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Nos últimos anos, o mercado de óleos essenciais tem apresentado um crescimento expressivo no Brasil. De acordo com análise feita pelo Comex Stat, a quantidade de óleos essenciais exportados pelo país oscilou na faixa de 25 e 31 mil toneladas ao longo da última década, com exceção do ano de 2020, que registrou um aumento significativo, totalizando 36,6 mil toneladas.
Este aumento pode ser atribuído ao crescente interesse da população mundial pela aromaterapia e os benefícios terapêuticos dos óleos essenciais. Com isso, empresas do setor têm investido em novas tecnologias e em ampliação de sua produção, visando atender à crescente demanda por esses produtos. Além disso, o Brasil se destaca como um dos principais fornecedores mundiais de óleos essenciais, o que reforça o potencial e a relevância deles no mercado nacional.
A população está tendo acesso à informação mais rapidamente, para mais, estamos vivendo em uma sociedade preocupada com a qualidade de vida, o que implica na busca por alternativas naturais. É o que diz a doutora Renata Oliveira, formada em biomedicina pela UESC.
Com o aumento do interesse pelos óleos essenciais, a doutora aconselha que as pessoas estudem previamente qual o uso e a quantidade adequados, pois cada óleo é composto pela essência pura e concentrada de uma substância. O mal uso de uma delas pode causar efeitos indesejáveis ou até mesmo sequelas, como a arritmia.
Para entender o lado de quem faz uso desses produtos com intenções medicamentosas, a equipe do Lab Notícias contatou a analista contábil Vanessa Cristina Lelis da Cunha, de 23 anos, para nos contar como os óleos essenciais passaram a fazer parte da sua rotina. De acordo com Vanessa:
Ao ser questionada se fazia o uso com o acompanhamento de um médico ou especialista, Vanessa negou e disse que ia pela orientação das tias do marido, que haviam usado os mesmos produtos e a indicaram. Nossa equipe também perguntou se as essências passavam segurança ou a certeza de que iriam auxiliar na sua saúde e bem-estar, ao que ela respondeu: “Eu usei o primeiro óleo para dor de cabeça e me passou segurança.”
Aromaterapia é o uso mais seguro dos óleos essenciais?
A aromaterapia é uma prática realizada como terapia complementar ou, a depender do caso, como medicina alternativa, baseada no uso das fragrâncias dos óleos essenciais para promover a saúde e o bem-estar do indivíduo. Mas a aromaterapia pode ser considerada o uso mais seguro dos óleos essenciais?
Para elaborar sobre essa e outras questões, convidamos a psicóloga especializada em aromaterapia Sâmia Maluf, que atua neste mercado há 47 anos e possui uma empresa produtora de óleos essenciais.
Sâmia começa esclarecendo que em uma dosagem segura – que é a de 1 a 4% e não tem ingestão – o uso é seguro, porém, a realidade no Brasil é que as pessoas estão usando a aromaterapia de forma irresponsável e banal. De acordo com a doutora, há quem recomende o uso de 16 gotas de óleo dentro de um aparelho chamado aromastick, o que pode causar queimadura na mucosa nasal dependendo da essência escolhida. E distingue: Não é porque é inalatório que vá ser mais seguro.
“Inalar uma gota num lenço de papel para o momento que você está resfriada ou para uma enxaqueca é um uso seguro. Na hora de dormir, inalar uma gota de lavanda é um uso seguro. Agora, inalar 16 gotas de hortelã pimenta, como estão falando, dar 16 gotas para uma criança não é um uso seguro. Então, tudo depende, [é] um produto, tá? Se você usa uma dosagem errada, ele pode ser um medicamento ou pode ser um veneno. Então, independente da via administrativa, ele pode ser um veneno ou um medicamento, tanto faz. Se você usa de modo inadequado, numa dosagem inadequada, numa prescrição inadequada e não vê condição do interagente (uma criança, um idoso, uma gestante) e não segue as indicações, contraindicações e a dosagem e as interações medicamentosas, qualquer via administrativa pode ser considerada uma prescrição errônea.”
Questionada sobre a ocorrência de acidentes ou reações adversas dentre os seus clientes, e como é feita a monitoria para evitar esses casos, Sâmia esclarece:
“Graças a Deus, eu nunca tive nenhuma reação alérgica, nem nenhuma intoxicação com interagentes meus, porque na verdade eu explico muito bem e faço testes com determinados óleos, como o lemongrass, como o cravo, canela, que tem alguns compostos como o ácido cinâmico, como citral, que têm alguma possibilidade de causar reatividade. E nos meus cursos eu também deixo muito claro quando eu passo todas as fichas técnicas, faço acompanhamento apesar de ser EAD, a gente tem as atividades, os questionários e têm dúvidas de cada módulo, onde além deles terem várias atividades, questionários e terem que responder alguns, fazerem estudo de caso, eu entro todo dia para fazer a mentoria por escrito. Além dos vídeos, eu entro para fazer a mentoria sobre dúvidas.”
A doutora e empresária ainda ressalta que em 25 anos de ‘By Samia’, o atendimento ao público sempre foi valorizado, porque quando se trabalha com pacientes com depressão, síndrome do pânico ou dependência química, não se pode deixar de atendê-los. E discorre: “[…]porque eu sei que é um perigo e infelizmente hoje tem muitas empresas trabalhando com óleos e pessoas não tão éticas.”
Após este comentário de Sâmia sobre a sua e as outras empresas, nossa equipe pediu que a aromaterapeuta explicasse qual era a postura ética seguida pela By Samia – a qual outras produtoras de óleos essenciais talvez também pudessem seguir.
A doutora explicou que em sua empresa existem uma série de diretrizes e procedimentos operacionais padrões, que vão desde a cromatografia do local onde cultivam as matérias-primas à fabricação, manipulação, armazenamento e transporte dos produtos. Porém ressalta, a partir do momento que o produto é vendido a empresa não pode mais garantir que o cliente vá seguir as normas corretamente. E sobre as outras empresas, comenta:
“Agora as outras empresas concorrentes minhas não sei se seguem. A gente tem um custo alto não só pelo óleo de qualidade, mas também pelo número de funcionários e de procedimentos que a gente chama de pop (procedimento operacional padrão) para ser correto. E eu tenho um monte de ‘não conformidade’, porque se dá algum problema no meio do caminho ou se tem algum retorno, alguma reclamação, a gente abre não conformidade. Tudo isso encarece o produto né, eu tenho um concorrente meu que ele vende – se eu vendo uma lavanda por 52 esse meu concorrente vende a 26 – eu não tenho nem isso de preço de custo, a lucratividade do meu produto não chega a 6% que volta para a empresa né (líquido). Então é no caso da empresa é assim, a gente trabalha trocando seis por meia dúzia, mas é uma questão de ética.”
Em todo o caso, existe um debate sobre os óleos essenciais. Há quem discorra os motivos pelos quais eles são benéficos, e há quem relacione esses motivos aos famosos efeitos placebos. Sobre essa questão, a biomédica Dra Renata Oliveira ilustra que na medicina convencional os placebos possuem uma maior aceitação mesmo sem apossarem de substâncias necessárias, por outro lado, na medicina alternativa a ineficácia deles é ressaltada. Isso se dá porque o meio [da medicina] pede dados quantitativos e não qualitativos para comprovação.
Nota: [A cromatografia é uma técnica utilizada para a análise, identificação e separação dos componentes de uma mistura. Fonte: UFJF]