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“Na vida moderna, tocamos mais em plástico do que em nossos entes queridos”, é o que diz o Atlas do plástico, da Fundação Heinrich Boll. O plástico barato (e quase sempre descartável) que usamos todos os dias está sendo incansavelmente fabricado. É difícil pensar em alternativas quando vivemos em uma realidade em que este foi o material mais produzido no mundo nos últimos 65 anos. Em uma perspectiva otimista e quase distópica para o cenário atual, existem os que estão na vanguarda da mudança.
O plástico de uso único é um enorme problema, segundo dados do relatório “Plástico de uso único no Brasil: contexto e impactos ambientais”, produzido pela Universidade Federal de São Paulo, em 2019, 35% de todo o plástico produzido no Brasil foi de uso único. Ele gera lixo como nenhum outro e seu principal uso são as embalagens de alimentos. Os novos hábitos de consumo e a normalização do “pedir comida” ou mesmo “comer fora de casa” constituem as novas práticas deste novo mundo cada vez mais frenético e inconsequente.
Ainda segundo a Fundação Heinrich Boll, “só no Brasil, são mais de 11 milhões de toneladas de plástico, o que coloca o país como quarto maior produtor de lixo plástico no mundo”. O plástico não é biodegradável, de acordo com o doutor em Ciência e Engenharia de Materiais, Alfredo Sena Neto, o microplástico é uma forma menor dos elementos plásticos, e existe por causa do descarte inadequado que gera partículas que vão parar no meio ambiente: nos solos, nos meios aquáticos, no ar, nos organismos e microrganismos.
Iniciativa internacional
Em 2025, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) lançou um plano internacional voltado à redução do consumo de plásticos descartáveis no setor HoReCa — que engloba hotéis, restaurantes e cafés. A iniciativa, que conta com um investimento de R$ 9 milhões para o Brasil, será implementada, inicialmente, em cinco cidades costeiras: Belém (PA), Salvador (BA), Santos (SP), Florianópolis (SC) e Rio de Janeiro (RJ); além de São Paulo (SP).
O plano prevê a definição de metas progressivas para a diminuição do uso de plásticos, além da realização de campanhas educativas direcionadas tanto aos gestores quanto aos consumidores. A estratégia inclui a criação de parcerias com empresas do setor, o desenvolvimento de linhas de crédito e incentivos fiscais para estabelecimentos que adotarem práticas mais sustentáveis, e a implementação de um sistema de monitoramento para acompanhar os resultados. Relatórios periódicos serão divulgados para avaliar o impacto das ações e orientar possíveis ajustes, reforçando o compromisso do Brasil com a sustentabilidade e a redução dos resíduos plásticos no ambiente urbano e turístico.
Palha de milho?
A empresa GrowPack foi criada com um propósito ambicioso: ser plásticos sem plástico. Para o co-fundador, Ezequiel Bunge Berg, a alternativa igualmente funcional e eficiente, sem os malefícios do plástico já existe, é a palha de milho, uma tecnologia 100% nacional. Essa biomassa excedente pode se transformar em embalagens resistentes, facilmente recicláveis e compostáveis. Além disso, utilizam 80% menos água e emissões comparadas ao papelão, o que as fazem superar soluções tradicionais baseadas em fibras, tanto em sustentabilidade quanto em preço.
No Brasil, seu impacto foi potencializado pela parceria com o Ifood. No Relatório de Sustentabilidade 2022/23 do Ifood, a empresa menciona que já investiu mais de R$500 mil reais na GrowPack e, com isso, conseguiu expandir as operações e diminuir o custo médio por embalagem, que hoje já se assemelha a que é produzida com plástico tradicional. As embalagens da GrowPack se destacam por possibilitar o uso com alimentos úmidos e secos, poderem ir ao forno e possuírem ótima vedação.
Em Goiânia…
Em Goiânia, empresas que adotam práticas sustentáveis recebem o reconhecimento da Agência Municipal do Meio Ambiente – AMMA. Em entrevista, Ravena Borges, gerente de Formulação de Educação, Política e Pesquisas Ambientais, explica que, dentre as 29 práticas que o empreendimento pode desenvolver em seu espaço físico para obter um dos selos, não há uma exclusiva para empresas zero plástico. Especialmente porque em alguns ramos essa prática não é possível, mas que “nada impede que o empreendimento que desenvolva alguma prática que não está lá apresente essa prática como uma inovação”, explica Borges.
E dá pra usar mesmo?
Ludimila Silveira conta que considerou o alinhamento de valores de sua empresa com suas práticas e percebeu que o plástico não deveria ter espaço “vem com essa intenção de alinhar os valores da empresa com compromisso, com a ética, com a proteção da terra e dos seres vivos”, relata Ludimila. Ela é proprietária do “Vaca, Comida Vegana”, um estabelecimento que serve alimentos de origem 100% vegetal.
A empresária também compartilha que seus clientes abraçaram a mudança e se adaptaram: “Eu falo de veganismo, de uma forma diferente de lidar com os animais e com o planeta, então acaba que eu preciso estar de acordo com isso”. Os feedbacks de clientes são um grande indicador de satisfação, eles ressaltam o diferencial do negócio e o interesse despertado pelas embalagens. Apesar disso, Ludmila conta que o acesso a essas embalagens não é fácil, precisa procurar bastante, em especial porque o custo costuma ser mais elevado que o das embalagens tradicionais.
Fécula de mandioca?
Uma das embalagens utilizadas por Ludimila é de fécula de mandioca. Seu maior diferencial? É comestível! As empresas Oka bioembalagens e Já fui Mandioca utilizam a fécula para criar potes, marmitas e copos que se degradam completamente em até 90 dias. O estudante e pesquisador Victor Arantes já provou as embalagens comestíveis e declara que o sabor é semelhante à de uma tapioca, mas sem sal, e ela absorve o gosto do alimento que foi servido.
Existe uma lei municipal que prevê a substituição de embalagens plásticas convencionais por congêneres biodegradáveis desde 2018. De autoria da vereadora Sabrina Garcêz, a lei foi aprovada por unanimidade pelos membros da Comissão de Constituição, Justiça e Redação e visa poupar recursos naturais utilizando sacolas reutilizáveis. Na defesa da proposta, a vereadora argumentou que “cerca de 80% das embalagens são descartadas após usadas apenas uma vez” e sem reciclagem adequada este lixo ajuda a superlotar os aterros e lixões, exigindo novas áreas de depósito para o lixo gerado.
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No Brasil todo, já há ao menos 214 leis municipais e estaduais a respeito do plástico de uso único, quase três quartos delas focadas em canudos, copos e produtos plásticos similares. Esses dados são de 2022, apresentados pela ICIS no estudo Single-use plastic in Brazil: policies and laws, elaborado por pesquisadores da Universidade de São Paulo.
Sistema B Brasil
Uma certificação nacional que promove a sustentabilidade de empresas e também se preocupa com o lixo gerado é o Sistema B Brasil, que em 2022, celebrou a marca de 5 mil Empresas B espalhadas pelo mundo. Empresas B certificadas equilibram sucesso financeiro, bem-estar social e ambiental. A Já Fui Mandioca é certificada desde 2016 e mantém o propósito de tentar copiar a embalagem mais perfeita que existe, segundo a própria empresa, “a embalagem de uma fruta”.
Farelo de trigo?
Outra empresa inovadora é a Orquidea Alimentos, que, em 2019, deu um passo importante em direção à sustentabilidade quando transformou o farelo de trigo em embalagens biodegradáveis. A ideia, sugerida por um funcionário, foi encampada pela empresa e levada adiante por Nei Antônio Marquetti, supervisor industrial da unidade de Bento Gonçalves. O processo de produção, que consiste em misturar farelo de trigo com água em uma máquina, seguida de secagem em forno, exigiu o desenvolvimento de uma tecnologia específica e superou desafios, já que não existia no mercado nada similar ao produto criado. Hoje, a linha Orquídea Eco oferece potes biodegradáveis, que se desintegram em até 45 dias e são utilizados em diversas sorveterias e estabelecimentos.
