os critérios apresentados pelos pacientes durante a conversa que estão no livro. Uma vez que apresenta critério, você sabe que é Transtorno Bipolar.”, discorre o psiquiatra e estudiosos do assunto, Volnei Costa, sobre a forma de diagnóstico.

Assim, a precisão e dificuldade do diagnóstico demanda tempo. E caso seja feito de maneira equivocada, ou seja, de um modo em que não seja analisado corretamente as delicadezas necessárias, gera-se diagnósticos errôneos. Dessa maneira, a falha no diagnóstico pode expor os pacientes a métodos de tratamento que não são eficazes à bipolaridade, causando até o agravamento do transtorno.

“Isso é muito demorado e a maioria dos profissionais de saúde mental no Brasil não despendem desse tempo para o diagnóstico. Então isso acaba levando a muitos erros diagnósticos, falhando na identificação da bipolaridade. Estatisticamente falando, os textos e os artigos científicos demonstram que em países ricos, com bom sistema de saúde, leva-se em torno de 8 a 10 anos para você diagnosticar o transtorno bipolar. Já em países pobres, como o Brasil, isso pode chegar de 20 a 30 anos para o diagnóstico de Transtorno Bipolar.”, continua o Dr. Volnei Costa.

TRATAMENTOS:

As pessoas com condições mentais, frente aos estigmas associados, demoram a procurar ajuda, dado que ainda é tabu para a maioria o debate acerca do uso de medicamentos e o papel do psicólogo na saúde humana. Porém o quadro da bipolaridade, ao não ser tratado, pode torna-se alarmante por alterar instintos, comportamentos e emoções, agravando a depressão e trazendo riscos de suicídio. 

“Eu gostaria de salientar aqui o risco de suicídio! Os indivíduos bipolares, no episódio depressivo, podem evoluir para uma idealização de plano suicida. Isso é uma emergência psiquiátrica. Outras situações seriam, por exemplo, a pessoa está no episódio maníaco, pode gerar-se estado de psicose, ou seja, ela está com delírios ,com alucinações ,com registro do prejuízo de noção da realidade e isso pode atribuir riscos. Por exemplo, o risco de se expor moralmente, em função dos seus sintomas, ou mesmo ficar muito agressiva,muito agitada.” ,comenta o psiquiatra e especialista em Transtorno Bipolar, Thiago Freire, sobre os riscos da ausência de tratamentos.

Logo, evidencia-se a necessidade de acompanhamentos profissionais a fim de atribuir qualidade e segurança de vida às pessoas que vivem com o transtorno bipolar. A boa adesão ao tratamento, acompanhamento de psiquiatras com experiência nesta área, acompanhamento com psicólogos e uma rotina saudável atribuem qualidade de vida às pessoas que vivem com o transtorno bipolar, levando a doença à remissão e possibilitando uma vida saudável.

“No momento que eu comecei a receber tratamento adequado, eu saio do quadro e me mantenho estável com vários anos sem ter nenhum quadro de depressão, nem nada! Ano passado eu acabei ficando um mês no quadro depressivo, foi bem pontual, mas como fui muito rápida ,eu procurei meu psiquiatra, um especialista excepcional, e ele rapidamente fez um ajuste na medicação e mais um mês e meio eu já estava bem.”, comenta a odontóloga, Marta Axthelm, sobre sua rotina de tratamentos para o Transtorno e a forma que lida com episódios esporádicos de oscilações. 

De fato, o assunto de tratamentos e busca de medicações para cuidados da saúde mental é algo custoso. Isso, definitivamente, é um dos fatores que levam milhões de pessoas a não buscar tratamentos, até mesmo não receberem diagnósticos precisos do Transtorno de Humor. Assim, o Sistema Único de Saúde, SUS, possui políticas públicas de acesso gratuito às medicações, profissionais e diagnósticos para o Transtorno Bipolar.

“A gente tem cobertura em rede pública para Transtorno Bipolar! É muito boa e está presente em praticamente todo território nacional. Inclusive agora em Junho, eu estive presente em Chicago no Congresso sobre o Transtorno Bipolar e teve uma mesa que comparava o sistema de saúde médico do Brasil com outros países da América Latina. O Brasil dá um show de bola na grande cobertura que a gente tem frente aos outros países.”, cita o Dr. Volnei Costa sobre a cobertura do SUS ao Transtorno Bipolar. 

Embora a cobertura seja abrangente, o treinamento dos profissionais ainda é um desafio, considerando a grande demanda e a escassez de profissionais qualificados. Outro ponto é garantir que o sistema de saúde funcione adequadamente, a despeito da boa cobertura, um dos pontos abordados no congresso da Sociedade Internacional do Transtorno Bipolar, em inglês ISBD, conforme relata o Dr. Volnei Costa.

A gente também tem alguns ambulatórios com especialista ,aqui por exemplo,o município de Porto Alegre, isso existe. E aqui também no município, a gente tem as emergências em Saúde Mental, as quais não são uma realidade que existe em todo o país.”, finaliza o Dr. Thiago Freire acerca do cobertura do SUS no Sul do país.

Portanto, o controle da bipolaridade tornará as oscilações imperceptíveis, possibilitando uma vida estável e saudável. 

O transtorno bipolar é uma condição médica crônica, recorrente e episódica, que pode interferir, sem que a pessoa perceba, em diversos aspectos psicológicos, sociais é profissionais. No entanto, com conhecimento e com tratamento correto, as pessoas que convivem com transtorno bipolar podem ter uma vida normal.

Em caso de ajuda, indicações e mais informações acesse ( site da ABRATA)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *