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Nesta reportagem da série As vidas por trás dos números da covid-19 você vai conhecera história da Graça Nascimento, uma médica que sempre quis salvar vidas, foi assim que nasceu o amor pela medicina. E por coincidência, também encontrou na amada profissão, o amor de sua vida. Fernando Donizetti Alves, de 65 anos. Foram 12 anos de muito amor, tanto que uniu duas famílias , ambos já tiveram outro relacionamento, com filhos, não era o primeiro casamento, mas era o amor que sempre foi esperado por cada um, como conta Graça. Para acolher a todos, a casa foi ampliada. Fernando tinha 3 filhos e um neto, já Graça tem 2 filhos e 3 netos.
Quando a covid-19 chegou ao Brasil, e ao mundo, a grande dúvida para os profissionais de saúde era como o vírus agia. Inicialmente, só sabiam como a contaminação ocorria, mas não o que prescrever e como tratar os casos. Quando foi possível identificar que pessoas com comorbidades resistiam menos que pessoas sem comorbidades, iniciaram um processo de isolamento ou quarentena como muitos chamaram na época para pessoas com perigo maior de perderem a vida.
O amor pela medicina
Graça e Fernando se contaminaram trabalhando, atuando diretamente na linha de frente da covid-19. Foram afastados do trabalho por conta da contaminação, mas ela se recupuperou. Já Fernando foi piorando dia após dia, o quadro não apresentava nenhum tipo de melhora, até que foi necessário ser levado para a UTI (Unidade de Terapia Intensiva).
O caso dele foi analisado por diversos médicos, nenhum entendia o porquê da piora no quadro de saúde, uma vez que não possuía nenhuma comorbidade. Ela portadora de asma, ele, com a saúde sem nenhuma doença, mas a covid-19 tirou Fernando de Graça. Foram 14 dias de internação, a saturação do pulmão variava, ora boa, ora muito ruim. Inicialmente atingiu cerca de 40% do pulmão e depois 70%. Era o início da despedida de Fernando, um jovem médico que dedicou a vida à profissão e morreu salvando vidas dentro de um hospital.
Um amor e duas famílias
“Fernando amava tanto a nossa família que construiu diversos quartos pelo apartamento. Ao todo, fez 6 suítes na casa. Cada um dos filhos possuía o seu espaço, era a grande preocupação dele que era arquiteto, além da formação de médico, amava cuidar de todos, para ele, isso era a maior paixão. Aqui só resta muita saudade.”
Graça faz questão de contar que sempre viajavam para Caldas Novas, possuíam um flat na cidade. Os finais de semana que não estavam de plantão eram os momentos ideais para se reunirem e fazerem o que amam. Tomavam uma, duas, e/ou várias taças de vinho durante a noite enquanto observavam o céu.
Hoje, ela conta que há uma cicatriz que não está curada dentro de si. E que a cada vida perdida para à covid-19 retorna o sentimento dentro de si de dor por ela e pelas famílias.
Fernando morreu no dia 31 de julho de 2020 às 2 horas da tarde, numa sexta-feira de muito sol, quando a vida de toda a família mudou para sempre. Graça conta que ficou muito fragilizada pela despedida que não pode acontecer. Não pela carga de trabalho, que aumentou assustadoramente após o início da pandemia, mas pelo peso da situação e a necessidade de despedir do homem que ela mais amou.
“Eu tenho uma ferida que ainda não está cicatrizada. Cada vez que me deparo com uma perda de pacientes para Covid, ela volta a sangrar . Além de sofrer pela partida das pessoas, sofro com quem se recusa a tomar à vacina. Tantos gostariam de ter essa oportunidade e muitos recusam.”
Como despedir-se de quem amamos não é uma tarefa fácil, produzimos um conteúdo audiovisual com uma entrevista exclusiva com a psicóloga Andressa Moura, que explica como enfrentar o luto provocado pelas mortes decorrentes da covid-19.
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Escrito por Sinval Lopes e Raiane Silva, em 10/03/2022 às 22h07
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