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Nesta reportagem da série As vidas por trás dos números da covid-19 você vai conhecer a história do seu Lázaro Calazenço, de 66 anos era uma pessoa feliz, amava passear pela cidade de Guapó, onde morava. A rotina começava logo cedo, por volta de 5 da manhã todos os dias. Reunir a família aos finais de semana era o programa obrigatório para todos. O maior tesouro dele era a pequena Ana Gabrielly, que não era só mais uma neta, era a caçula da casa. Foi morar com eles ainda muito cedo, com apenas 9 meses de vida. No dia 11 de Março deste ano, ela completa 11 anos e na mesma data, completa um ano que Lázaro morreu em decorrência das consequências da covid-19.
Primeiros Sintomas da Covid-19
Foi numa quinta-feira, 4 de Março de 2021 quando Lázaro começou a sentir febre e perder o olfato. Era o início da luta final pela vida. E olha que de luta ele entendia, há 18 anos fazia hemodiálise, tinha diabetes, era hipertenso, problemas no coração. Leonardo, o filho que fez a declaração inserida no título desta reportagem o levou para o ambulatório em Guapó. Chegando lá, a saturação do sangue estava em 50%, muito abaixo do necessário para sobreviver. Em três dias o caso foi piorando, o momento mais temido chegou, a intubação. Eles sabiam que se de fato isso acontecesse, a possibilidade de sobreviver era pequena demais.
“Nos entramos em pânico vendo aquela quantidade de mortes diárias na TV, quando ele foi entubado, já estávamos cientes do que poderia acontecer. ’’
O desespero por uma UTI
Em Março de 2021, segundo a Fiocruz, o país passava pela maior crise sanitária e hospitalar da história. Justamente neste momento foi que o Lázaro precisou de uma vaga na UTI. Para se ter uma ideia, São Paulo, que é o estado mais preparado para uma situação destas, registrou 135 mortes de pessoas que aguardavam por um leito de UTI.
Em Goiás não havia vagas de UTI, foi necessário buscar uma fora do estado. A tão esperada vaga surgiu na cidade de Mineiros, a 390 km de onde ele estava. De acordo com os médicos, a transferência não seria possível, não teria como aguentar uma viagem tão longa.
A despedida que não pode acontecer
No dia 11 de março, às 3 horas da manhã a vida da família Calazenço mudou para sempre. Uma ligação para o irmão de Leonardo mudou a vida de todos. Era a equipe médica informando que fizeram o possível, mas que não conseguiram salvar a vida dele.
“Eu perdi o chão, perdi o meu motivo de viver, meu pai foi a pessoa que mais me incentivou na vida. Meu pai foi meu exemplo em tudo.”
Leonardo destaca que o pior de tudo isso foi a impossibilidade de não poderem se despedir de forma humana. Os protocolos sanitários impediam a realização de velórios, os caixões deveriam ser lacrados. A morte aconteceu às três da madrugada, e às sete da manhã o corpo era enterrado.
“Você não poder ver o seu pai é desumano, não poder olhar no rosto da pessoa que você tanto amo e não poder se despedir. Saber que o corpo está ali encoberto de insufilm, isso indigna todos. Até hoje dói essa despedida que não pode acontecer”
Leonardo conta que o pai sempre foi muito conhecido na cidade e que caso o velório tivesse sido feito, teria reunido muitas pessoas. Para trás ficou Leonardo, a mãe, e os três irmãos que buscam forças uns nos outros para enfrentar o primeiro ano longe daquele que era a base para ele.
Lázaro não pode se vacinar, no mês em que ele morreu, o calendário vacinal do PNI (Programa Nacional de Imunização) era voltado para profissionais da saúde, pessoas com comorbidades não tinham direito à vacina, mesmo correndo risco de vida. Para Leonardo, o mais triste de tudo isso é saber que o governo federal poderia ter comprado as vacinas, mas não o fez.
Como despedir-se de quem amamos não é uma tarefa fácil, produzimos um conteúdo audiovisual com uma entrevista exclusiva com a psicóloga Andressa Moura, que explica como enfrentar o luto provocado pelas mortes decorrentes da covid-19.
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A gente nunca imagina isso, meu pai era meu exemplo
Confira os bastidores desta série de reportagens
Escrito por Sinval Lopes, em 08/03/2022 às 00:15
[…] Um ano sem o meu maior motivo de viver […]